São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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ACONTECE NO RIO
Museu espera 150 mil para ver Botero

ANNA LEE
da Sucursal do Rio

O MNBA (Museu Nacional de Belas-Artes) espera que os objetos, frutas e animais volumosos e os seres rechonchudos e sem atitude que povoam as 81 obras do artista colombiano Fernando Botero -expostas no museu, no centro do Rio, de hoje a 13 de setembro- não apenas atraiam um público aproximado de 150 mil pessoas.
Espera também que a mostra de Botero dê continuidade ao projeto de divulgação do acervo do próprio museu.
Desde 1995, quando promoveu a exposição do escultor francês Auguste Rodin, o MNBA tem, segundo sua diretora, Heloisa Lustosa, aproveitado as mostras internacionais para exibir paralelamente as obras de sua propriedade.
"As exposições de artistas estrangeiros têm atraído um grande número de pessoas, muitas delas não frequentadoras assíduas do museu. É uma oportunidade para que conheçam nosso acervo e, quem sabe, passem a vir aqui sem que haja um evento especial", disse Heloisa Lustosa.
Assim, na galeria Século 19, onde acontece a mostra de Botero, também serão exibidas 30 obras de artistas do modernismo brasileiro, como Cândido Portinari, Di Cavalcanti e Alfredo Volpi.
"Procuramos exibir trabalhos brasileiros que de alguma forma tenham relação com o que está sendo mostrado na exposição internacional", disse Lustosa.
"Não temos nada no Brasil que possa ser comparado a Botero. Assim, escolhemos artistas que, como ele, marcaram a história da arte brasileira, por terem deixado de ser regionais para se tornarem universais."
Botero
De fato, faz tempo -desde 1962, quando realizou sua primeira exposição em Nova York e teve a tela "Mona Lisa aos 12 Anos" comprada pelo Museu de Arte Moderna local- que Botero tornou-se reconhecível em todo o mundo, graças a sua iconografia específica, trabalhada à exaustão.
Exaustão necessária para chegar à perfeição, como já declarou o artista: "No fundo, os grandes pintores da história não tratam de mudar, mas de aprofundar... Querem ser mais radicais com uma idéia".
Um radical, Botero é. Sua obsessão pelas formas volumosas ele explica como o desejo de criar grandes campos de cor.
"Essa dilatação encerra um desejo de expressar-me por meio da cor de forma contundente", costuma dizer.
A cor, que é, segundo ele, "fundamental porque ilumina a pintura".
Sua coleção de personagens aparentemente despidos de alma é o meio que encontrou para ultrapassar o real e atingir o universal.
"Eu sempre tento dar a impressão de olhares ausentes. É por essa máscara, por essa ausência de qualquer sentimento que meus personagens tocam o universal, ultrapassam o real. A única coisa importante é que a dez metros de distância se é capaz de dizer de um de meus quadros que é um "Botero'", disse o artista à Folha, em março, quando foi inaugurada sua exposição no Masp, a mesma que chega hoje ao Rio.
Nascido na cidade colombiana de Medellín, em 1932, Botero teve como primeira fonte de inspiração os muralistas mexicanos e a arte pré-colombiana.
Em 1953, ingressou na Academia di San Marco, em Florença, onde estudou a técnica do afresco e também assimilou a arte do renascimento.
Foi influenciado pelas obras dos mestres italianos, como Giotto, Paolo Uccello e Piero della Francesca, com as quais teve contato direto, quando se transferiu para Europa.
Mas é principalmente o olhar para o universo latino, representado pelo humor, pela família, pelo erotismo, pelo mistério e pelo uso constante do azul, amarelo e vermelho -as cores da bandeira colombiana-, que marca a obra de Botero e o torna inconfundível.


Exposições: Fernando Botero e Modernismo no Brasil Onde: Museu Nacional de Belas-Artes, galeria Século 19 (av. Rio Branco, 199, Cinelândia, tel. 021/240-0068) Quando: de terça a sexta-feira, das 10h às 18h; sábados e domingos, das 14h às 18h; até 13 de setembro Quanto: de R$ 1 a R$ 8; aos domingos, a entrada é gratuita


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