|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA MUSICAL
Obra explora paradigmas do feminino
Em "O Médico e o Monstro", mulheres
sentem-se vingadas e homens, redimidos
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
Cai então uma chuva torrencial sobre o palco. O público delira. Musicais "made
in Broadway" são assim:
num dado momento, tomba
um candelabro gigante sobre
a plateia ("O Fantasma da
Ópera"); em outro, um helicóptero invade a cena ("Miss
Saigon"). São momentos extáticos do kitsch.
Cai a chuva no musical
"Jekyll & Hyde - O Médico e o
Monstro", que pre-estreou na
quinta em São Paulo. Num
lado do palco, canta a noiva
Emma, loira, puritana. Do
outro lado, canta a puta
Lucy, morena, devassa.
São como paradigmas do
Feminino, no esquematismo
da cena. Como todas as mulheres, estão apaixonadas.
Aqui, pelo mesmo homem, o
belo e generoso dr. Jekyll.
Ocorre, porém, que Jekyll é
também o senhor Hyde, sujeito cruel e imoral no qual o
médico se transforma ao beber uma poção vermelha como a libido.
Na novela de Stevenson a
personalidade dupla de
Jekyll-Hide gerava sobretudo
uma tragédia íntima. No teatro, torna-se também um drama pré-conjugal.
O ajuste narrativo livra a
história original de seus labirintos psicológicos e filosóficos e a transforma num eficaz melodrama sobre a punição de um celibatário perverso -eis a substância "inconsciente" do musical.
Transformado em Hyde, o
médico deixa o bom-mocismo e vira um monstro luxurioso e violento nas ruas e alcovas escuras de Londres. Vira também assassino, e a história de fato vai acabar mal.
Não devo contar o epílogo,
mas aviso que o melodrama
termina numa retumbante
catarse antinupcial, com
Hyde escapando, na boca do
altar, in extremis, das saias
casadoiras de Emma.
Na plateia, as mulheres se
julgam vingadas, os homens
redimidos -e todos saem felizes, de braços dados.
JEKYLL & HYDE -
O MÉDICO E O MONSTRO
QUANDO qui., às 21h; sex. às
21h30; sáb., às 17h e às 21h;
dom., às 18h; até 18/10
ONDE teatro Bradesco
(r. Turiassú, 2.100,
tel. 0/xx/11/3670-4141)
QUANTO R$ 40 a R$ 190
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom
Texto Anterior: Raio-x: Haper Lee Próximo Texto: Peça tem direção previsível e figurino primoroso Índice
|