São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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LITERATURA

No 1º Fórum das Letras, realizado na cidade mineira, escritores se apresentam e interagem com a história local

Ruas de Ouro Preto voltam a abrigar letras nacionais

JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL

Novamente, Dirceu será de Marília, e Marília será de Dirceu. Novamente, líricos sermões ecoarão de dentro das antigas igrejas, já não mais atraentes apenas pelo ouro que banha suas paredes. A partir de agora, as casas coloniais de Ouro Preto e suas ruas de pedras limadas pelos séculos voltarão a ouvir algumas das velhas vozes, assim como algumas novas que têm protagonizado o discurso literário nacional.
Começa hoje o 1º Fórum das Letras de Ouro Preto, que aporta à cidade mineira alguns dos principais nomes da literatura brasileira. Adélia Prado, Luiz Ruffato, Roberto Piva, Marçal Aquino, entre outros, farão as vezes de Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga -a propósito, o autor de "Marília de Dirceu", livro que se passa na cidade. O francês Jean-Paul Delfino e o português Jacinto de Almeida, por suas vezes, ocuparão o lugar de Julio Cortázar e outros estrangeiros que estiveram na cidade e a imortalizaram em suas obras.
"É um encontro literário único, mas sem as plumas e paetês e sem o personalismo que costumam marcar esses eventos", alardeia Guiomar de Grammont, coordenadora do fórum, destacando a mescla que promove entre autores consagrados e outros menos conhecidos do público em geral. Desconhecimento, no entanto, bastante combatido por ela e pela organização, que fez parcerias com rádios e TVs mineiras para divulgar, nos últimos meses, as obras dos autores convidados. "Esse, sem dúvida, é um dos diferenciais do evento", diz Grammont.
O outro, que permite que se compreenda mais plenamente o início deste texto, é o grau de interação do fórum com a cidade que o sedia. Todas as manhãs, por exemplo, será realizado o assim chamado "passeio literário", que contará com leitura de poemas e apresentação de esquetes relacionadas às ladeiras percorridas e casas vislumbradas.
Na manhã de segunda, mais especialmente, véspera do encerramento, o professor João Adolfo Hansen ocupará o altar da histórica igreja de São Francisco de Assis para uma leitura comentada de alguns sermões. Profanando um pouco mais o sagrado, todas as noites serão realizadas também as "vias-sacras poéticas", saraus em bares, restaurantes e cafés com a participação de poetas como Fabrício Carpinejar e Alice Ruiz.
Promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto, o encontro pretende receber, até a próxima terça, cerca de 4.000 pessoas. Se de suas peles transpirar a densa história cultural e literária da cidade, seus séculos de ouro e palavra, o evento terá cumprido sua missão.


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