São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

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MEMÓRIAS

Toni Bentley defende que "A Entrega" não é para divertir ou fazer dinheiro, como "Bridget Jones" e "Melancia"

Autora fez antídoto a livros "mulherzinha"

DA REPORTAGEM LOCAL

A escritora Toni Bentley diz que "A Entrega" pode ser encarado como uma espécie de antídoto à literatura feita para "mulherzinha" ("chick lit"), cometida por Candace Bushnell (de "Sex and the City"), Helen Fielding ("Bridget Jones") e Marian Keys ("Melancia"), para mencionar três sucessos de venda. Mas nega que tenha sido intencional.
Segundo ela, "A Entrega" é um experimento em literatura sobre sexo, uma exposição pessoal que os livros politicamente corretos não trazem, porque querem divertir e fazer dinheiro. "Não é um mau objetivo, mas meus propósitos são inteiramente não-comerciais", defende-se a autora.
Leia a seguir trechos da entrevista que Bentley deu à Folha.

Folha - Se seu livro é um antídoto à literatura para "mulherzinha", com que outros autores ou obras ele dialoga?
Toni Bentley -
Não estou certa de que haja um diálogo. Mas ao longo dos anos houve escritores que me influenciaram e me impressionaram pela maneira como escreveram sobre sexo, como Henry Miller, Anaïs Nin, Norman Mailer, Marguerite Duras, Annie Ernaux, Dominique Aury [que assinou o clássico "História de O" sob o pseudônimo Pauline Reage], Sade e George Bataille.

Folha - O livro pode atrair também a atenção do público masculino?
Bentley -
Pelas cartas de fãs que recebo parece que o livro faz mais sucesso com homens do que com mulheres. Pela razão óbvia de que muitos homens acham sexy ouvir a experiência de uma mulher com um tipo de sexo que eles querem, mas a que elas dizem não. Acho que em outras culturas, como na Itália ou Brasil, por exemplo, ele será mais bem acolhido por mulheres, porque parte de outra mulher. Nos Estados Unidos, elas ficaram um tanto nervosas com o tema. Mas lembre-se: este país foi fundado por puritanos!

Folha -Você descreve o sexo anal como "libertador". Ele liberta de que e como?
Bentley -
Ele pode ser libertador em certas circunstâncias, para um certo tipo de mulher, ou homem, dependendo de vários fatores, sobretudo psicológicos. Para mim, é um ato profundamente simbólico, até mesmo arquetípico, se feito por livre escolha. Escolher submeter-se a um homem é um ato muito poderoso para uma mulher "liberada". Além disso, se a liberação sexual não nos deu o direito de fazer o que queremos sexualmente, então não somos nada liberadas.

Folha -Você menciona algo como um perfil para o homem que gosta de sodomizar. Não há um para a mulher que quer ser sodomizada?
Bentley -
Só posso falar por mim mesma. Acho que ser uma mulher com muito controle de minha vida e corpo, especialmente por ter sido uma bailarina disciplinada, fez desta entrega, desta perda de controle, algo tão profundo para mim. Como se eu não soubesse que tinha tanto poder. Dançar também me ensinou a alcançar o divino através do físico.

Folha -Você fez psicanálise? O que houve de freudiano nesta experiência?
Bentley -
Nunca fiz, embora tenha interesse pelo assunto. A vida sexual de uma pessoa está fortemente ligada a sua relação com os pais. No entanto, não acho que seja o único fator a se levar em conta. Parte do que exploro em "A Entrega" é minha própria busca e curiosidade para saber por que aquele homem, e este sexo extremo, foram tão significativos e bonitos para mim.


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