São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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Ciclo reconstitui história da monarquia francesa

Filmes dialogam com obras expostas na Pinacoteca

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Com sua vocação para o realismo e, em parte, para o naturalismo, o cinema se tornou desde suas origens o lugar privilegiado de reconstituições históricas, antes atribuição quase exclusiva da pintura.
Essa mutação fica evidente no ciclo "Versalhes - Da Monarquia à Revolução", que acontece de hoje até domingo na Cinemateca Brasileira, em SP (veja no quadro acima destaques da programação).
Os oito filmes selecionados visam dialogar com as obras trazidas para a exposição "Imagens do Soberano - Acervo do Palácio de Versalhes", em cartaz na Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844, R$ 4).
Mas, como se pode constatar nos tesouros expostos na Pinacoteca, o cinema também reconstitui e simula em fidelidade, para, ao mesmo tempo, subverter, ultrapassar os fatos em direção a seu potencial simbólico ou expressivo.
Dos filmes selecionados, dois títulos se atêm mais estreitamente à intenção de reconstituir e, por isso mesmo, guardam interesse limitado a seu apelo histórico. "Se Versalhes Falasse" e "Maria Antonieta, Rainha da França", dirigidos por Sacha Guitry e Jean Dellanoy, respectivamente, têm como principal ambição reproduzir com imagens fastuosas a grandeza de um período. O resultado, porém, é equivalente a um livro de imagens belas, mas vazias de sentido.
Outros filmes da mostra não descuidam da riqueza da encenação e da reconstituição de época, porém o fazem em busca de reinterpretações mais estimulantes.
As duas obras mais estimulantes são "A Marselhesa", dirigida por Jean Renoir, e "Casanova e a Revolução", de Ettore Scola. Ambos fazem do cinema uma ferramenta de indagação política.
O primeiro, ao restituir o lugar de protagonista aos sujeitos que derrubaram um regime absolutista que havia rompido há séculos o ideal coletivo do estado para explorar o poder exclusivamente em benefício próprio. O segundo, dando asas à imaginação ao inventar a convivência do conquistador italiano com figuras emblemáticas da corte francesa e, assim, conseguindo simbolizar as idéias e ideais de uma época.
De outro modo, não menos interessante, a "Maria Antonieta" de Sofia Coppola lança mão da personagem histórica para reiterar que a futilidade e a superfluidade daqueles tempos voltaram a reinar no sentido absoluto.


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