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ILUSTRADA
Performance da norte-americana Coco Fusco durou 20 minutos
"Presos" limpam rua de Consulado
ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Sob um sol de rachar, 50 "prisioneiros de guerra" vestidos
com uniforme laranja limparam
com escovas de dente a rua em
frente ao Consulado dos Estados
Unidos, na Chácara Santo Antônio. À frente do grupo, uma "militar" de óculos escuros comandava a ação com um megafone.
A inusitada cena ocorreu ontem, no início da tarde e, durante
20 minutos, deixou perplexas as
pessoas que aguardavam na fila
do consulado. Os presos, na verdade, eram estudantes da oficina
de performance do festival Videobrasil, e participavam como
voluntários da intervenção artística promovida pela artista norte-americana Coco Fusco -a
militar que comandava a tortura.
A performance faz parte de sua
pesquisa sobre as técnicas de interrogatório utilizadas pelo
Exército dos Estados Unidos
com seus prisioneiros de guerra.
Entre as rotinas, segundo Coco
Fusco, está a de fazer os presos
limparem suas celas com a própria escova de dentes.
Quatro veículos da Polícia Militar guardavam a entrada do
Consulado. Os policiais permaneceram na calçada, acompanhando a intervenção, que ocorreu sem provocar tumulto.
Ao final, Coco se dirigiu até
eles e os cumprimentou. "A polícia brasileira se comportou muito bem, tenho que agradecer",
disse a artista.
Quem não gostou, ou não entendeu, foi o público. "Achei deprimente. Faz a gente se sentir
mal", comentou a gerente de
marketing Jeanine Gloschoski,
30, na fila para renovar o visto.
"Não exprime nada, só humilhação", completou Jeanine.
"Não entendi nada. Fiquei com
medo de que prejudicasse a entrada, vim buscar documentos",
contou a administradora Lilian
R., 23, que não quis se identificar.
"Acredito que seja contra os
prisioneiros nos Estados Unidos", afirmou o agente de turismo Jaime Bastos, 46. "Acho válido. Alguém tem que protestar."
"Achei um absurdo, não gostaria de estar no lugar dessas pessoas, lavando o chão com uma
escovinha", afirmou a doméstica
Maria Neuza de Oliveira, 49, que
parou na rua para assistir. "Não
entendi a crítica, e não gostei."
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