São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010

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"Passione" põe galã para mendigar

Cauã Reymond conta que se inspirou em experiências reais para compor descida às drogas de seu personagem

Ex-atleta se afunda no crack e some da novela da Globo enquanto ator, na vida real, se recupera de operação no quadril

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

A barba está comprida. O cabelo, ainda não. "Dei uma arrumadinha nele hoje. Já está todo desgrenhado, tomando rumo próprio", conta o ator Cauã Reymond, 30, prevendo as mudanças físicas para o personagem Danilo, da novela global "Passione".
Ele está sem gravar há quase um mês e só volta para o Projac "daqui a algumas semanas" por conta de uma cirurgia no quadril para curar lesão semelhante à que teve o tenista Gustavo Kuerten.
"Surgiu uma urgência para operar. Conversei com o Silvio [de Abreu, autor da trama], que me disse que meu afastamento se encaixava no que ele estava imaginando."
Então o playboy Danilo sumiu. Mergulhou no crack e foi expulso de casa. Seu nome só vai surgir nas conversas da família à sua procura.
"É muito semelhante à vida real. As pessoas somem e reaparecem. Minha saída acabou sendo útil ao drama."
Por enquanto, os esforços de Reymond estão na fisioterapia. "Estou somente lá, ó", diz, apontando para o par de muletas apoiado na cadeira. As sessões vão durar até bem depois de a novela terminar.

BEM BABACA
Danilo, no início, era só um filhinho de papai rico. Silvio de Abreu não escondia a dependência química, mas não explicitava qual seria.
"Quem consome crack se degenera rápido. Tínhamos de esperar para apresentar isso", justifica o ator.
"Fiz o Danilo bem babaca para fugir do estereótipo do bonzinho. Mas cheguei a duvidar que o público fosse sofrer. Tive medo de que, quando eu entrasse na droga, torcessem para eu morrer."
Não foi o que aconteceu. Apesar de estar fora da espinha dorsal da trama, sua história ganhou compaixão.
"Na rua, me contam muitos problemas familiares. Todo mundo tem. É triste. Também tenho uma pessoa na minha família, que não cabe aqui falar. Ela vai para a clínica [de reabilitação]", explica.
Após ver reportagens na internet e se aprofundar no assunto, combinou com um ex-policial para levá-lo à cracolândia, na região da Luz.
"A única pessoa sã é o traficante. Nesse dia era uma mulher no comando. Vi a polícia tocando os viciados de lá. O drogado se torna um zumbi, um rato mesmo."
Por algumas semanas, frequentou o Narcóticos Anônimos e clínicas de reabilitação. "Dá muito trabalho interpretar um drogado sem ser um consumidor. Nunca experimentei [drogas]."
Ele perguntava quem já tinha tomado o mesmo que o personagem, ex-velocista. "No meu desespero para encontrar verossimilhança, descobri muita gente que se droga. Foi um laboratório."
Ajudaram nessa preparação seus recentes papeis no cinema (veja ao lado). "Fui guloso, fiz quatro filmes. Mas, depois da novela, quero tirar férias e me recuperar. Acho que eu preciso."


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