São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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Gramado reforça aposta em "autores"

Repaginado para afastar pecha de fútil, festival gaúcho, que inicia hoje 36ª edição, realiza disputa entre filmes "de diretor"

Competição pelos Kikitos reúne seis longas nacionais; ator Renato Aragão recebe homenagem pela carreira de "campeão de bilheteria"


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Festival de Gramado inicia hoje a sua 36ª edição, com uma homenagem ao ator Renato Aragão por sua carreira no cinema, que soma 47 filmes e cerca de 120 milhões de espectadores.
É um reconhecimento do festival ao fato de Aragão ser "o campeão nacional de bilheteria", segundo o presidente do festival e secretário de Turismo de Gramado, Alemir Coletto.
Contudo, a partir de amanhã, quando será dada a partida na mostra competitiva pelos troféus Kikito (veja quadro à dir.), o perfil dos filmes se distancia da vocação popular que norteia os filmes de Aragão.

Preferência
"A nossa preferência é trabalhar com o cinema de autor, que me parece ser o tipo de filme que pode se beneficiar de um festival de cinema", afirma o crítico José Carlos Avellar, contratado pelo Festival de Gramado, em 2006, para remodelá-lo num prazo de três anos -que se esgota agora.
A consultoria foi chamada para tentar reverter a queda vertiginosa no prestígio do festival, associado a filmes de qualidade duvidosa e ao pendor excessivo pela futilidade do desfile de celebridades televisivas no tapete vermelho que conduz ao Palácio dos Festivais.
Coletto avalia que a opção curatorial pelo cinema de autor foi um acerto e diz que ela será mantida. "O formato está consagrado, por atender de forma ordenada aos vários segmentos do cinema. É representativo dos interesses de público, produtores e distribuidores", diz.
No entanto, o festival não parece ter tido nenhum impacto no lançamento dos vencedores de suas últimas edições. Os ganhadores do ano passado -"Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais", de Carlos Eduardo Prates, escolhido pelo júri oficial, e "Deserto Feliz", de Paulo Caldas, o preferido do público- permanecem sem estréia no circuito comercial.
Os títulos que dividiram em 2006 o prêmio de melhor filme -"Anjos do Sol", de Rudi Lagemann, e "Serras da Desordem", de Andrea Tonacci- não chegaram a 100 mil espectadores.
"Não se deve exagerar as possibilidades que um festival possa oferecer a um filme nem reduzi-las. Esses filmes conseguiram um mínimo de espaço, com certa ajuda de Gramado. A chance de que possam a ter visibilidade maior passa pelo festival", afirma Avellar.
Os seis longas nacionais que disputarão o festival neste ano foram selecionados entre 43 inscritos, segundo Coletto.
Avellar diz que os filmes estabelecem "uma conversa interna em dois níveis"; um deles relacionado ao "processo de produção e narração", e o outro, a "questões temáticas".
O curador e consultor do festival diz que, no conjunto de competidores, há "filmes feitos em película cinematográfica e em material digital, com certa novidade nessa relação".
A novidade seria o uso dos recursos que o formato digital oferece, como a agilidade, de modo intrínseco ao filme, e não numa opção determinada "por pressão de ordem econômica, em que o digital é a substituição de alguma coisa pensada em película cinematográfica [tecnologia mais dispendiosa]".
A coincidência temática se encontra, segundo Avellar, na presença, em mais de um filme, de "personagens femininos muito fortes, centrais, protagonistas das histórias".


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