São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2001

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RELÂMPAGOS

Expansão

JOÃO GILBERTO NOLL

Tirou a atadura para olhar o corte. Viu os pontos pela primeira vez. Tinha de resolver sozinho o jeito de continuar ferido. Não adiantava vir o enfermeiro ou quem quer que fosse. Todo o resto dependia só dele. Precisava forçar um limite, urgia agora saber qual. Tentou sentar na cama, nada lhe doía. Conseguiu. Pendurou as pernas, balançou-as feito criança satisfeita. Tateou os lábios da cicatriz. Anoitecia. Era a sua única oportunidade. O momento em que todos se afastavam, deixando o quarto na penumbra e uma ânsia de desbravar certos confins que seus passos agora confirmavam. Caminhou indiferente à dor. Surpreendeu a chama ao pé da imagem. Foi ali e a apagou. Ouviu um gemido. Mais outro. Acariciou o talho, aí avançou -bolinou o escuro. E gozou.


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