|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ciclo reconstitui história da monarquia francesa
Filmes dialogam com obras expostas na Pinacoteca
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Com sua vocação para o realismo e, em parte, para o naturalismo, o cinema se tornou
desde suas origens o lugar privilegiado de reconstituições
históricas, antes atribuição
quase exclusiva da pintura.
Essa mutação fica evidente
no ciclo "Versalhes - Da Monarquia à Revolução", que
acontece de hoje até domingo
na Cinemateca Brasileira, em
SP (veja no quadro acima destaques da programação).
Os oito filmes selecionados
visam dialogar com as obras
trazidas para a exposição "Imagens do Soberano - Acervo do
Palácio de Versalhes", em cartaz na Pinacoteca do Estado
(pça. da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844, R$ 4).
Mas, como se pode constatar
nos tesouros expostos na Pinacoteca, o cinema também reconstitui e simula em fidelidade, para, ao mesmo tempo, subverter, ultrapassar os fatos em
direção a seu potencial simbólico ou expressivo.
Dos filmes selecionados, dois
títulos se atêm mais estreitamente à intenção de reconstituir e, por isso mesmo, guardam interesse limitado a seu
apelo histórico. "Se Versalhes
Falasse" e "Maria Antonieta,
Rainha da França", dirigidos
por Sacha Guitry e Jean
Dellanoy, respectivamente,
têm como principal ambição
reproduzir com imagens fastuosas a grandeza de um período. O resultado, porém, é equivalente a um livro de imagens
belas, mas vazias de sentido.
Outros filmes da mostra não
descuidam da riqueza da encenação e da reconstituição de
época, porém o fazem em
busca de reinterpretações mais
estimulantes.
As duas obras mais estimulantes são "A Marselhesa",
dirigida por Jean Renoir, e "Casanova e a Revolução", de
Ettore Scola. Ambos fazem do
cinema uma ferramenta de indagação política.
O primeiro, ao restituir o lugar de protagonista aos sujeitos
que derrubaram um regime absolutista que havia rompido há
séculos o ideal coletivo do estado para explorar o poder exclusivamente em benefício próprio. O segundo, dando asas à
imaginação ao inventar a convivência do conquistador italiano com figuras emblemáticas
da corte francesa e, assim, conseguindo simbolizar as idéias e
ideais de uma época.
De outro modo, não menos
interessante, a "Maria Antonieta" de Sofia Coppola lança
mão da personagem histórica
para reiterar que a futilidade
e a superfluidade daqueles
tempos voltaram a reinar no
sentido absoluto.
Texto Anterior: Crítica/"Harry Potter e a Ordem da Fênix": Jovem bruxo retorna ainda mais sombrio Próximo Texto: Roskilde se rende ao Arctic Monkeys Índice
|