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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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DANÇA/CRÍTICA

Grupo americano volta ao Brasil com dois espetáculos baseados na ginástica dos corpos e nos jogos de luz

O Momix entre a arte e o espetáculo

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

O Momix constrói mundos imaginários. Com exuberante dose de fantasia, o coreógrafo Moses Pendleton apresenta em "Super Momix" uma amostragem de seu trabalho, baseado na ginástica dos corpos e nos jogos de luz. Quinta-feira passada, no Teatro Municipal, a apresentação do grupo americano divertiu a platéia com uma sucessão virtuosística de danças acrobáticas.
Um bambolê gigante conduzido por uma superatleta-bailarina. Um casal que se dobra e desdobra, fundidos num corpo só. O gigante e maleável palhaço que se move como uma lagarta de mola, sem pé nem cabeça. Um nadador no seco -no chão que aparentemente desliza. Um grande painel branco onde surgem seres surreais. São cenas e mais cenas que exploram o uso do contrapeso, e as brincadeiras com a gravidade.
Pendleton foi bailarino-fundador do grupo americano Pilobolus, pioneiro na exploração de imagens transformadas do corpo. Seguindo essa linha, o Momix se distingue pelas novas possibilidades de fusão humana (animada, às vezes, pela arte gráfica). Por exemplo, em "Plêiades", onde um céu estrelado, no fundo do palco, se confunde no fim com três bailarinas, que giram incessantemente hastes flexíveis. A tônica da dança vem de um gosto pelo surreal do corpo, no limite de suas possibilidades físicas; encanta pelo virtuosismo e inventividade.
A iluminação tem grande parte no show: oculta e revela os corpos, sugere texturas e imagens. Pode auxiliar na ilusão, manipulando a anatomia do corpo, como na cena do casal que se dobra sobre si. A força muscular e a precisão dos atletas-bailarinos são essenciais, aqui, para o sucesso.
O artifício dos intercâmbios corporais e até do espetáculo circense mais convencional, isento de compromissos maiores, são virtudes da dança-acrobática de Pendleton. É bem verdade que a arte fica sujeita a um único e invariável mote: o virtuosismo, sem outras dinâmicas mais ricas da dança. Quer dizer: o que tem de mais forte (literalmente) acaba sendo também uma fraqueza.
Dança ou circo? O Momix fabrica ilusões engenhosas dos sentidos -são sonhos nos olhos de uma menina. Como a pequena bailarina que comentava ter adorado o contraste entre a dança pesada e dura do "Underwater nš 5" ("Debaixo d'Água nš 5") e a dança leve e suave de "Spawning" ("Desova"), com seus balões brancos, e as mil variações de uma grande e divertida brincadeira.
O grupo segue sua turnê pelo Brasil com dois programas: "Super Momix" e "Passion".


Momix
   
Onde: Brasília (dias 12 e 13/11); Belo Horizonte (dias 15 e 16); Curitiba (dias 18 e 19); Porto Alegre (dias 22 e 23) Inf.: www.dellarte.com.br




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