São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cultura anuncia para 12 de dezembro a estréia da TV Rá-Tim-Bum, restrita à televisão fechada

Ilha da fantasia

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um canal de TV 24 horas com programação infantil de qualidade, teledramaturgia e desenhos brasileiros, programas educativos, dicas para pais e educadores.
Após quase uma década ancorada em reprises e mais reprises, a TV Cultura promete emergir da crise e lançar a TV Rá-Tim-Bum em 12 de dezembro, Dia Internacional da Criança. Importante aposta numa televisão carente de boas opções infantis, o canal será fechado, restrito a, no máximo, cerca de 10% da população brasileira com acesso à TV paga.
Levará ao ar programas inéditos antes mesmo da rede aberta e é uma das prioridades na nova gestão da Cultura, que assumiu no mês de junho. Mantida majoritariamente com verbas públicas, a emissora afirma não ver paradoxo no projeto, cujo sustento virá de anunciantes, segundo o diretor de marketing, Cícero Feltrin.
Ele diz que os recursos gerados com a TV Rá-Tim-Bum poderão fomentar a programação infantil da Cultura, há um bom tempo preenchida basicamente por repetições e desenhos importados.
"É óbvio que não estamos fazendo um movimento de deixar 89% da população vendo reprise e privilegiar os 11% que têm TV paga. São dois projetos diferentes, e os inéditos também passam na emissora aberta. Alguns programas serão feitos exclusivamente para a Cultura", declara Feltrin.
A estratégia é aproveitar a força da marca que começou com o programa "Rá-Tim-Bum" (1990) e migrou para o "Castelo" e a "Ilha", na TV e no cinema. Fechado, o canal tem a possibilidade de ser totalmente voltado a crianças, o que não seria viável na aberta. Com isso, poderá atrair a publicidade que busca a TV paga e atualmente se divide entre meia dúzia de importados, como Cartoon, Nickelodeon e Discovery Kids.
A Estrela foi a primeira a apostar na idéia e já assinou contrato de patrocínio, cujo valor a Cultura não revela. De acordo com o diretor de marketing, outras quatro empresas deverão aderir.
A fase atual é de definir quais operadoras oferecerão o canal a seus assinantes. A Cultura reuniu-se na semana passada com a NeoTV (associação de TVs a cabo que inclui a TVA) e recebeu OK para negociar com as 51 afiliadas. Net, Sky e DirecTV demonstraram interessem e têm encontros nos próximos dias. O plano é incluir a TV Rá-Tim-Bum nos pacotes mais básicos -e baratos.
Toda a programação será ancorada pelos bonecos Rá, Tim e Bum -um tatu, um pássaro e uma preguiça, respectivamente (com nomes diferentes, as figuras fizeram parte da série "Ilha Rá-Tim-Bum"). Eles servirão para orientar os telespectadores, reforçar a grife da TV e dar uma cara nova ao material de acervo.
Nos primeiros meses, pelo menos, as manhãs e tardes vão ser preenchidas com arquivo "repaginado", segundo Feltrin. Ele diz que vídeos antigos passarão por um tratamento a fim de ganhar qualidade de película (imagem de cinema). Além disso, poderão ser reeditados. O plano é garimpar reportagens ou quadros feitos para diferentes programas, em épocas distintas, e criar, por exemplo, telejornais "seminovos".
As madrugadas também serão de reprises, nesse caso, com rótulo de "maratona". Serão seguidos episódios de teledramaturgia já fora de produção, como "Castelo", "Ilha" e "Mundo da Lua".
Nos períodos matutino e vespertino, a idade do público-alvo aumenta conforme a hora. Quanto mais tarde, mais velha a criança a ser atingida. Das 18h às 22h, horário nobre, vão ao ar os inéditos. Com recursos ainda escassos para projetos mais ambiciosos (como um herdeiro do "Castelo"), a nova TV tem confirmado só um pacote de episódios do "Cocoricó" (programa de bonecos premiado internacionalmente), a ser gravado a partir da próxima semana.
Exceto na faixa para pais e professores (após as 22h), não haverá adultos no ar. "Queremos criança falando para criança", diz Feltrin.
A TV Rá-Tim-Bum poderá exibir programas de outras emissoras públicas e educativas do país.
A animação também será um dos principais focos, e um desenho do "Castelo" está nos planos. Não à toa. Além de ter a produção barateada pelo avanço da tecnologia, o cartum é fenômeno mundial de audiência. No SBT, por exemplo, as "Meninas Superpoderosas" deixam para trás no Ibope a Globo e seu programa da Xuxa, a ex-superpoderosa da TV.



Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Canal terá publicidade mais flexível
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.