São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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Le Clézio, francês viajante e ecológico, ganha Prêmio Nobel

Escritor, que explora desertos e tematiza contrastes de culturas, tem três livros editados no Brasil

Michel Euler/ France Presse
Jean-Marie Gustave Le Clézio, 68, dá entrevista em Paris, após anúncio do prêmio, ontem; pouco conhecido no país, é um dos autores mais traduzidos da França

EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Contrariando as apostas que se concentravam em nomes consagrados, como o norte-americano Philip Roth, o peruano Mario Vargas Llosa ou o israelense Amós Oz, a Academia Sueca decidiu conceder o Nobel de Literatura ao francês Jean-Marie Gustave Le Clézio, 68. Pouco conhecido no Brasil, é um dos escritores mais traduzidos de seu país.
É, também, o 14º autor da França a receber o prêmio, com as ressalvas de que Gao Xingjian (2000) tem origem chinesa, Albert Camus (1957), argelina, e que Jean-Paul Sartre recusou o galardão em 1964.
Além de voltar as costas, mais uma vez, à lista de favoritos, a distinção a Le Clézio marca a tendência do Nobel a escolher, nos últimos anos, autores europeus (leia mais à pág. E4).
O reconhecimento internacional do escritor francês começou em 1980, com o romance "Désert", que ganhou prêmio da Academia Francesa. A obra descreve as agruras de uma mulher nascida no Saara tentando adaptar-se à imposição da colonização francesa no começo do século 20.
O comitê sueco declarou que Le Clézio foi escolhido por buscar a "aventura poética e o êxtase sensual, por explorar a humanidade além e abaixo da civilização reinante".
Entre seus temas mais freqüentes estão histórias de aventuras baseadas em sua experiência em viagens por desertos (uma de suas predileções), cenários africanos e americanos. A academia também distingue sua "sensibilidade ecológica".

Entre Nice e Novo México
Le Clézio nasceu em Nice em 1940, mas mudou-se ainda criança para a Nigéria, onde seu pai foi médico durante a Segunda Guerra Mundial. Voltou à França em 1950.
No começo dos anos 70, decidiu abandonar as grandes cidades e permanecer por um período na América Central. Nos últimos anos, vive entre Nice e o Novo México, nos EUA. Casado com uma marroquina, passa parte de seu tempo viajando.
Suas obras de tom ecológico incluem "Terra Amata" (terra amada, 1967), "La Guerre" (a guerra, 1970) e "Les Géants" (os gigantes, 1973).
No Brasil, foram lançados três títulos. "A Quarentena" (1997) -que teria sido inspirado nos "Sertões", de Euclides da Cunha, segundo entrevista do autor, no ano do lançamento, a "O Estado de S.Paulo".
Também saíram aqui "O Africano" (2007) e "O Peixe Dourado" (2001).
Depois do anúncio, Le Clézio declarou que escrever "não é só estar sentado em sua mesa, é escutar o ruído do mundo". Também disse que ler romances é uma boa forma de interrogar o mundo. "O escritor não é um filósofo, um técnico da língua, é alguém que faz perguntas, e, se há uma mensagem que quero enviar, é que é necessário fazer perguntas."
Curiosamente, na última quinta-feira, numa entrevista a uma rádio francesa para promover seu novo livro, "Ritournelle de la Faim" (os refrãos da fome), Le Clézio falou sobre a possibilidade de ganhar o Nobel. À rádio francesa Inter, o escritor, questionado sobre a possibilidade de ser premiado, respondeu: "Com certeza, por que não? Quando você é um escritor, sempre acredita em prêmios literários".
O prêmio, de US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 3,4 milhão), será entregue em cerimônia em Estocolmo, no dia 10 de dezembro, junto com os demais prêmios da academia (medicina, química, física e economia).


Com agências internacionais


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