São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010

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CRÍTICA MUSICAL

Obra explora paradigmas do feminino

Em "O Médico e o Monstro", mulheres sentem-se vingadas e homens, redimidos

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

Cai então uma chuva torrencial sobre o palco. O público delira. Musicais "made in Broadway" são assim: num dado momento, tomba um candelabro gigante sobre a plateia ("O Fantasma da Ópera"); em outro, um helicóptero invade a cena ("Miss Saigon"). São momentos extáticos do kitsch.
Cai a chuva no musical "Jekyll & Hyde - O Médico e o Monstro", que pre-estreou na quinta em São Paulo. Num lado do palco, canta a noiva Emma, loira, puritana. Do outro lado, canta a puta Lucy, morena, devassa.
São como paradigmas do Feminino, no esquematismo da cena. Como todas as mulheres, estão apaixonadas. Aqui, pelo mesmo homem, o belo e generoso dr. Jekyll.
Ocorre, porém, que Jekyll é também o senhor Hyde, sujeito cruel e imoral no qual o médico se transforma ao beber uma poção vermelha como a libido.
Na novela de Stevenson a personalidade dupla de Jekyll-Hide gerava sobretudo uma tragédia íntima. No teatro, torna-se também um drama pré-conjugal.
O ajuste narrativo livra a história original de seus labirintos psicológicos e filosóficos e a transforma num eficaz melodrama sobre a punição de um celibatário perverso -eis a substância "inconsciente" do musical.
Transformado em Hyde, o médico deixa o bom-mocismo e vira um monstro luxurioso e violento nas ruas e alcovas escuras de Londres. Vira também assassino, e a história de fato vai acabar mal.
Não devo contar o epílogo, mas aviso que o melodrama termina numa retumbante catarse antinupcial, com Hyde escapando, na boca do altar, in extremis, das saias casadoiras de Emma.
Na plateia, as mulheres se julgam vingadas, os homens redimidos -e todos saem felizes, de braços dados.


JEKYLL & HYDE - O MÉDICO E O MONSTRO

QUANDO qui., às 21h; sex. às 21h30; sáb., às 17h e às 21h; dom., às 18h; até 18/10
ONDE teatro Bradesco (r. Turiassú, 2.100, tel. 0/xx/11/3670-4141)
QUANTO R$ 40 a R$ 190
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom



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