São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

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Réplica

No filme "Cidade dos Homens", o fator humano cabe dentro das favelas

PAULO MORELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na crítica "Filme tropeça ao enfocar paternidade", de Cássio Starling Carlos (publicada na Ilustrada de 31 de agosto), o autor questiona, como problema, o tema central do filme "Cidade dos Homens". Não quero discutir as preferências do crítico, que tem todo o direito de não gostar do filme.
Gostaria apenas de apontar o preconceito embutido na própria crítica através da idéia de que a favela deve ser retratada por um foco que prioriza os problemas sociais. O autor diz: "A escolha de um tema universalizante -a paternidade- tem como efeito o esvaziamento da representação das questões concretas e interessantes que a série trazia (...), pois afasta seus personagens do ponto de reflexo do coletivo para se concentrar em suas psicologias".
Tentei olhar para este universo buscando mergulhar um pouco mais na subjetividade das pessoas ali.
A própria escolha do título, "Cidade dos Homens", sugere que a questão da humanidade está presente e é premente como essência narrativa.
Para o escritor/crítico, parece que o "pobre" não pode ter problemas pessoais, apenas sociais. É como dizer que a classe desprivilegiada não tem individualidade. E, logo, não pode ter psicologia. Tem sempre que servir como um "ponto de reflexo do coletivo".
O crítico parece preferir olhar para a favela e seus moradores como uma massa indistinta e parece se incomodar com a escolha de personagens que pensam, agem e sonham apesar deste coletivo. O humano não cabe na favela?
O acerto do artigo citado está na definição de que o recorte dramático está focado no cotidiano da comunidade da favela. Tentei, sim, retratar este cotidiano ao propor uma questão universal: a paternidade.
E, para mim, o universo engloba também a favela e seus moradores.


O cineasta PAULO MORELLI é diretor do filme "Cidade dos Homens"


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