São Paulo, quarta, 10 de setembro de 1997.



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Nós precisamos de um Marilyn Manson

ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Marilyn Manson fez um show mais para superstar do que para anticristo. A apresentação provoca uma sensação de esquisitice, mas com uma estratégia tão calculada e articulada que não chega exatamente a chocar.
Mesmo com tantas tentativas marketeiras. Por exemplo, quando aparece como um político num palanque, em "Antichrist Superstar". Acompanhado pelo público, que grita "hey, hey" de punho erguido, ele rasga páginas da "Bíblia".
Enrolado numa bandeira dos EUA como se fosse uma toalha, ele a usa como papel higiênico. Além disso, apenas proclama alguns palavrões bobos e um "filho da puta", em português.
Se Manson é um poseur, ele o faz de modo inteligente e moderno. Seu look e sua movimentação são sua principal arma.
Com cinta-liga e meia rasgada usadas com um tapa-sexos que o deixava praticamente nu de costas, coturno e luvas, Manson é produto legítimo do decadentismo dos anos 90.
Ele anda pelo palco como se fosse cair; mexe os braços como um espantalho; as pernas são viradas para dentro. Doentio.
Em "Sweet Dreams", cover do Eurythmics, vai para o chão e se rasteja, cantando com voz intensa e quente. Quebra uma garrafa no palco, aparecendo sujo de "sangue". "Eu vou morrer", grita: o efeito cênico é sensacional, como quando ele canta sob máquinas de espuma, tipo neve.
O som é agressivo, mas bem delineado, ganhando consistência com bases eletrônicas pré-gravadas. Manson só pega a guitarra em "Dried Up, Tied and Dead to the World", bom momento, junto com "The Minute of Decay", "The Beautiful People", "Tourniquet" e "Lunchbox". Seu ótimo show prova que a cultura pop desta década precisa, sim, de um Marilyn Manson.



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