São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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Crítica/"As Duas Faces da Lei"

Astros decadentes emperram policial

Com atuações preguiçosas, Robert de Niro e Al Pacino vivem dupla que busca resolver série de assassinatos em Nova York

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Faz tempo que é difícil distinguir quando Robert de Niro está numa comédia ou num drama. Com Al Pacino o que se passa é mais recente, mas não tão diferente: sabemos que está sempre num drama; o problema é que se trata, invariavelmente, do mesmo drama.
É nesse estado de semi-aposentadoria que vamos encontrar os astros no policial "As Duas Faces da Lei", de cuja anemia eles não seriam capazes de resgatar nem em seus melhores dias. Eles são dois veteranos e dedicados tiras de Nova York, além de talentosos no que fazem e exímios atiradores. Formam uma dupla. Respeitam-se e admiram-se mutuamente.
São eles que devem resolver um caso que deixa a polícia de cabelo em pé: uma série de misteriosos assassinatos de malfeitores cuja característica principal é que ao lado dos corpos são encontrados pequenos poemas alusivos aos fatos.
Aliás, tudo começa um pouco antes, quando Turk (De Niro) falsifica uma evidência a fim de condenar um notório malfeitor, para espanto do amigo Rooster (Pacino). Vamos engolir que um policial à beira da aposentadoria se ponha a falsificar provas: por vezes é preciso forçar um pouco as coisas para chegar à verdade, e é isso que Turk faz, no caso.
Depois é que começam os crimes de malfeitores. Teria Turk agora se posto na pele do justiceiro de "Desejo de Matar"? Mais: seria plausível um policial, a essa altura da vida e da carreira, começar a ter ódio de criminosos a ponto de passar a eliminá-los? São essas as dúvidas que este "As Duas Faces da Lei" procura instigar em seus espectadores. Seria um deles, ou ambos, o serial killer tão procurado?

Trancos e barrancos
Ainda que se aceitem todas as implausíveis premissas desenvolvidas na intriga, teremos um filme narrado aos trancos e barrancos, cujo único objetivo é tapear o espectador até chegar ao desvendamento final. Estamos, portanto, diante de um típico "whodunit", para retomar a designação de Alfred Hitchcock para esses filmes cujo único interesse é saber quem é o culpado. Que o roteiro procure dourar a pílula, atribuindo insuspeitáveis profundezas psicológicas aos protagonistas, que Jon Avnet tropece na narrativa, que De Niro e Pacino se portem preguiçosamente, como se (com toda razão) não levassem a sério seus personagens -tudo isso apenas confirma que um filme tenebrosamente mal- concebido não pode chegar senão a resultados irrisórios, como este.


AS DUAS FACES DA LEI Produção: EUA, 2008
Direção: Jon Avnet
Com: Robert de Niro, Al Pacino e Carla Gugino
Onde: nos cines Eldorado, Unibanco Arteplex e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: ruim



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