São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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Crítica/teatro/"Rock'n" Roll"

Stoppard investe no embate de ideias e se sai bem em peça

"Rock'n" Roll" mistura momentos do rock de 1968 a 2000 e marcos históricos

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro debate sobre os destinos humanos. "Rock'n" Roll", última peça de Tom Stoppard, reflete sobre o ocaso do socialismo e revisita os fantasmas da Tchecoslováquia comunista. O tema é recorrente na obra desse dramaturgo tcheco, radicado e consagrado na Inglaterra. Em 2002, a trilogia "A Costa da Utopia" explorou, na Rússia do século 19, ideias que fermentaram a revolução de 1917.
Em "Rock'n'Roll", mais do que em qualquer outra de suas peças, trata-se de um acerto de contas pessoal.
Stoppard especula sobre seu destino, se não tivesse se radicado no Reino Unido, ao mesmo tempo em que exercita um olhar de estrangeiro sobre o país que o acolheu. Um dos protagonistas é um jovem professor de filosofia tcheco que, na infância, morou na Inglaterra e retorna em meados dos anos 60 para um estágio em Cambridge. Será a partir do conflito de ideias entre ele -que decide em 68, com a Primavera de Praga, retornar à Tchecoslováquia- e um professor inglês, comunista convicto, que a trama se armará.
Diante do problema de como encenar uma trajetória de 22 anos de história recente, de 1968 a 1990, o autor define como eixo a evolução do rock nesse período. Assim, na medida em que o professor tcheco é um fanático colecionador de discos, a saga dos personagens, observada por meio de duas gerações, correrá em paralelo aos fatos históricos, políticos e musicais na Inglaterra e no Leste Europeu.
Essa opção reflete-se no espetáculo, já que 23 canções antológicas demarcam a passagem dos anos. Como elas são acompanhadas pela projeção de videoclipes com imagens referenciais dos períodos evocados, criam-se bolsões autônomos, com vida própria em relação ao enredo. O efeito é de dispersão, apesar de divertirem e fazerem a história andar, justificando as marcas do tempo na aparência física dos personagens. A convergência desses fluxos -o da trama esticada que enreda uma família inglesa e um amante do rock tcheco, e o da história real, da música e da política de dois países- não se efetiva, e o drama se enfraquece.
A encenação de Felipe Vidal e Tato Consorti é ágil e funcional. Otávio Augusto como Max, o filósofo comunista inglês, e Thiago Fragoso como o roqueiro liberal tcheco, constroem desempenhos convincentes.
O grande destaque, porém, é Gisele Fróes, dobrando nos personagens da esposa de Max, Eleanor, uma helenista, e de sua filha hippie, Esme. Principalmente como Eleanor, Fróes alcança os momentos mais brilhantes do espetáculo.
Talvez em Stoppard, mesmo quando se aproxime do melodrama como aqui, prevaleça sempre o embate das ideias. É o que de melhor "Rock'n'Roll" tem a oferecer.


ROCK'N'ROLL

Quando: sex. e sáb.., às 21h, e dom., às 18h; até 18/10
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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