São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO, EM PARIS - ultima.moda@grupofolha.com.br

Paris cria terra da fantasia fashion

Em plena crise financeira, grifes fazem desfiles exuberantes para o final da temporada do verão 2009

Enquanto as bolsas de valores despencavam na Europa, a semana de moda de Paris escalava picos razoavelmente altos de criação, culminando com os inspirados desfiles de grifes como Stella McCartney, Chanel, Hermès, Dries Van Noten, Louis Vuitton e Lanvin.
A crise econômica está rondando como uma peste a indústria da moda, mas o meio fashion faz de conta que o assunto não diz respeito a ele. "A moda é um luxo, não é uma necessidade, ela deve fazer sonhar", afirmou o estilista Marc Jacobs ao jornal francês "Le Monde".
Na terra da fantasia do prêt-à-porter e do luxo, a sensação difundida é que os ricos nunca abandonarão as grifes e que a beleza e os sonhos ficarão intocados. Durante a temporada parisiense da primavera-verão 2009, por exemplo, várias maisons -como a Issey Miyake- abriram novas lojas em endereços caríssimos da capital francesa ou anunciaram futuras inaugurações -como Stella McCartney, no Palais Royal.
Mas as coisas nunca foram tão ruins, e a imprensa econômica especializada em moda anuncia tempos sombrios, com a crise nos mercados americano, europeu e japonês.
A crise também está dentro das grifes, como a Valentino, que trocou a sua estilista, Alessandra Facchinetti, depois de ela ter feito só duas coleções, pela dupla Maria Grazia Chiuri e Pier Paolo Piccioli.
Se a temporada começou morna, nos últimos dias conseguiu aquecer bastante a imaginação dos fashionistas.
Com a presença de seu pai, Paul McCartney, na platéia, Stella mostrou uma das melhores coleções da temporada, inteligente e bastante sexy.
O impacto foi ainda maior porque ela conseguiu resumir as aspirações da temporada de uma roupa realista, ou seja, que combinasse os valores do design com os da praticidade.
Em cada peça, percebia-se o gosto pelo design, o apuro do corte e forte unidade -forjada, sobretudo, a partir de uma peça-chave, o paletó do smoking, em deliciosas variações.
Karl Lagerfeld também fez para a Chanel uma coleção adorável e muito atenta ao mercado. E não foi à toa que o cenário do desfile reproduzia a fachada da famosa loja-sede da grife na rua Cambon, 31, e que surgiram versões em couro das bolsas de embalar as compras.
Embora restrita, a paleta de cores causou impacto, dominada por pretos-e-brancos passionais e variações da cor rosa, para quebrar a tensão.
A dramaticidade norteou o desfile, que tinha referências espanholas (como nos tailleurs com boleros e, de repente, um belo vestido flamengo).
As calças de modelagem skinny e as correntes que o próprio Lagerfeld usa na cintura (em vários looks) eram uma espécie de assinatura do estilista sobreposta à de Chanel.
A exuberância dos desfiles da Louis Vuitton e da Lanvin fez a platéia aplaudir no meio -o que é raro em Paris.
Minivestidos, minissaias e pantalonas dominaram a coleção de Marc Jacobs para a Louis Vuitton, que inicialmente dava a sensação de uma mixórdia de referências vintage, escudada pelo casual francês e pelo exotismo inspirado na cantora e dançarina americana Josephine Baker (1906-1975).
Mas, aos poucos, a graça das roupas se impôs, resultado da incrível habilidade jacobsiana para sobrepor estilos, desfazer a caretice do luxo e encontrar uma imagem decididamente contemporânea.
O gorduchinho estilista Alber Elbaz, da Lanvin, arrematou a semana parisiense com uma coleção de mestre.
As dobras sinuosas, os laços hiperbólicos, as cores sedutoras, o moulage vertiginoso -tudo deixou a mulherada em êxtase. Sobretudo a partir da metade final, quando apareceram na passarela looks em estampas "animaliê" e surgiram também maravilhosos vestidos com pequenas aplicações brilhantes de flores.
"Você tem de fazer as mulheres sonharem", disse Elbaz em entrevista ao jornal "International Herald Tribune", fazendo eco a Marc Jacobs. No caso da moda, o sono da razão às vezes produz maravilhas.

com VIVIAN WITHEMAN


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