São Paulo, quinta-feira, 10 de setembro de 2009

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COMIDA

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São Paulo Restaurant Week leva a casas caras e estreladas, como o Antiquarius e o Porto Rubaiyat, multidões que enfrentam filas para fazer uma refeição mais barata; critérios de participação no evento não são claros e inchaço é criticado

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os avisos de "estamos lotados" e "é melhor não vir" não têm contido centenas de pessoas que não querem perder, por nada, a chance de comer num restaurante três estrelas e seis cifrões (acima de R$ 110) pagando R$ 27,50 por um almoço completo, com entrada, prato principal e sobremesa.
Desde terça-feira da semana passada, a calma calçada da alameda Lorena anda agitada. Fica ali uma das casas mais concorridas desta São Paulo Restaurant Week, o Antiquarius.
"Os "top ten" estão abarrotados. Explodiram as expectativas. O Antiquarius está vivendo uma coisa única. No almoço de sábado, recebeu 280 pessoas", diz Emerson Silveira, 37, organizador do evento. Procurado pela Folha, o proprietário da casa, Thales Martins Filho, disse que não responderia questões relacionadas à SPRW.
O Porto Rubaiyat tem recebido uma média de mil pessoas por dia, segundo o restaurateur Belarmino Iglesias Filho, 49. "Quadruplicou o movimento. É uma loucura, uma avalanche de gente, beira o descontrole."
À Folha, um chef que já participou de outra edição e optou ficar fora agora disse que o evento é melhor para os clientes do que para os restaurantes. "Para nós, é mais uma roubada do que uma oportunidade."

Sempre cabe mais um
Sobre o considerável aumento de participantes nesta quinta edição (de 123 para 201), o organizador diz que este sempre foi o objetivo: "Estamos bombando". Mas o inchaço não é visto com bons olhos por todos. Há quem critique o critério (ou a falta de) na seleção.
A chef Andrea Kaufmann, do AK, participa desde a segunda edição e fez parte do comitê de organização. Saiu por não concordar com a lotação. "O critério tem de ser absolutamente gastronômico. É boa gastronomia barata, e não comida barata. Não foi bem? Tira no próximo. Isso passa credibilidade."
Silveira diz ter recebido "150 outras solicitações". Mas qual é o critério de seleção? "O grande fator é se enquadrar no valor gasto por pessoa normalmente. Se já tem um cardápio na faixa dos R$ 25, não vale a pena para o dono nem ajudará o evento."
O que faz na lista, então, o Mocotó, onde é possível fazer uma refeição por menos de R$ 20? "Mas ele é muito bem falado pela mídia e pela crítica. Não entrou pelo valor, mas pelo que faz pela gastronomia, é um nome de peso", diz Silveira.
O chef do Mocotó, Rodrigo Oliveira, concorda que sua casa "foge à regra" e diz que entrou "por curiosidade". "As contas quase empatam. Mas tem amigo fazendo piada: "Como você fez para chegar a R$ 27,50?"."
Para entrar na SPRW, não basta ser aceito. O restaurante paga uma taxa de inscrição, que nesta edição foi de R$ 800 a R$ 1.000 -encarece perto do início do evento. "Ninguém nunca reclamou. A maioria paga com o maior prazer", diz Silveira.
Por conta da elevação no valor da taxa, em relação à anterior, e por ter uma cozinha pequena, Fernanda Corvo, 32, do Sal, decidiu não entrar agora. "A alta demanda compromete a qualidade do atendimento. O pessoal fica enlouquecido. Você fala que não tem mais lugar, e acham que está tratando mal porque estão pagando menos."
No evento pela segunda vez, o chef do Marcel, Raphael Durand Despirite, 25, diz que "é uma loucura". O movimento triplicou. "Agora, estamos mais bem preparados e simplificamos a operação. No último, a salada era difícil, cada legume tinha um tempo de cocção."
O chef do eñe, Flavio Miyamura, 25, entrou em duas edições e não entrou nesta. "Uma vez por ano está de bom tamanho", diz. Segundo ele, o público que vai não é o da casa. "Prejuízo não dá. Só gira o capital."
Veterano na SPRW, Hugo Delgado, do Obá, diz que "é uma grande oportunidade para oferecer o melhor e democratizar". "Mas têm outras pessoas que acham que é só uma maneira de ganhar mais dinheiro."


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