São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

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ILUSTRADA

Performance da norte-americana Coco Fusco durou 20 minutos

"Presos" limpam rua de Consulado

ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sob um sol de rachar, 50 "prisioneiros de guerra" vestidos com uniforme laranja limparam com escovas de dente a rua em frente ao Consulado dos Estados Unidos, na Chácara Santo Antônio. À frente do grupo, uma "militar" de óculos escuros comandava a ação com um megafone.
A inusitada cena ocorreu ontem, no início da tarde e, durante 20 minutos, deixou perplexas as pessoas que aguardavam na fila do consulado. Os presos, na verdade, eram estudantes da oficina de performance do festival Videobrasil, e participavam como voluntários da intervenção artística promovida pela artista norte-americana Coco Fusco -a militar que comandava a tortura.
A performance faz parte de sua pesquisa sobre as técnicas de interrogatório utilizadas pelo Exército dos Estados Unidos com seus prisioneiros de guerra. Entre as rotinas, segundo Coco Fusco, está a de fazer os presos limparem suas celas com a própria escova de dentes.
Quatro veículos da Polícia Militar guardavam a entrada do Consulado. Os policiais permaneceram na calçada, acompanhando a intervenção, que ocorreu sem provocar tumulto.
Ao final, Coco se dirigiu até eles e os cumprimentou. "A polícia brasileira se comportou muito bem, tenho que agradecer", disse a artista.
Quem não gostou, ou não entendeu, foi o público. "Achei deprimente. Faz a gente se sentir mal", comentou a gerente de marketing Jeanine Gloschoski, 30, na fila para renovar o visto. "Não exprime nada, só humilhação", completou Jeanine.
"Não entendi nada. Fiquei com medo de que prejudicasse a entrada, vim buscar documentos", contou a administradora Lilian R., 23, que não quis se identificar.
"Acredito que seja contra os prisioneiros nos Estados Unidos", afirmou o agente de turismo Jaime Bastos, 46. "Acho válido. Alguém tem que protestar."
"Achei um absurdo, não gostaria de estar no lugar dessas pessoas, lavando o chão com uma escovinha", afirmou a doméstica Maria Neuza de Oliveira, 49, que parou na rua para assistir. "Não entendi a crítica, e não gostei."


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