São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010

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CRÍTICA ERUDITO

Maria João e Antônio Meneses encantam em duo estupendo

Um dos mais aguardados do festival, encontro de pianista e violoncelista teve refinamento e alta técnica

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM CAMPOS DO JORDÃO


Tudo era para dar apenas certo no encontro entre o violoncelista pernambucano Antônio Meneses e a pianista portuguesa Maria João Pires, anteontem, no 41º Festival de Inverno de Campos do Jordão. E foi melhor que isso, de um modo estupendo.
Os dois músicos dialogaram em duas das cinco sonatas para piano e violoncelo de Beethoven (1770-1827) e construíram um sólido castelo de sutilezas musicais.
Na primeira delas (nº 2), Maria João mergulhou na discrição, diante da preferência do compositor em dar ao violoncelo a preponderância na apresentação dos temas.
Meneses deu ao arco quatro ou cinco pesos diferentes ao longo dos primeiros quatro ou cinco compassos.
Mas o jogo logo se equilibrou. A tonalidade sombria dá lugar a um alegre rondó final, que os músicos dividiam por meio de uma espécie de lealdade ao classicismo de Mozart e Haydn.
A segunda sonata (nº 3) foi marcada por um diálogo ponderado. Entre as duas peças, de 1796 e 1808, surgiram em Beethoven novas exigências harmônicas e uma nova expressividade.
O músico brasileiro e sua parceira portuguesa ainda apresentaram, cada um, uma peça solo. Para Maria João coube a "Sonata nº 17" ("A Tempestade"), escrita em 1802 também por Beethoven.
Algo muito sério ocorreu naquele momento em Campos do Jordão. Só entenderia Beethoven daquela forma mais leve quem tivesse se notabilizado, e era o seu caso, como uma das maiores intérpretes ainda vivas das sonatas de Mozart.

TÉCNICA PURA
Com extrema clareza nos fraseados, os dedos da pianista passeavam pelo teclado sem nenhuma ênfase sentimental. Era técnica pura, com pouco pedal direito. Meneses interpretou a nº 3 das seis "Suítes para Violoncelo Solo", de Bach (1685-1750).
O violoncelista, que fez em 2004 uma gravação integral dessas peças, as interpreta agora com um novo comedimento. São notáveis a forma pela qual ele enuncia uma nota rápida em cada movimento de arco. A brandura de seus gestos dá incríveis diferenças de expressividade.
Maria João Pires e Meneses iriam repetir o programa de Campos ontem à noite, na Sala São Paulo. Ela se apresenta em agosto em Coimbra e Praga, com récitas baseadas em Chopin. Ele, em julho, será por duas vezes solista da Orquestra Regional da Toscana, na Itália.

O jornalista JOÃO BATISTA NATALI viajou a convite da produção do Festival de Campos do Jordão.



ANTÔNIO MENESES E MARIA JOÃO PIRES

AVALIAÇÃO ótimo


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