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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, EM PARIS - ultima.moda@grupofolha.com.br
Paris cria terra da fantasia fashion
Em plena crise financeira, grifes fazem desfiles exuberantes para o final da temporada do verão 2009
Enquanto as bolsas de valores despencavam na Europa, a
semana de moda de Paris escalava picos razoavelmente altos
de criação, culminando com os
inspirados desfiles de grifes como Stella McCartney, Chanel,
Hermès, Dries Van Noten,
Louis Vuitton e Lanvin.
A crise econômica está rondando como uma peste a indústria da moda, mas o meio fashion faz de conta que o assunto
não diz respeito a ele. "A moda
é um luxo, não é uma necessidade, ela deve fazer sonhar",
afirmou o estilista Marc Jacobs
ao jornal francês "Le Monde".
Na terra da fantasia do prêt-à-porter e do luxo, a sensação
difundida é que os ricos nunca
abandonarão as grifes e que a
beleza e os sonhos ficarão intocados. Durante a temporada
parisiense da primavera-verão
2009, por exemplo, várias maisons -como a Issey Miyake-
abriram novas lojas em endereços caríssimos da capital francesa ou anunciaram futuras
inaugurações -como Stella
McCartney, no Palais Royal.
Mas as coisas nunca foram
tão ruins, e a imprensa econômica especializada em moda
anuncia tempos sombrios, com
a crise nos mercados americano, europeu e japonês.
A crise também está dentro
das grifes, como a Valentino,
que trocou a sua estilista, Alessandra Facchinetti, depois de
ela ter feito só duas coleções,
pela dupla Maria Grazia Chiuri
e Pier Paolo Piccioli.
Se a temporada começou
morna, nos últimos dias conseguiu aquecer bastante a imaginação dos fashionistas.
Com a presença de seu pai,
Paul McCartney, na platéia,
Stella mostrou uma das melhores coleções da temporada, inteligente e bastante sexy.
O impacto foi ainda maior
porque ela conseguiu resumir
as aspirações da temporada de
uma roupa realista, ou seja, que
combinasse os valores do design com os da praticidade.
Em cada peça, percebia-se o
gosto pelo design, o apuro do
corte e forte unidade -forjada,
sobretudo, a partir de uma peça-chave, o paletó do smoking,
em deliciosas variações.
Karl Lagerfeld também fez
para a Chanel uma coleção adorável e muito atenta ao mercado. E não foi à toa que o cenário
do desfile reproduzia a fachada
da famosa loja-sede da grife na
rua Cambon, 31, e que surgiram
versões em couro das bolsas de
embalar as compras.
Embora restrita, a paleta de
cores causou impacto, dominada por pretos-e-brancos passionais e variações da cor rosa,
para quebrar a tensão.
A dramaticidade norteou o
desfile, que tinha referências
espanholas (como nos tailleurs
com boleros e, de repente, um
belo vestido flamengo).
As calças de modelagem
skinny e as correntes que o próprio Lagerfeld usa na cintura
(em vários looks) eram uma espécie de assinatura do estilista
sobreposta à de Chanel.
A exuberância dos desfiles da
Louis Vuitton e da Lanvin fez a
platéia aplaudir no meio -o
que é raro em Paris.
Minivestidos, minissaias e
pantalonas dominaram a coleção de Marc Jacobs para a
Louis Vuitton, que inicialmente dava a sensação de uma mixórdia de referências vintage,
escudada pelo casual francês e
pelo exotismo inspirado na
cantora e dançarina americana
Josephine Baker (1906-1975).
Mas, aos poucos, a graça das
roupas se impôs, resultado da
incrível habilidade jacobsiana
para sobrepor estilos, desfazer
a caretice do luxo e encontrar
uma imagem decididamente
contemporânea.
O gorduchinho estilista Alber Elbaz, da Lanvin, arrematou a semana parisiense com
uma coleção de mestre.
As dobras sinuosas, os laços
hiperbólicos, as cores sedutoras, o moulage vertiginoso -tudo deixou a mulherada em êxtase. Sobretudo a partir da metade final, quando apareceram
na passarela looks em estampas "animaliê" e surgiram também maravilhosos vestidos
com pequenas aplicações brilhantes de flores.
"Você tem de fazer as mulheres sonharem", disse Elbaz em
entrevista ao jornal "International Herald Tribune", fazendo eco a Marc Jacobs. No caso
da moda, o sono da razão às vezes produz maravilhas.
com VIVIAN WITHEMAN
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