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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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Mostra "Imagética" apresenta em Curitiba trabalhos de 75 artistas que rediscutem o meio de fazer arte

A norma do desconforto

Divulgação
Cena da viodeperformance "Sem título #36" (1999), de Amilcar Packer, que está em "Imagética"


FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Qual é uma das mais marcantes características da arte contemporânea? Segundo os curadores da mostra "Imagética", que será aberta amanhã em Curitiba, é a atuação dos artistas em vários meios, como fotografia, vídeo e gravura, gerada por um desconforto com esses próprios meios.
"O desconforto com o meio vai propiciar uma pesquisa, inclusive com a própria técnica que o artista está usando, o que faz com que o interesse deixe de ser o meio em si, mas a melhor estratégia para abordar um assunto, o que fará com que sejam alargados os horizontes desses próprios meios", diz Eduardo Brandão, que divide a curadoria da mostra com Ricardo Oliveros e Ricardo Resende.
Um caso exemplar do conceito dos curadores é o trabalho inédito apresentado pela artista plástica Dora Longo Bahia, composto por quatro partes: uma foto de uma paisagem em Camburi (SP), a mesma imagem transformada em pintura pela artista, depois a foto da pintura e, finalmente, pintura e fotografia misturadas com aquele efeito produzido em cartões postais. A variedade de possibilidades que uma imagem pode alcançar aponta para o desconforto como norma, marca de todos os selecionados para a mostra.
Ao mesclar suportes diferentes, os artistas realizam o que é chamado de produção híbrida, o que, segundo Brandão, "gera uma informação com mais qualidade". A exposição em Curitiba apresenta 75 artistas em sua seção principal, todos trabalhando com produções híbridas. Com isso, a mostra apresenta um complexo panorama da produção contemporânea, que vai de artistas consagrados como Regina Silveira, Carmela Gross e Rosângela Rennó a jovens talentos como Amilcar Packer, Lia Chaia e Ricardo Carioba.
A cidade recebe ainda duas exposições especiais, uma sobre gravura, com 35 artistas (curadoria de Resende e Bernardete Panek), e outra sobre fotografia, com 66 artistas (curadoria de Chico Nogueira), ambas feitas a partir do acervo da Fundação Cultural de Curitiba. "Imagética" é uma fusão da Bienal de Fotografia com a Bienal de Gravura que eram organizadas na cidade. "Pensamos "Imagética" a partir de um caminho trilhado na cidade; é a sequência de uma informação e por isso uma mostra voltada para Curitiba", afirma Brandão, que é editor de fotografia da Revista da Folha e sócio da galeria Vermelho.
O nome da exposição, segundo o coordenador curatorial Ricardo Ribenboim, vem da "discussão da ética da imagem, que se iniciou com a reprodução propiciada pela gravura, passou pela fotografia e se alargou com o uso do vídeo".
Para uma mostra de grandes dimensões como esta, dividida em seis espaços da capital paranaense, os curadores evitaram cair no risco das bienais que, em geral, apresentam muitos artistas, mas apenas uma obra de cada um, tornando assim os trabalhos uma mera ilustração do tema da exposição. "Estamos apresentando aqui quase uma miniretrospectiva de cada artista, com os trabalhos escolhidos pelos próprios artistas", afirma Oliveros.
Com isso, é possível conhecer, por exemplo, a gênese do trabalho de Anna Bella Geiger, 69, que na década de 70 começou a se apropriar de fotografias do norte-americano Ansel Adams, o que gerou seu trabalho com mapas, obra mais conhecida da artista. O mesmo acontece com Regina Silveira, que apresenta suas primeiras gravuras que, posteriormente, se transformaram nas sombras, marcas registradas da artista.
Entre os 75 escolhidos, os curadores apresentam 21 trabalhos de vídeo, auxiliados por Érika Brandão, exibidos na Cinemateca, dos pioneiros da década de 70, como Rafael França, a produções de clipes de DJs como Camilo Rocha e Marky. "É impossível falar de trabalhos híbridos sem citar o videoclipe, que é uma produção híbrida por excelência", diz Oliveros.
O panorama proposto pelos curadores de "Imagética", que está sendo negociada para ser exibida em São Paulo, aponta para uma produção contemporânea brasileira vigorosa, apresentando um conjunto representativo do que os curadores chamam de "artistas pesquisadores". Segundo eles, seria esse o grupo responsável pelo melhor da produção nacional, pois, como afirma Brandão, "quem faz diferença no próprio meio é quem não está usando um único meio; arte é feita por quem está inconformado".

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da Prefeitura de Curitiba.


IMAGÉTICA. Curadoria: Eduardo Brandão, Ricardo Oliveros e Ricardo Resende. Quando: abertura amanhã, 20h; de ter. a sex., das 13h às 21h, sáb., até 19h e dom., das 10h às 17h; até 18/1. Onde: Solar do Barão, Moinho Novo Rebouças, Museu Metropolitano de Arte e outros três espaços em Curitiba (tel. 0/xx/ 41/321-3300). Quanto: grátis


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