São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

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Segredos de alcova



Memórias eróticas de ex-bailarina lançam pimenta em fenômeno editorial dirigido às mulheres
Divulgação
A ex-bailarina Toni Bentley, autora do livro "A Entrega"


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem já leu Helen Fielding ("O Diário de Bridget Jones") e Marian Keyes ("Melancia" e "Sushi") pode pode até ter corado. Agora, a ex-bailarina americana Toni Bentley caprichou nas tintas eróticas e fez de "A Entrega -Memórias Eróticas" (editora Objetiva) o mais avermelhado dos títulos dedicados ao público cor-de-rosa da temporada, e cujo tema se contrapõe à idéia da mulher em busca do amor romântico de seus antecessores. Aqui, Bentley conta suas experiências, descritas como libertadoras, da prática da sodomia, o sexo anal. Descrições bem detalhadas, por sinal.
O lançamento parece culminar uma tendência iniciada com "Catherine M", da francesa Catherine Millet, publicado em 2001 pela Ediouro (5.000 exemplares vendidos), e que tem suprido as prateleiras e seu fiel público com notada constância. Reiniciada, ressalte-se, porque já se vão muitos anos que D.H. Lawrence (1885-1930) faz sucesso com "O Amante de Lady Chatterley", só para mencionar um clássico do gênero, do distante 1928.
A diferença agora é que boa parte desses lançamentos são assinados por mulheres, que buscam uma roupagem literária para falar de sexo. Seja em livros de dicas, memórias, contos ou romances.
Como é o caso de Bentley, cujo "A Entrega" chega ao mercado brasileiro depois de forte incensamento da crítica estrangeira: a escritora foi comparada ao próprio Lawrence, e ainda Norman Mailer, Henry Miller e Anaïs Nin pelo jornal "The New York Times". E o livro foi considerado "o maior hino aos poderes transcendentes da sodomia desde o marquês de Sade", pelo "Village Voice".
Em 220 páginas, Bentley, ex-bailarina do New York City Ballet, uma experiência de dez anos que ela descreveu anteriormente em quatro elogiados livros não-ficcionais, reputa à descoberta e total entrega ao sexo anal sua libertação de mal resolvidos anos de rejeição paternal, para ficar no mais óbvio viés freudiano.
E de um casamento malsucedido, cujo desfecho abriu portas para novas experiências sexuais, que atingiram seu auge no affair de três anos com o Homem-A, seu iniciador na sodomia. Afeita a escrever diários desde a adolescência, Bentley começou a anotar para, quem sabe assim, entender aquela experiência que considerava um tipo de graça.
Registrou quantas vezes foi sodomizada, calculou as médias diária, mensal e anual de episódios, e ainda se deteve numa listinha de compras, do lubrificante à lingerie ideal. Reteve não só informações mas também as camisinhas usadas de seu amante, como se fossem relíquias religiosas.
Passado um prólogo em que situa sua "busca pelo paraíso" na infância, no radicalmente religioso sul dos Estados Unidos, sua inclinação ao masoquismo nos primeiros anos de balé e o que chama de "tendências anais" na prática obsessiva de crochê, Bentley partiu para suas aventuras de alcova. Que dividiu em capítulos com nomes sugestivos, como "Trindade" e "Versão Curta e Versão Comprida", alguns mais ousados, outros impublicáveis.
"Queria ser uma testemunha para mim mesma, contar a história deste caso de amor, de modo que houvesse um registro desta magnífica e transformadora experiência de vida", diz Bentley, em entrevista à Folha.

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