São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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ENTREVISTA
Tully crê em relação entre as mortes

de Londres

James Tully nunca havia lido nenhum livro da família Brontë até o dia em que foi passear em Haworth, onde hoje existe o Museu Brontë. Estimulado pela cor local, se viu inspirado a investigar a dramática história da família.
"Estava nevando, a atmosfera me fez sentir que eu teria de descobrir mais sobre aqueles seres misteriosos, que viveram isolados num lugar insalubre e construíram relações doentias entre si."
Tully vive na Espanha e concedeu entrevista à Folha durante o lançamento do livro em Londres.

Folha - Que relações você vê entre o drama pessoal de cada membro da família e sua respectiva atividade literária?
James Tully -
Os elementos que os aterrorizavam na vida real estão em sua construção ficcional: o medo da morte na juventude, a doença, a solidão, a perspectiva de morrer sozinho e a vida provinciana do interior da Inglaterra na época.

Folha - O que mais o intrigou sobre o destino trágico da família Brontë?
Tully -
Que ninguém tenha desconfiado das supostas causas naturais das mortes. Deveria haver uma relação dramática entre aquelas mortes e nem as autoridades locais, habitantes do vilarejo ou amigos dos Brontë demonstraram desconfiar disso. Branwell morreu em setembro de 1848, seguido três meses depois por Emily e, cinco meses depois, por Anne. Três irmãos num período de nove meses!

Folha - No livro, você demonstra ter confiança de que a chegada de Arthur Bell Nicholls transformou as relações entre os Brontë. Qual é seu julgamento pessoal sobre ele?
Tully -
Não é possível saber muito sobre a personalidade de Nicholls, mas acho que ele não tinha nenhuma vocação para uma vida tranquila. A chegada dele no cotidiano aborrecido e isolado dos Brontë veio alterar o cenário.

Folha - Que tipo de documentos você pesquisou?
Tully -
Entrevistei descendentes de pessoas que os conheceram. Li e reli a correspondência deixada pelas irmãs. Colhi também informações de documentos oficiais da localidade e li as biografias e cartas de amigos das irmãs.

Folha - Você faz uma análise dos termos utilizados para definir as causas das mortes das irmãs. Acha que isso diz um pouco sobre como o período vitoriano encarava a vida e a morte?
Tully -
Isso me ajudou a entender como no período vitoriano a medicina era muito genérica. Quando Emily morreu, foi diagnosticado que ela tinha tuberculose só porque ela tossia muito. O boletim médico sobre a morte de Charlotte dizia que ela teria tido "phtisis". "Phtisis" é um termo usado na medicina da época que abrange várias coisas e significa muito pouco, está associado a perda de peso causada pela tuberculose.

Folha - Por que você escolheu o formato do romance para mostrar a sua versão dos acontecimentos?
Tully -
Primeiro, porque se eu tivesse feito um livro documental, um ensaio, eu só teria chamado a atenção de um limitado grupo de especialistas em literatura. Segundo, porque tentei -foi um desafio e um desejo pessoal- escrever como os Brontë. Queria criar o mesmo clima de suspense que elas obtiveram em seus livros.


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