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NINA, A JOVEM ATRIZ
Fernanda Torres come
'pão que o diabo amassou'
da Reportagem Local
Fernanda Torres tem o papel
mais difícil de "A Gaivota":
Nina, a jovem atriz que deseja a
fama e faz o que for preciso.
Para a atriz que faz a atriz, a
primeira impressão, de um
personagem ingênuo, passou
logo. E a dimensão de Nina impressiona. "Eu não tinha
idéia", diz.
(NS)
Folha - Como você está criando a Nina? Você está usando alguma identificação com ela?
Fernanda Torres - O objetivo de montar a "Gaivota" tem
a ver com isso. A mistura entre
o personagem e o ator é total.
Eu li a Nina quando tinha 13
anos e tinha uma identificação
com ela, mas no romantismo.
Fui fazer a Nina com 32. E,
quando reli, eu disse: "Não vai
dar, é muito ingênua, eu vou
ter que aproximar ela de mim".
Eu achava que ia mudá-la.
Quando a gente começou a ensaiar... É tão maluco o Tchecov,
ele tem um sentido oculto tão
severo. Eu digo que fui tendo
um processo de reconstituição
de hímen (ri).
Folha - Ela não é romântica?
Torres - Ela é carreirista.
Tem um lado dela, embora camuflado pela heroína romântica, que faz o que for para sair
daquele buraco. Ela pergunta
ao cara sobre a fama. Ela tem
um erro crasso. E eu vi que a
Nina deve ser feita por alguém
de 30. Você só entende a curva
dela depois que come o pão que
o diabo amassou. Depois que
sofre com as imperfeições, com
a insatisfação com você mesmo. É o que ela diz. Eu não
achava um personagem tão interessante. Mas fui ficando impressionada com a dimensão
dela. Eu não tinha idéia.
Folha - Comer o pão que o
diabo amassou é uma fala da
peça. Mas você não comeu o
pão que o diabo amassou.
Torres - Ah, eu comi o pão
que o diabo amassou. Eu desde
criança sou conhecida, porque
sou filha da minha mãe.
Folha - Pois é.
Torres - Mas eu passei por
uma coisa impressionante. A
minha existência não é necessária. É muito difícil você dizer
que vale a pena a sua existência, com o mesmo nome, a
mesma profissão de uma pessoa que realizou isso inteiramente.
E, depois, eu fiz todas essas
confusões da Nina. A "Selva de
Pedra" foi a minha confusão da
fama. Depois o cinema brasileiro acabou. Eu tive que me
reinventar no teatro. O pão que
o diabo amassou. E a coisa de
você se lançar no mundo e voltar à sua origem, se reentender.
Esse é o nó da profissão. Não é
ter fama ou não. Eu perseverei,
como ela diz.
Folha - Eu ouço falar de você
como se fosse uma atriz cômica.
Torres - Cada ala acha uma
coisa. Comigo acontecem
boas. A mulher do Abujamra
viu o ensaio e disse para ele:
"Que surpresa a Fernandinha". E ele, para mim: "Falam
muito da surpresa". E eu:
"Olha, eu surpreendo há uns
20 anos. As pessoas sempre
acham que, naquele trabalho,
eu finalmente estou me revelando" (ri). É um moto-contínuo na minha vida. Não no cinema, mas no teatro.
E eu venho do Rio, peguei
uma veia cômica grande. Ao
mesmo tempo, fui criada em
coxia com a mamãe. Percebo
que naquele outro pedal existe
algo. Mas cada um acha uma
coisa de mim. Nem eu sei o que
eu acho de mim.
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