|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA DRAMA
"Tríptico" indica com vigor os caminhos futuros do teatro
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Dramas não dramáticos
para reinventar o teatro. As
peças de Richard Maxwell
que integram a série de espetáculos "Tríptico" convergem com o projeto que Roberto Alvim desenvolve desde 2008 no seu Club Noir.
Ambos os artistas têm em
comum, além de serem dramaturgos e encenadores, a
recusa a uma teatralidade
convencional.
Maxwell é hoje, talvez, o
mais radical dramaturgo norte-americano e um dos mais
inventivos do mundo. Com
sua companhia, a New York
City Players, já encenou em
diversos países 18 de seus
textos, desde 1996.
Na contramão da tradição
dramática que quer reproduzir a vida real no palco, ele
crê que a realidade da cena é
insubstituível. Ou seja, o que
é real é a encenação.
Alvim compartilha essa
curiosidade pelas potências
ignotas da cena. Nos seus últimos trabalhos já vinha utilizando, por exemplo, cada
vez menos luz e movimento.
Agora, com essas três peças, ele avança nessa investigação, respondendo ao sistema dramatúrgico desenvolvido por Maxwell com um
modelo próprio e característico de encenar.
As montagens podem ser
assistidas em qualquer ordem, mas têm em comum
uma combinação de opacidade dramática e verticalidade dos conteúdos que emanam dos textos.
No primeiro, "Burger
King", o ambiente é uma lanchonete; no segundo, "Casa", um núcleo familiar de
classe média; e no terceiro,
"O Fim da Realidade", uma
empresa de segurança.
Nos três casos, esses universos habitualmente tratados dramaticamente com clichês e personagens rasos,
reaparecem transfigurados,
revelando relações densas
que os padrões de tratamento do realismo psicológico jamais alcançariam.
Essa característica da dramaturgia de Maxwell -como
um Beckett que, abandonando as abstrações, voltasse ao
cotidiano- é incorporada e
amplificada pelo minimalismo da encenação de Alvim.
Uma sintaxe de poucos e
nítidos movimentos com iluminação mínima e fria, alternados por escuros totais e
pontuados por irônicos micromomentos musicais.
Também convergentes são
os estilos de interpretação
dos atores, tanto os da companhia de Maxwell como os
dos espetáculos do Club
Noir. Eles são, ao mesmo
tempo, naturais e contidos,
maquinais e intensos, sem
ênfase e agudos, e cumprem
rigorosa partitura, que serve
ao conjunto com eficácia.
"Tríptico" não deve arrebatar as massas, mas indica
com argúcia e vigor raros no
panorama atual os caminhos
futuros do teatro.
TRÍPTICO
QUANDO sex., às 21h ("Burger
King"), sáb., às 21h h ("Casa"), e
dom., às 20h ("O Fim da
Realidade"); até 26/9
ONDE Club Noir (r. Augusta, 331,
tel. 0/xx/11/ 3255-8448)
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ótimo
Texto Anterior: Peça tem direção previsível e figurino primoroso Próximo Texto: FOLHA.com Índice
|