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São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2003

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MÚSICA

TIM FESTIVAL

Supergrupo liderado por Kurt Wagner toca no país e lança discos

Sofisticação "caipira" do Lambchop põe pé no Brasil

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais novos que o country, mais velhos que o "alt-country", sofisticados demais para o pop, punks demais para o clássico, alguns músicos do Lambchop estão de malas prontas para finalmente visitar o Brasil. Alguns?
"Serão dez desta vez. Pode parecer engraçado, mas eu nunca sei ao certo quantas pessoas tem na banda. Depende da agenda de cada um", embaralha o vocalista e compositor Kurt Wagner, 45, com seu vozeirão esfumaçado e o inconfundível sotaque "caipira" de Nashville, Tennessee.
Com dois discos-irmãos na algibeira esperando lançamento para fevereiro de 2004, o supergrupo de Wagner promete disputar com a vocalista do Portishead, Beth Gibbons, e com os cariocas do Los Hermanos o "troféu fossa" da primeira noite do Tim Festival, dia 30, no Rio. Fossa boa, claro.
"Achei um negocião participar desse festival, fiquei até um pouco chocado que tenhamos sido... classificados", brinca o líder da banda, que fez sua estréia com "I Hope You're Sitting Down", de 1994, e tem seu disco de 2000, "Nixon", lançado no Brasil pela primeira vez. A seguir, trechos da entrevista que Wagner deu à Folha.
 

Folha - No início do ano, você foi convidado para um festival em São Paulo, mas acabou cancelando na última hora. O que aconteceu?
Kurt Wagner -
Tive problemas para conseguir o visto. Não fiz o pedido com antecedência, houve alguma mudança nos procedimentos e, de repente, percebi que não dava mais tempo. Fiquei desapontado e pensei que nunca mais poderia ir ao Brasil, mas, alguns meses depois, veio essa oferta [o Tim Festival]. Pensei que todos estivessem bravos comigo.

Folha - E agora: foi atrás do visto?
Wagner -
Sim, está aqui no meu bolso (risos). Corremos atrás logo que soubemos do convite. É impressionante o tempo que leva! É a burocracia entrando no caminho da liberdade artística (risos).

Folha - O que vocês pretendem tocar no show?
Wagner -
Estou pensando nisso agora. Acabei de descobrir quais álbuns nossos foram lançados aí. Agora tenho uma idéia daquilo com que as pessoas podem estar familiarizadas. Mas normalmente um show do Lambchop inclui o som que estejamos fazendo no momento. E acabamos de gravar dois novos álbuns.

Folha - Dois?!
Wagner -
Escrevi músicas demais! Caberiam em dois álbuns, mas preferi separá-las e deixar que as pessoas escolham qual dos discos vão querer. O primeiro é uma trilha-sonora para um filme mudo de 1927 chamado "Sunrise" [de F.W. Murnau]. Nunca tinha feito isso. Tentei fazer como naquelas trilhas dos anos 60 e 70, tipo "A Primeira Noite de um Homem", quando as palavras passaram a fazer parte das trilhas. E elas [as palavras] não têm de se ligar diretamente ao que está se passando na tela. Isso já é dado, você não precisa dizer a mesma coisa na canção. Entende?

Folha - E o disco também se chamará "Sunrise"?
Wagner -
Não, como sempre, eu fico confuso na hora de escolher os nomes. São dois discos, né? Um é "Aw, C'mon!" [Ai, vem cá!] e o outro é "No, You C'mon!" [Não, vem cá você!]. Não têm muito a ver um com o outro, mas estão ligados pelo título, um "diálogo" ou algo assim (risos).

Folha - "Is a Woman" (2002) é um disco silencioso, minimalista. Vocês continuam nessa direção?
Wagner -
Na época, era exatamente isso o que buscávamos. Queríamos focar mais nas letras e deixamos de lado a produção. Agora estamos na direção de uma produção maior. Como em "Nixon", há muitas cordas nesses discos, um som mais viçoso, com, a banda tocando e se divertindo em longos trechos sem que eu tenha que cantar. Gosto disso também.

Folha - Grande parte da banda vem de Nashville. Até que ponto o rótulo "alt-country" dá conta de descrever o som do Lambchop?
Wagner -
Quando começamos a tocar esse termo nem existia. Para nós, era só o fato de termos vindo desse lugar chamado Nashville, que é definitivamente uma cidade de country music. Éramos um bando de jovens. Meus pais gostavam de música clássica e odiavam country. Eu ouvia Monkees e as coisas que tocavam na TV e no rádio. Só quando fiquei mais velho é que percebi a grandiosidade e o poder da música country.

Folha - O que achou da morte recente de Johnny Cash?
Wagner -
Ele foi um grande exemplo de como a música country pode ser pessoal e única. Jamais haverá alguém com uma voz como a dele. É como qualquer grande artista que se vai, seja Jean Cocteau, Picasso ou Johnny Cash. Deixam uma marca indelével no mundo quando partem.

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