|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA ROMANCE
Autora narra racismo com doses de ousadia e conformismo
BIA ABRAMO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
De que matéria são feitos
os best-sellers?
O livro que capturaa imaginação de milhões de pessoas sempre parece conter
uma espécie de mistério: por
que a leitura desta obra se
torna obrigatória, enquanto
outros tantos livros não merecem nem mesmo um olhar
nas livrarias?
"To Kill a Mockinbird", ou
"O Sol É para Todos", responde ao menos à primeira
vista essa pergunta: trata-se
de capturar uma questão latente no imaginário coletivo
de uma época e processá-la
com doses bem equilibradas
de ousadia e conformismo.
Nos anos 60, no bojo da luta pelos direitos civis, a notoriedade do único romance de
Harper Lee se fez com sua
abordagem a um tempo corajosa e cautelosa do racismo.
Voltando para o Alabama
dos anos 30, remonta a história do julgamento de um estupro de uma mulher branca
atribuído a um negro.
No centro, Atticus Finch,
um advogado reto e habilidoso com as palavras, defenderá Tom Robinson e terá de
dobrar suas noções de justiça
aos preconceitos locais.
Caiu como luva para certa
sensibilidade que se formava
em torno da questão racial e
que ia ganhando espaço no
debate público.
Os abusos e as iniquidades, prudentemente localizadas no Sul atrasado e devastado pela miséria do período
da Depressão, deveriam ser
corrigidos pela aplicação
correta da lei e pela ampliação do ideal democrático (daí
o título em português).
A ótima versão cinematográfica do romance, de 1962,
traz um Atticus Finch, interpretado por Gregory Peck,
com estatura daquele herói
típico do cinema norte-americano: o homem comum capaz de lutar individual e solitariamente contra tudo e
contra todos.
EDUCAÇÃO MORAL
Se a coragem do romance
continua sendo encantadora, na mesma medida pode-se pensar que a cautela e prudência são também decisivas
para o seu sucesso.
Construída a partir das reminiscências argutas da filha
mais nova de Atticus, a narrativa acaba por se constituir
numa educação moral e cívica da conformidade.
Afinal, qualquer discussão
mais ampla sobre racismo,
nos EUA, não comportava
muita reflexão histórica -a
desigualdade entre negros e
brancos estava lá desde sempre; tratava-se apenas de
aparar os excessos e se acautelar contra o pior.
Da questão racial em "O
Sol É Para Todos" à sexualidade adolescente na saga
"Crepúsculo", o best-seller
parece ser uma espécie de
pedagogia do conformismo.
O SOL É PARA TODOS
AUTORA Harper Lee
TRADUÇÃO Maria Apparecida Rego
EDITORA José Olympio
QUANTO R$ 40 (364 págs.)
AVALIAÇÃO bom
Texto Anterior: Livros: Traumas de infância marcam "O Livro" Próximo Texto: Frases Índice
|