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Mendes da Rocha constrói em Vitória
Arquiteto vencedor do Prêmio Pritzker projeta grande museu de arte moderna e teatro de ópera na capital capixaba
Museu com 3.000 m2 de área expositiva e teatro com 1.300 lugares estão orçados em R$ 120 milhões e devem ser inaugurados em 2011
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Não têm hora os trabalhos do
mar. Paulo Mendes da Rocha
sabe disso e quer o contraste
entre o "desfile monumental"
de navios e sua construção no
cais do porto de Vitória.
Numa espécie de moldura
concreta da paisagem marítima, o vencedor do Pritzker projeta o que será o museu de arte
moderna da capital capixaba e
um teatro operístico, complexo
batizado de Cais das Artes pelo
governo do Espírito Santo.
Orçado em R$ 120 milhões,
bancados pelo Estado, começa
a sair do papel em novembro
deste ano e deve ser concluído
em meados de 2011, com a promessa de inserir Vitória no circuito nacional das grandes exposições e espetáculos.
Em escala menor, também
tem certo valor afetivo para
Mendes da Rocha, que nasceu
em Vitória, mas nunca projetou
na cidade. Seu avô trabalhou na
construção do aterro onde hoje
fica o parque Moscoso.
É o que ele chama de "inexorável confronto entre as terras
e o mar" das cidades costeiras.
Da mesma forma que o aterro
que seu avô ajudou a construir,
Mendes da Rocha faz um projeto ambicioso numa zona de
"territórios ganhados do mar".
"É uma esplanada em frente
ao mar, no canal de entrada do
porto de Vitória", descreve. "A
cidade fica espetacular nesse
ponto, um confronto entre os
navios belíssimos, iluminados,
moventes e as construções."
Mendes da Rocha tenta manter a transparência da paisagem erguendo o pavilhão sobre
pilares, num projeto que lembra o Museu de Arte Moderna
do Rio, construído no aterro do
Flamengo por Afonso Reidy
nos anos 50. "É uma sucessão
de espaços nesse engenho horizontal, suspenso do chão."
Brutalismo à beira-mar
Lá dentro, são cinco salões de
exposição articulados entre
rampas transparentes, com vista para a esplanada lá fora. Dessa forma, as áreas entre um espaço expositivo e outro devem
ganhar uma iluminação natural vinda de baixo para cima,
uma grande caixa vazada, que
se mistura à praça exterior.
Essa fusão de espaços internos e externos marca quase todos os projetos do arquiteto, de
linhagem modernista. Lembra,
nos traços ortogonais e também pelo esquema de andares
intercalados, as construções de
Vilanova Artigas, que desenhou
o prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Numa transposição do estilo
brutalista para a beira do Atlântico, Mendes da Rocha faz um
teatro de 1.300 lugares debruçado sobre o mar. Colado ao
chão, por causa do fosso da orquestra, é uma estrutura que
começa na esplanada, mas tem
dois de seus pilares de sustentação fincados direto na água.
"Não é extravagante fazer a
fundação no mar", diz Mendes
da Rocha, sobre um dos pontos
mais impressionantes do projeto. Segundo o arquiteto, o lençol freático no terreno é tão alto
que os pilares teriam de atingir
a mesma profundidade tanto
na esplanada quanto no mar.
Atrás da plateia, janelas dão
vista para o outro lado do canal
de Vitória, onde está a cidade
de Vila Velha e o convento de
Nossa Senhora da Penha, 300
metros sobre o nível da água
-o lado de lá da moldura concreta de Mendes da Rocha.
Colaborou CÍNTIA ACAYABA, da Agência Folha
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