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RELÂMPAGOS
Cilada
JOÃO GILBERTO NOLL
Foi mandado para o retiro.
Não tinha o corpo bem formado ainda. Estava quase, de
modo que os ossos doíam todo fim de tarde. Seu pulso
também, pois no casarão distante deveria desenhar dia
após dia a tal mandala cujo
centro não se deixava apreender, fugia. As bordas circulares, seus arabescos e rendas,
pareciam verter-se majestosamente do fundo do silêncio
que só o centro guardava intacto, inconcebível, avaro. As
seis da manhã era acordado
por um sino suave, quase
além do som. Mãos lhe traziam o frugal. Ele o levava à
boca, sem encostar no paladar. Depois alisava a mesa, a
mandala se abria. Mas dessa
vez ele viu: o miolo enfim se
consumava inteiro, se oferecia. Tocou. Primeiro foi se
amortecendo. Depois se afogando, tragado pelo núcleo...
O retiro acabava...
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