|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EVENTO
Programação abre ao público amanhã, com palestra de Moacyr Scliar sobre o humor; quarta é a vez de Herchcovitch
Ciclo analisa influência judaica na cultura
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Com a proposta de divulgar a
cultura judaica para o grande público, o Centro da Cultura Judaica
- Casa de Cultura de Israel começa
hoje, com uma recepção para
convidados, o primeiro Ciclo
Multicultural Judaico-Brasileiro.
Com uma programação que vai
até 24 de novembro e que inclui o
7º Festival de Cinema Judaico, em
parceria com A Hebraica, o centro escalou personalidades com
destaque nas artes para a curadoria de debates. Nomes como o escritor e colunista da Folha
Moacyr Scliar, o estilista Alexandre Herchcovitch, o cineasta Hector Babenco, o chef Breno Lerner
e o maestro John Neschling comandarão painéis sobre as influências da cultura judaica em
seus ofícios.
"A idéia é trazer o grande público para dentro da comunidade",
diz a idealizadora e produtora
executiva, Yael Steiner, 29.
O evento abre para o público
amanhã, às 19h30, com palestra
de Scliar, 66, sobre o humor na literatura judaica moderna, e leituras de textos. Leia os principais
trechos da entrevista com o autor
sobre o assunto.
Folha - O que é exatamente o humor judaico?
Moacyr Scliar - É um humor
muito peculiar, com alguma melancolia. Não é um humor feito
para provocar o riso franco, a gargalhada, e sim o sorriso. É também um humor filosófico, que representa uma defesa emocional
contra o desespero de um povo
acostumado à perseguição.
Folha - Esse humor sempre foi característica do povo judeu?
Scliar - Na verdade, ele é uma característica de um período na história judaica, a partir do fim do
século 19, quando os judeus começam a ser mais perseguidos.
Ele não existia, por exemplo, nos
tempos bíblicos.
Folha - Quem são os grandes expoentes desse humor?
Scliar - Bem, primeiro é preciso
dizer que se trata de um humor
folclórico, de incontáveis historietas. Uma vez eu organizei uma antologia de humor judaico ["Do
Éden ao Divã", ed. Shalom] e fiquei surpreso com a quantidade
de histórias. Devo ter lido umas
2.000 ou 3.000 historietas.
Existe também uma versão literária, em que o maior expoente é
[o ucraniano] Scholem Aleichem
[1859-1916], que é um pseudônimo, pois significa "a paz seja convosco". Esse autor do século 19 retratou a vida nas aldeias judaicas
da Europa Oriental com uma genialidade comparável à de Mark
Twain [1835-1910]. No Brasil, poderíamos dizer que ele tem um toque de Machado de Assis.
E hoje, nos EUA, esse humor é
representado pelo escritor Philip
Roth e pelo diretor Woody Allen.
Folha - E no Brasil, quem seguiria
esse tipo de humor?
Scliar -Vou lhe dizer uma coisa:
para quem tem sensibilidade, é
bastante perceptível a influência
desse humor em Clarice Lispector
[1920-1977], ainda que a temática
dela não seja judaica.
Folha - Onde o humor judaico é
mais perceptível na sua obra?
Scliar - Em toda ela, mas acho
que ele aparece com mais clareza
em "Exército de Um Homem Só"
e em "O Centauro no Jardim".
Não consigo escrever sem essa referência de humor que vem desde
o berço. Meus pais, imigrantes da
Europa Oriental, eram ótimos
contadores dessas historinhas.
Folha - E entre autores de origem
não-judaica, em quem o senhor nota a influência desse humor?
Scliar - O Luis Fernando Verissimo, de quem eu costumo dizer
que é o nosso Woody Allen mais
gordinho e mais talentoso (risos).
Texto Anterior: Cinema: "O Senhor dos Anéis" volta às salas com meia hora a mais Próximo Texto: Cinema: Documenta vai da diversão ao terror Índice
|