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MEMÓRIAS
Toni Bentley defende que "A Entrega" não é para divertir ou fazer dinheiro, como "Bridget Jones" e "Melancia"
Autora fez antídoto a livros "mulherzinha"
DA REPORTAGEM LOCAL
A escritora Toni Bentley diz que
"A Entrega" pode ser encarado
como uma espécie de antídoto à
literatura feita para "mulherzinha" ("chick lit"), cometida por
Candace Bushnell (de "Sex and
the City"), Helen Fielding ("Bridget Jones") e Marian Keys ("Melancia"), para mencionar três sucessos de venda. Mas nega que tenha sido intencional.
Segundo ela, "A Entrega" é um
experimento em literatura sobre
sexo, uma exposição pessoal que
os livros politicamente corretos
não trazem, porque querem divertir e fazer dinheiro. "Não é um
mau objetivo, mas meus propósitos são inteiramente não-comerciais", defende-se a autora.
Leia a seguir trechos da entrevista que Bentley deu à Folha.
Folha - Se seu livro é um antídoto
à literatura para "mulherzinha",
com que outros autores ou obras
ele dialoga?
Toni Bentley - Não estou certa de
que haja um diálogo. Mas ao longo dos anos houve escritores que
me influenciaram e me impressionaram pela maneira como escreveram sobre sexo, como
Henry Miller, Anaïs Nin, Norman
Mailer, Marguerite Duras, Annie
Ernaux, Dominique Aury [que
assinou o clássico "História de O"
sob o pseudônimo Pauline Reage], Sade e George Bataille.
Folha - O livro pode atrair também
a atenção do público masculino?
Bentley -Pelas cartas de fãs que
recebo parece que o livro faz mais
sucesso com homens do que com
mulheres. Pela razão óbvia de que
muitos homens acham sexy ouvir
a experiência de uma mulher com
um tipo de sexo que eles querem,
mas a que elas dizem não. Acho
que em outras culturas, como na
Itália ou Brasil, por exemplo, ele
será mais bem acolhido por mulheres, porque parte de outra mulher. Nos Estados Unidos, elas ficaram um tanto nervosas com o
tema. Mas lembre-se: este país foi
fundado por puritanos!
Folha -Você descreve o sexo anal
como "libertador". Ele liberta de
que e como?
Bentley -Ele pode ser libertador
em certas circunstâncias, para um
certo tipo de mulher, ou homem,
dependendo de vários fatores, sobretudo psicológicos. Para mim, é
um ato profundamente simbólico, até mesmo arquetípico, se feito por livre escolha. Escolher submeter-se a um homem é um ato
muito poderoso para uma mulher
"liberada". Além disso, se a liberação sexual não nos deu o direito
de fazer o que queremos sexualmente, então não somos nada liberadas.
Folha -Você menciona algo como
um perfil para o homem que gosta
de sodomizar. Não há um para a
mulher que quer ser sodomizada?
Bentley -Só posso falar por mim
mesma. Acho que ser uma mulher com muito controle de minha vida e corpo, especialmente
por ter sido uma bailarina disciplinada, fez desta entrega, desta
perda de controle, algo tão profundo para mim. Como se eu não
soubesse que tinha tanto poder.
Dançar também me ensinou a alcançar o divino através do físico.
Folha -Você fez psicanálise? O
que houve de freudiano nesta experiência?
Bentley -Nunca fiz, embora tenha interesse pelo assunto. A vida
sexual de uma pessoa está fortemente ligada a sua relação com os
pais. No entanto, não acho que seja o único fator a se levar em conta. Parte do que exploro em "A
Entrega" é minha própria busca e
curiosidade para saber por que
aquele homem, e este sexo extremo, foram tão significativos e bonitos para mim.
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