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MÚSICA
Com banda e visual novos, cantora maranhense lança CD "Comigo"
Sincrética, Rita Ribeiro volta mais "limpa"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Moça Bonita" é a última faixa
do novo e terceiro álbum da maranhense Rita Ribeiro, 35, "Comigo". Foi composta por Evaldo
Gouveia e Jair Amorim para Angela Maria, que a gravou em 76
("depois me arrependi de não ter
chamado ela para cantar comigo", diz), e para Rita tem um quê
de pombagira.
"Sou cria de terreiro, embora
nunca tenha recebido nenhuma
entidade. No Brasil, neguinho vai
a terreiro e não diz que vai. Sou
conhecida como macumbeira,
mas gosto mesmo é dos banhos
cheirosos, da festa, da relação
com a dança", diz a artista.
Ela volta a "Moça Bonita". "Para
mim, é música de pombagira,
mas coloquei no disco para fazer
esse contraste, dos transes de terreiro versus as raves. Neguinho
tem transe em pista de dança e
nem sabe que santo está recebendo. Está tudo ali, escondido, como nos discos de Clementina de
Jesus", sincretiza.
Mas, mais que um dever sincrético, "Comigo" é mais um passo
da história de Rita Ribeiro no sentido de unificar os laços de seu
longínquo Maranhão natal com o
Brasil central em que ela hoje vive,
entre Rio e São Paulo.
Uma mudança parece se operar
na artista a partir do visual exposto na capa: saíram os "pitós" que
ela cultivava e a fizeram ser tida
como uma "Chico César de saia",
entraram caracóis avermelhados.
"Troquei de gravadora do primeiro para o segundo disco e me
sentia um pouco podada pelas
mudanças. Achei que precisava
insistir um pouco, mas já não
aguentava mais aquele visual. Rotulava muito minha imagem, eu
quis dar uma limpada em tudo,
simplificar as coisas sem torná-las
simplórias", explica.
O que diz aí em cima se aplica
também à música, ela sublinha.
Ela encolheu a banda -também
por razões de economia, confessa- e hoje trabalha em conjunto
com o paulista Pedro Mangabeira, seu diretor musical, violonista
e marido.
Do segundo para este disco,
houve novas mudanças: ela continua no selo MZA, mas rompeu
vínculo com a Universal, que distribuía seus CDs (agora é a Abril).
"Lá, não observava muito um trabalho diferenciado. Vi-me no fim
da fila dos grandes nomes. Não tinha como argumentar se vendia
20 mil cópias. Hoje, pela primeira
vez, sou tratada com cuidado,
posso conversar cara a cara com o
presidente da companhia", defende a nova casa.
Virão pressões para que suba o
patamar de vendas?
"Acho que eles têm consciência
do meu trabalho dentro do mercado. Sabem que não sou o Frank
Aguiar ou a Adryana da Rapaziada. Sabem que estou lançando
um monte de gente que nunca
ninguém ouviu, e que isso é um
risco."
É que metade do disco, como já
acontecia antes, é dedicado a
apresentar novos (ou melhor,
desconhecidos) compositores,
vários deles maranhenses. De lá
vêm César Teixeira ("o Chico
Buarque do Maranhão") e os parceiros Mano Borges e o paulista
radicado em São Luís Alê Muniz.
De lá vem, também, o homem
de reggae Santacruz, que ela define com prazer:
"Tem uns 30 anos e dez filhos, é
vendedor de banana e galinha na
feira. Chamamos para cantar junto comigo pelo jeito especial que
ele tem de cantar, que me faz pensar em puxador de boi, em caixeiro do Divino".
Ainda no terreno do pouco conhecido, há um paraibano, João
Linhares ("conheci em São Paulo,
é quase irmão de Chico César"), e
um mineiro, Vander Lee ("foi-me
apresentado como compositor de
samba, mas o que me pegou foram as baladas").
Todos ela grava pela primeira
vez e eles vêm se somar à lista já
extensa de autores apresentados
nos anteriores "Rita Ribeiro" (97)
e "Pérolas aos Povos" (99). Estaria
Rita Ribeiro à procura do autor
que melhor a traduzisse?
"Não tenho esse questionamento. Eu podia repetir, criar uma
turminha, mas me sinto um veículo para todos esses autores. Por
outro lado, sei que, de todos os
autores que cantei, o que está
mais na minha história é Zeca Baleiro."
Por isso há duas (não inéditas)
do conterrâneo e contemporâneo
Baleiro no CD, que se completa
com o giro de Angela Maria, o
samba clássico "Você Está Sumindo", de Geraldo Pereira e Jorge de Castro, e "Caramba... Galileu da Galiléia", de Jorge Ben.
Para falar desse último, Rita Ribeiro se inflama. "É uma pretensão que morro de vergonha de falar, mas meu sonho é fazer um
disco só de Jorge Ben. Fico estudando, tenho oito canções já arranjadas, entre aquelas que saem
do "lado A" dele. Qualquer dia tomo coragem e mando para ele."
Pouco a pouco, ela vai contando
outros sonhos:
"Tenho vontade de fazer um
trabalho tratando os ritmos do
Maranhão da forma mais radical
possível. Adoraria fazer um disco
só de reggae, pegando desde Luis
Vagner até o reggae do Maranhão. Minha carreira é jovem, estou armando ela ainda. É importante construir uma estrutura para no futuro viabilizar coisas assim".
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