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"ERAM TODOS TÃO JOVENS"
Sara e Gerald Murphy ganham biografia
Livro retrata jovem casal
que representava o glamour
MARCELO PEN
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Alguns passam à história
como artistas, outros como
modelos. Mesmo assim, não devemos desmerecer os segundos
diante da importância dos primeiros. Que seria de Da Vinci sem
a senhora Francesco del Giocondo, de Dante sem Beatriz, de Vinicius sem Helô Pinheiro? A humanidade com certeza perderia a
"Mona Lisa", boa parte da "Divina Comédia" e, como sabemos, a
garota de Ipanema.
Sara e Gerald Murphy, os biografados da jornalista Amanda
Vaill em "Eram Todos Tão Jovens", serviram de inspiração para alguns dos maiores nomes da
arte do século 20. Fernand Léger
pintou o casal, Picasso desenhou
Sara, Hemingway serviu-se deles
em "As Neves do Kilimanjaro", e
John dos Passos, em "O Grande
Capital". Mas o retrato mais perfeito dos dois está em "Suave É a
Noite", de Scott Fitzgerald.
Sara e Gerald são a matriz dos
protagonistas Dick e Nicole. Não
diretamente, é claro. Gerald não
era psiquiatra nem Sara esquizofrênica. Quem terminou no hospício foi Zelda, mulher de Scott.
Mas os dois estão ali em tudo o
que representa glamour, sofisticação, dinheiro e beleza.
Eles tinham muito dinheiro e
ambição artística. Deixaram o
provincianismo americano para
se unir à nata da vanguarda francesa nos anos 20. Participaram da
confecção dos cenários para os
Ballets Russos, de Diaghilev e
Stravinsky. Gerald, que pintava
gigantescos quadros futuristas,
ainda soltou algum a Diaghilev.
Mas a maior invenção do casal,
na época, foi a da moda do veraneio na Côte d'Azur. Antes deles,
chegando o verão, os turistas fugiam, e os hotéis ficavam às moscas. Gerald comprou uma casa
em Cap d'Antibes. Chamou-a de
Villa America. Seus vizinhos eram
Cole e Linda Porter. A Riviera
Francesa nunca mais foi a mesma.
Um dos primeiros hóspedes da
Villa America foi Picasso, que, dizem, ficou caído por Sara. Fez dela dois desenhos. Num deles, Sara
está vestida. Em outro, porta um
delicado colar de pérolas. E mais
nada. As pérolas eram a marca de
Sara quando se tostava ao sol.
Sara fustigou outros corações,
de Fitzgerald a Hemingway. Scott
já era um escritor consagrado,
mas Hemingway, que ainda não
tinha publicado seu primeiro romance, transbordava charme.
Convenceu o casal a segui-lo às
touradas em Pamplona. Os
Murphy ficaram encantados. Sobretudo Sara.
Fitzgerald espicaçava Gerald,
cuja ambiguidade sexual era assunto melindroso, sendo grosseiro com os convidados homossexuais. Já Gertrude Stein se referiu
a eles como a "geração perdida",
expressão que se estendia a Archibald MacLeish, John dos Passos e
Dorothy Parker.
Gerald Murphy deixou uma
prova de bom gosto, desenhando
uma bolsa feminina para a Mark
Cross. É a famosa frasqueira de
onde Grace Kelly tira suas pantufas e camisola quando vai dormir
com James Stewart, em "Janela
Indiscreta".
Eram Todos Tão Jovens
Everybody Was So Young: Gerald and
Sara Murphy, a Lost Generation Love
Story
Autora: Amanda Vaill
Editora: Best Seller
Tradutor: Luiz A. de Oliveira Araújo
Quanto : R$ 46 (456 págs.)
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