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LITERATURA
Livro lançado nos EUA revela intrigas, disputas e romances nos bastidores do clássico estrelado por Bette Davis
Autor conta trama por trás de "A Malvada"
MARCELO PEN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Celeste odiava Bette, que desprezava Marilyn, que escarnecia
de Zsa Zsa, que debochava de Bette e de Gary, que nunca entendeu
como foi parar naquela história.
Os bastidores de "A Malvada",
fita clássica (de 1950) em que Joseph Mankiewicz devassa os bastidores do teatro, dariam um filmão. Intriga, disputas, ciúmes,
casamentos rompidos, casamentos iniciados: teve de tudo lá. E um
pouco mais. Comentários mordazes. Insultos. Fofoca.
Esse clima bacana é o motor que
gira as hélices de "All about "All
about Eve'" (Tudo sobre "A Malvada"), do jornalista e escritor
Sam Staggs, lançado este ano nos
EUA. Para garantir uma narrativa
bem turbulenta, ele deita e rola
nos pormenores do "filme mais
venenoso" já produzido por
Hollywood.
A história é simples: a ambiciosa Eve Harrington (Anne Baxter)
conquista a simpatia da prima-dona Margo Channing (Bette Davis). É um lobo em pele de cordeiro: dá em cima do namorado de
Margo, o diretor de teatro Bill
Sampson (Gary Merrill), e, por
fim, rouba seu papel na próxima
peça.
"A Malvada" se baseou num caso real, ocorrido com a atriz austríaca Elisabeth Bergner, diva do
teatro nos anos 40. Mas Bette também copiou o penteado, os trejeitos e a voz rouca da "vamp" das
"vamps", a atriz Tallulah Bankhead, para compor a temperamental Margo Channing.
Tallulah nunca a perdoou. Perguntada num programa de rádio
se tinha visto "A Malvada", respondeu: "Todas as manhãs,
quando escovo os dentes". Pouco
depois, ao mencionar Bette Davis,
disse: "Espere até eu pôr as mãos
naquela mulher. Vou arrancar todo os fios do bigode dela".
Bette não deixava por menos.
Execrava Marilyn Monroe, porque acreditava que a jovem aspirante ao estrelato não sabia representar. "Essa vagabundazinha loira acha que pode contracenar rebolando e arrulhando. Bem, não
pode", disse bem alto, para Marilyn escutar. A "vagabundazinha" foi vomitar no banheiro,
contam.
De outra feita, investiu contra
Celeste Holm, bem no primeiro
dia de filmagem. A atriz coadjuvante, que no filme é amiga de
Bette, procurava ser agradável.
Chegou ao set dando bom-dia a
todos. Bette não se moveu. Revirou os olhos e exclamou: "Oh,
merda, boas maneiras!".
Celeste não deixou por menos:
"Bette era tão rude, tão constantemente rude. Acho que tinha algo a
ver com sexo". E tinha. Bette e seu
amante no filme, o anódino galã
Gary Merrill, apaixonaram-se à
primeira vista. Ambos eram casados.
Comenta Zsa Zsa Gabor: "Havia
uma cama no set de filmagens, e,
sempre que voltávamos do almoço, percebíamos que Gary e Bette
a tinham usado durante o intervalo". Zsa Zsa também centra fogo
contra Marilyn. Na noite anterior
ao início das filmagens, diz ter visto quatro homens da equipe entrando na suíte da moça. Em horários diferentes.
Zsa Zsa temia que Marilyn pudesse lhe roubar o marido, o ator
George Sanders, e o proibiu de
conversar com ela. Marilyn revida: "Vi que ela era uma daquelas
loiras que envelhecem dez anos
quando as olhamos bem de perto". E Zsa Zsa na época nem era
loira!
"A Malvada" não foi um estouro de bilheteria ("Sansão e Dalila",
de Cecil B. DeMille, lançado no
mesmo ano, faturou quase quatro
vezes mais), mas obteve 14 indicações ao Oscar, recorde só igualado em 1998, por "Titanic". Ganhou seis, dentre os quais melhor
filme, diretor e roteiro. Bette Davis concorria com Anne Baxter ao
prêmio de melhor atriz. Sua
maior rival talvez fosse Gloria
Swanson, de "Crepúsculo dos
Deuses", mas a novata Judy Holliday garfou a estatueta, por "Nascida Ontem".
Anne Baxter viveu a experiência
de passar de algoz a vítima. Em
1970, o musical "Applause", baseado em "A Malvada", estreou
na Broadway: 18 meses depois,
Anne substituía Lauren Bacall no
papel de Margo. Sobre a peça,
aliás, Billy Wilder afirmou: "Sabe, esse espetáculo daria um excelente filme".
Livro: All about "All about Eve"
Autor: Sam Staggs
Editora: Hardcover
Quanto: US$ 19,96
Onde encomendar:
www.amazon.com
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