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Crítica/"As Duas Faces da Lei"
Astros decadentes emperram policial
Com atuações preguiçosas, Robert de Niro e Al Pacino vivem dupla que busca resolver série de assassinatos em Nova York
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Faz tempo que é difícil
distinguir quando Robert de Niro está numa
comédia ou num drama. Com
Al Pacino o que se passa é mais
recente, mas não tão diferente:
sabemos que está sempre num
drama; o problema é que se trata, invariavelmente, do mesmo
drama.
É nesse estado de semi-aposentadoria que vamos encontrar
os astros no policial "As Duas Faces da Lei", de cuja anemia eles
não seriam capazes de resgatar
nem em seus melhores dias.
Eles são dois veteranos e dedicados tiras de Nova York, além
de talentosos no que fazem e exímios atiradores. Formam uma
dupla. Respeitam-se e admiram-se mutuamente.
São eles que devem resolver
um caso que deixa a polícia de cabelo em pé: uma série de misteriosos assassinatos de malfeitores cuja característica principal é
que ao lado dos corpos são encontrados pequenos poemas
alusivos aos fatos.
Aliás, tudo começa um pouco
antes, quando Turk (De Niro)
falsifica uma evidência a fim de
condenar um notório malfeitor,
para espanto do amigo Rooster
(Pacino). Vamos engolir que um
policial à beira da aposentadoria
se ponha a falsificar provas: por
vezes é preciso forçar um pouco
as coisas para chegar à verdade, e
é isso que Turk faz, no caso.
Depois é que começam os crimes de malfeitores. Teria Turk
agora se posto na pele do justiceiro de "Desejo de Matar"?
Mais: seria plausível um policial,
a essa altura da vida e da carreira,
começar a ter ódio de criminosos
a ponto de passar a eliminá-los?
São essas as dúvidas que este
"As Duas Faces da Lei" procura
instigar em seus espectadores.
Seria um deles, ou ambos, o serial killer tão procurado?
Trancos e barrancos
Ainda que se aceitem todas
as implausíveis premissas desenvolvidas na intriga, teremos
um filme narrado aos trancos e
barrancos, cujo único objetivo
é tapear o espectador até chegar ao desvendamento final.
Estamos, portanto, diante de
um típico "whodunit", para retomar a designação de Alfred
Hitchcock para esses filmes cujo único interesse é saber quem
é o culpado.
Que o roteiro procure dourar
a pílula, atribuindo insuspeitáveis profundezas psicológicas
aos protagonistas, que Jon
Avnet tropece na narrativa, que
De Niro e Pacino se portem
preguiçosamente, como se
(com toda razão) não levassem
a sério seus personagens -tudo
isso apenas confirma que um
filme tenebrosamente mal-
concebido não pode chegar senão a resultados irrisórios, como este.
AS DUAS FACES DA LEI
Produção: EUA, 2008
Direção: Jon Avnet
Com: Robert de Niro, Al Pacino e Carla Gugino
Onde: nos cines Eldorado, Unibanco Arteplex e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: ruim
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