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Nós precisamos de um Marilyn Manson
ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha
Marilyn Manson fez um show
mais para superstar do que para
anticristo. A apresentação provoca uma sensação de esquisitice, mas com uma estratégia tão
calculada e articulada que não
chega exatamente a chocar.
Mesmo com tantas tentativas
marketeiras. Por exemplo,
quando aparece como um político num palanque, em "Antichrist Superstar". Acompanhado pelo público, que grita
"hey, hey" de punho erguido,
ele rasga páginas da "Bíblia".
Enrolado numa bandeira dos
EUA como se fosse uma toalha,
ele a usa como papel higiênico.
Além disso, apenas proclama alguns palavrões bobos e um "filho da puta", em português.
Se Manson é um poseur, ele o
faz de modo inteligente e moderno. Seu look e sua movimentação são sua principal arma.
Com cinta-liga e meia rasgada
usadas com um tapa-sexos que o
deixava praticamente nu de costas, coturno e luvas, Manson é
produto legítimo do decadentismo dos anos 90.
Ele anda pelo palco como se
fosse cair; mexe os braços como
um espantalho; as pernas são viradas para dentro. Doentio.
Em "Sweet Dreams", cover do
Eurythmics, vai para o chão e se
rasteja, cantando com voz intensa e quente. Quebra uma garrafa no palco, aparecendo sujo
de "sangue". "Eu vou morrer",
grita: o efeito cênico é sensacional, como quando ele canta sob
máquinas de espuma, tipo neve.
O som é agressivo, mas bem
delineado, ganhando consistência com bases eletrônicas
pré-gravadas. Manson só pega a
guitarra em "Dried Up, Tied
and Dead to the World", bom
momento, junto com "The Minute of Decay", "The Beautiful
People", "Tourniquet" e
"Lunchbox". Seu ótimo show
prova que a cultura pop desta
década precisa, sim, de um Marilyn Manson.
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