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CRÍTICA
Thriller erótico televisivo sucumbe em mar de clichês
ESPECIAL PARA A FOLHA
O cinema brasileiro rendeu-se à tônica do "roteiro bem
elaborado". Sim, como se costuma dizer, um bom filme começa
por um bom roteiro. Mas o que
prometem os manuais e cursos de
roteirização não seria antes um
modelo de "qualidade total" para
pragmáticos decididos a vender
seu projeto? Esse modelo encontraria seu ideal no padrão americano e sua verdade em arremedos
de filmes comerciais televisivos
como "Tolerância".
O cinema nacional continua,
enfim, a tatear o mercado, por vezes um tanto atabalhoadamente.
"Tolerância", de Carlos Gerbase, é
a prova de que o panorama permanece confuso e não menos tenebroso. O casamento inevitável
com a TV ameaça se consumar
não só na exportação de produtos
televisivos para o cinema, mas na
proliferação de subprodutos televisivos no cinema.
Vejamos os clichês de "Tolerância": uma trama de thriller americano (com a diferença de que não
há Justiça no Brasil), personagens
novelescos (a velha ninfetinha
sensual e ardilosa) e, para excitar
o público, uma boa dose de sexo
(Maitê não convence como advogada, mas, para vender lingeries,
ela parece muito boa) e de sangue.
Trata-se, enfim, de um thriller
erótico televisivo, mas com uma
mensagem de tolerância embutida. Mensagem que, ao que parece,
foi o que restou da história original escrita em 95 por Gerbase. Depois de passar pelas mãos de vários profissionais do roteiro (como Jorge Furtado) e de ser submetido a 12 tratamentos diferentes, o roteiro adquiriu duas subtramas de amargar.
Numa, Júlio (Roberto Bomtempo), editor de uma revista masculina, que foi idealista na juventude
e hoje se contenta em retocar
bundas pelo computador, envolve-se com a melhor amiga da filha. Na outra, sua mulher, a advogada Márcia (Proença), envolve-se com um de seus clientes.
Apesar de ser da geração do
"amor livre", o casal não sobrevive ao ciclo de infidelidades sem
passar por um ciclo de mortes. Da
concepção dos personagens ao
desenvolvimento da intriga, o que
se trama por aqui é a intolerância.
Como poderiam sugerir os cacoetes tarantinescos que se evidenciam tanto nas bifurcações de seu
"roteiro elaborado" quanto na trilha sonora, talvez Gerbase pretendesse apenas reciclar o lixo. Mas
mesmo para isso (Tarantino que
o diga) é preciso talento.
(TMM)
Tolerância
Direção: Carlos Gerbase
Produção: Brasil, 2000
Com: Maitê Proença, Roberto
Bomtempo
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Center Norte e circuito
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