São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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RESTAURAÇÃO
Antiga fazenda será novo pólo cultural

Luiz Murauskas/Folha Imagem
Casa da Fazenda do Morumbi, em São Paulo, que , a partir de outubro, abrigará o Polo Cultural da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História



LEANDRO FORTINO
da Reportagem Local

A Casa da Fazenda do Morumbi, erguida em 1813, está passando por uma grande restauração para, em breve, abrigar o Pólo Cultural da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História (ABACH).
O espaço também será usado para sediar exposições de arte, lançamentos de livros e de produtos e espetáculos musicais, desde que sejam relacionados à cultura.
Doada ao fazendeiro inglês John Maxwell Rudge por d. João 6º, a casa se tornou a primeira fazenda de chá do país.
Desde então, o local serviu de moradia a famílias paulistanas importantes e chegou a ser usado como cenário de telenovelas famosas, como as clássicas "Sinhá Moça" e "Beto Rockfeller".
Mas desde o início dos anos 70 a fazenda, de 1.258 m2 de área construída, esteve totalmente abandonada, enfrentando sérios problemas de deterioração de sua estrutura, feita em taipa de pilão, e de suas janelas, portas, piso e teto, fabricados em madeira nobre.
"Deputado das artes"
A iniciativa do projeto é do arquiteto Fabio Porchat, atual presidente da ABACH, um veterano no desenvolvimento de projetos relacionados ao marketing cultural.
Entre outras atividades, Porchat já foi deputado estadual por São Paulo -conhecido como o "deputado das artes"- e diretor do Centro Cultural São Paulo e da Paulistur. Há 10 anos ele corre atrás de patrocínios para suas dezenas de projetos ligados à cultura brasileira.
"Todos pensavam que a casa era do governo, mas ela pertencia a uma seguradora desativada. Por estar em litígio, não poderia ser vendida. Então, arrendamos a fazenda por 20 anos", explica.
A restauração só foi possível graças à captação de R$ 1,7 milhão, aprovada pelo Ministério da Cultura por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Quem abraçou a proposta foi a fábrica de pães Wickbold, que, em troca, vai ser responsável pelo restaurante.
"No começo foi difícil conseguir um patrocínio, mas depois da entrada da Wickbold dezenas de outras empresas se interessaram pelo projeto. A Philips, por exemplo, quer fornecer a iluminação", diz Porchat.
Segundo o arquiteto, o novo pólo cultural deve ser inaugurado já em outubro deste ano.
Fidelidade
Para ser o mais fiel possível à fazenda original, que foi reformada pela última vez nos anos 40, Porchat está restaurando todas as portas e janelas da época com o mesmo tipo de madeira utilizado na época, trazido da Bahia.
O mesmo está sendo feito com as telhas, no estilo colonial, que foram compradas em Santa Catarina por se aproximarem daquelas usadas no século passado.
"O subsolo da casa era usado como senzala. No novo projeto ele abrigará um museu. Vai ser a parte didática da Casa da Fazenda do Morumbi, enquanto os outros andares serão dinâmicos, com eventos temporários", conta Porchat.
Para o arquiteto, os projetos relacionados ao marketing cultural começam a desabrochar no Brasil, mas ainda existem poucas pessoas que realmente se interessam em tocá-los.
"Não há muita gente desenvolvendo projetos culturais porque são muito trabalhosos. Eu sei que não dá para ficar rico, mas dá para ganhar bem", afirma.
"Tenho um monte de projetos, pequenos e grandes, esperando por um patrocínio. A diferença desse e dos outros é que na Casa da Fazenda eu pretendo trabalhar para sempre."



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