São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2000


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RELÂMPAGOS

Cilada

JOÃO GILBERTO NOLL

Foi mandado para o retiro. Não tinha o corpo bem formado ainda. Estava quase, de modo que os ossos doíam todo fim de tarde. Seu pulso também, pois no casarão distante deveria desenhar dia após dia a tal mandala cujo centro não se deixava apreender, fugia. As bordas circulares, seus arabescos e rendas, pareciam verter-se majestosamente do fundo do silêncio que só o centro guardava intacto, inconcebível, avaro. As seis da manhã era acordado por um sino suave, quase além do som. Mãos lhe traziam o frugal. Ele o levava à boca, sem encostar no paladar. Depois alisava a mesa, a mandala se abria. Mas dessa vez ele viu: o miolo enfim se consumava inteiro, se oferecia. Tocou. Primeiro foi se amortecendo. Depois se afogando, tragado pelo núcleo... O retiro acabava...


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