|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/teatro/"Rock'n" Roll"
Stoppard investe no embate de ideias e se sai bem em peça
"Rock'n" Roll" mistura momentos do rock de 1968 a 2000 e marcos históricos
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O teatro debate sobre os
destinos humanos.
"Rock'n" Roll", última
peça de Tom Stoppard, reflete
sobre o ocaso do socialismo e
revisita os fantasmas da Tchecoslováquia comunista.
O tema é recorrente na obra
desse dramaturgo tcheco, radicado e consagrado na Inglaterra. Em 2002, a trilogia "A Costa
da Utopia" explorou, na Rússia
do século 19, ideias que fermentaram a revolução de 1917.
Em "Rock'n'Roll", mais do
que em qualquer outra de suas
peças, trata-se de um acerto de
contas pessoal.
Stoppard especula sobre seu
destino, se não tivesse se radicado no Reino Unido, ao mesmo tempo em que exercita um
olhar de estrangeiro sobre o
país que o acolheu.
Um dos protagonistas é um
jovem professor de filosofia
tcheco que, na infância, morou
na Inglaterra e retorna em
meados dos anos 60 para um
estágio em Cambridge. Será a
partir do conflito de ideias entre ele -que decide em 68, com
a Primavera de Praga, retornar
à Tchecoslováquia- e um professor inglês, comunista convicto, que a trama se armará.
Diante do problema de como
encenar uma trajetória de 22
anos de história recente, de
1968 a 1990, o autor define como eixo a evolução do rock nesse período. Assim, na medida
em que o professor tcheco é um
fanático colecionador de discos, a saga dos personagens, observada por meio de duas gerações, correrá em paralelo aos
fatos históricos, políticos e musicais na Inglaterra e no Leste
Europeu.
Essa opção reflete-se no espetáculo, já que 23 canções antológicas demarcam a passagem dos anos. Como elas são
acompanhadas pela projeção
de videoclipes com imagens referenciais dos períodos evocados, criam-se bolsões autônomos, com vida própria em relação ao enredo.
O efeito é de dispersão, apesar de divertirem e fazerem a
história andar, justificando as
marcas do tempo na aparência
física dos personagens. A convergência desses fluxos -o da
trama esticada que enreda uma
família inglesa e um amante do
rock tcheco, e o da história real,
da música e da política de dois
países- não se efetiva, e o drama se enfraquece.
A encenação de Felipe Vidal
e Tato Consorti é ágil e funcional. Otávio Augusto como Max,
o filósofo comunista inglês, e
Thiago Fragoso como o roqueiro liberal tcheco, constroem
desempenhos convincentes.
O grande destaque, porém, é
Gisele Fróes, dobrando nos
personagens da esposa de Max,
Eleanor, uma helenista, e de
sua filha hippie, Esme. Principalmente como Eleanor, Fróes
alcança os momentos mais brilhantes do espetáculo.
Talvez em Stoppard, mesmo
quando se aproxime do melodrama como aqui, prevaleça
sempre o embate das ideias. É o
que de melhor "Rock'n'Roll"
tem a oferecer.
ROCK'N'ROLL
Quando: sex. e sáb.., às 21h, e dom., às
18h; até 18/10
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme,
195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
Texto Anterior: Livros/Crítica/"O Albatroz Azul": João Ubaldo costura tramas de romance com habilidade Próximo Texto: Mostra de Cinema de SP apresenta programação Índice
|