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CRÍTICA ERUDITO
Maria João e Antônio Meneses encantam em duo estupendo
Um dos mais aguardados do festival, encontro de
pianista e violoncelista teve refinamento e alta técnica
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM CAMPOS DO JORDÃO
Tudo era para dar apenas
certo no encontro entre o violoncelista pernambucano
Antônio Meneses e a pianista
portuguesa Maria João Pires,
anteontem, no 41º Festival
de Inverno de Campos do Jordão. E foi melhor que isso, de
um modo estupendo.
Os dois músicos dialogaram em duas das cinco sonatas para piano e violoncelo
de Beethoven (1770-1827) e
construíram um sólido castelo de sutilezas musicais.
Na primeira delas (nº 2),
Maria João mergulhou na
discrição, diante da preferência do compositor em dar ao
violoncelo a preponderância
na apresentação dos temas.
Meneses deu ao arco quatro
ou cinco pesos diferentes ao
longo dos primeiros quatro
ou cinco compassos.
Mas o jogo logo se equilibrou. A tonalidade sombria
dá lugar a um alegre rondó final, que os músicos dividiam
por meio de uma espécie de
lealdade ao classicismo de
Mozart e Haydn.
A segunda sonata (nº 3) foi
marcada por um diálogo
ponderado. Entre as duas peças, de 1796 e 1808, surgiram
em Beethoven novas exigências harmônicas e uma nova
expressividade.
O músico brasileiro e sua
parceira portuguesa ainda
apresentaram, cada um,
uma peça solo. Para Maria
João coube a "Sonata nº 17"
("A Tempestade"), escrita em
1802 também por Beethoven.
Algo muito sério ocorreu
naquele momento em Campos do Jordão. Só entenderia
Beethoven daquela forma
mais leve quem tivesse se notabilizado, e era o seu caso,
como uma das maiores intérpretes ainda vivas das sonatas de Mozart.
TÉCNICA PURA
Com extrema clareza nos
fraseados, os dedos da pianista passeavam pelo teclado
sem nenhuma ênfase sentimental. Era técnica pura,
com pouco pedal direito. Meneses interpretou a nº 3 das
seis "Suítes para Violoncelo
Solo", de Bach (1685-1750).
O violoncelista, que fez em
2004 uma gravação integral
dessas peças, as interpreta
agora com um novo comedimento. São notáveis a forma
pela qual ele enuncia uma
nota rápida em cada movimento de arco. A brandura
de seus gestos dá incríveis diferenças de expressividade.
Maria João Pires e Meneses
iriam repetir o programa de
Campos ontem à noite, na
Sala São Paulo. Ela se apresenta em agosto em Coimbra
e Praga, com récitas baseadas em Chopin. Ele, em julho, será por duas vezes solista da Orquestra Regional da
Toscana, na Itália.
O jornalista JOÃO BATISTA NATALI viajou
a convite da produção do Festival de
Campos do Jordão.
ANTÔNIO MENESES E MARIA
JOÃO PIRES
AVALIAÇÃO ótimo
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