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MÚSICA
TIM FESTIVAL
Supergrupo liderado por Kurt Wagner toca no país e lança discos
Sofisticação "caipira" do Lambchop põe pé no Brasil
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais novos que o country, mais
velhos que o "alt-country", sofisticados demais para o pop, punks
demais para o clássico, alguns
músicos do Lambchop estão de
malas prontas para finalmente visitar o Brasil. Alguns?
"Serão dez desta vez. Pode parecer engraçado, mas eu nunca sei
ao certo quantas pessoas tem na
banda. Depende da agenda de cada um", embaralha o vocalista e
compositor Kurt Wagner, 45,
com seu vozeirão esfumaçado e o
inconfundível sotaque "caipira"
de Nashville, Tennessee.
Com dois discos-irmãos na algibeira esperando lançamento para
fevereiro de 2004, o supergrupo
de Wagner promete disputar com
a vocalista do Portishead, Beth
Gibbons, e com os cariocas do Los
Hermanos o "troféu fossa" da primeira noite do Tim Festival, dia
30, no Rio. Fossa boa, claro.
"Achei um negocião participar
desse festival, fiquei até um pouco
chocado que tenhamos sido...
classificados", brinca o líder da
banda, que fez sua estréia com "I
Hope You're Sitting Down", de
1994, e tem seu disco de 2000, "Nixon", lançado no Brasil pela primeira vez. A seguir, trechos da entrevista que Wagner deu à Folha.
Folha - No início do ano, você foi
convidado para um festival em São
Paulo, mas acabou cancelando na
última hora. O que aconteceu?
Kurt Wagner - Tive problemas
para conseguir o visto. Não fiz o
pedido com antecedência, houve
alguma mudança nos procedimentos e, de repente, percebi que
não dava mais tempo. Fiquei desapontado e pensei que nunca
mais poderia ir ao Brasil, mas, alguns meses depois, veio essa oferta [o Tim Festival]. Pensei que todos estivessem bravos comigo.
Folha - E agora: foi atrás do visto?
Wagner - Sim, está aqui no meu
bolso (risos). Corremos atrás logo
que soubemos do convite. É impressionante o tempo que leva! É
a burocracia entrando no caminho da liberdade artística (risos).
Folha - O que vocês pretendem
tocar no show?
Wagner - Estou pensando nisso
agora. Acabei de descobrir quais
álbuns nossos foram lançados aí.
Agora tenho uma idéia daquilo
com que as pessoas podem estar
familiarizadas. Mas normalmente
um show do Lambchop inclui o
som que estejamos fazendo no
momento. E acabamos de gravar
dois novos álbuns.
Folha - Dois?!
Wagner - Escrevi músicas demais! Caberiam em dois álbuns,
mas preferi separá-las e deixar
que as pessoas escolham qual dos
discos vão querer. O primeiro é
uma trilha-sonora para um filme
mudo de 1927 chamado "Sunrise"
[de F.W. Murnau]. Nunca tinha
feito isso. Tentei fazer como naquelas trilhas dos anos 60 e 70, tipo "A Primeira Noite de um Homem", quando as palavras passaram a fazer parte das trilhas. E elas
[as palavras] não têm de se ligar
diretamente ao que está se passando na tela. Isso já é dado, você
não precisa dizer a mesma coisa
na canção. Entende?
Folha - E o disco também se chamará "Sunrise"?
Wagner - Não, como sempre, eu
fico confuso na hora de escolher
os nomes. São dois discos, né? Um
é "Aw, C'mon!" [Ai, vem cá!] e o
outro é "No, You C'mon!" [Não,
vem cá você!]. Não têm muito a
ver um com o outro, mas estão ligados pelo título, um "diálogo"
ou algo assim (risos).
Folha - "Is a Woman" (2002) é um
disco silencioso, minimalista. Vocês continuam nessa direção?
Wagner - Na época, era exatamente isso o que buscávamos.
Queríamos focar mais nas letras e
deixamos de lado a produção.
Agora estamos na direção de uma
produção maior. Como em "Nixon", há muitas cordas nesses discos, um som mais viçoso, com, a
banda tocando e se divertindo em
longos trechos sem que eu tenha
que cantar. Gosto disso também.
Folha - Grande parte da banda
vem de Nashville. Até que ponto o
rótulo "alt-country" dá conta de
descrever o som do Lambchop?
Wagner - Quando começamos a
tocar esse termo nem existia. Para
nós, era só o fato de termos vindo
desse lugar chamado Nashville,
que é definitivamente uma cidade
de country music. Éramos um
bando de jovens. Meus pais gostavam de música clássica e odiavam
country. Eu ouvia Monkees e as
coisas que tocavam na TV e no rádio. Só quando fiquei mais velho é
que percebi a grandiosidade e o
poder da música country.
Folha - O que achou da morte recente de Johnny Cash?
Wagner - Ele foi um grande
exemplo de como a música
country pode ser pessoal e única.
Jamais haverá alguém com uma
voz como a dele. É como qualquer
grande artista que se vai, seja Jean
Cocteau, Picasso ou Johnny Cash.
Deixam uma marca indelével no
mundo quando partem.
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