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CINEMA
Com abertura hoje, festival que celebra a diversidade sexual apresenta "Curva", filme que segue o movimento
Estilo Dogma chega ao Mix Brasil 2005
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dez anos após ter surgido com
um manifesto ético/estético, que
criticava os padrões superficiais
do cinema contemporâneo, o
Dogma surge agora em versão
gay. Nem mesmo seus criadores,
os dinamarqueses Thomas Vinterberg e Lars von Trier, fazem
mais filmes baseados em seus
princípios. Pois uma das novidades da programação do 13º Festival de Cinema e Vídeo da Diversidade Sexual, o Mix 2005, que começa hoje, é o filme "Curva"
(Gypo), da diretora britânica Jan
Dunn, elaborado a partir dos dez
mandamentos do "voto de castidade" do Dogma.
"Foi uma decisão criativa", diz
Dunn. Desde que foi criado, o selo
do Dogma já foi cedido a 50 produções, nenhuma no Brasil, e
"Curva" é o primeiro filme britânico com o carimbo.
O longa divide uma só história
em três momentos, cada um deles
visto pelo ângulo de um de seus
principais personagens. Basicamente é a vida de um casal de
meia-idade em crise, Paul (Paul
McGann) e Helen (Pauline
McLynn), que se transforma após
conhecerem a jovem imigrante cigana Tasha (Chloe Sirene). Mais
do que um filme sobre temática
homoerótica, "Curva" (uma forma pejorativa de se referir a ciganas) trata do preconceito, tema
tão em voga na Europa, vide os
enfrentamentos recentes na França. "Se uma ou duas pessoas, em
cada sessão do filme, mudarem
suas opiniões racistas e homofóbicas, estarei feliz." Leia a seguir a
entrevista de Dunn à Folha.
Folha - O manifesto Dogma já
tem dez anos. Por que realizar um
filme segundo esses princípios?
Jan Dunn - Foi uma decisão totalmente de criação, não baseada
em questões financeiras, mesmo
que baixos orçamentos prestem-se às regras do Dogma. Eu queria
filmar um drama social e realista
com câmera na mão e em apenas
uma locação, a ilha Thanet, numa
pequena área da costa sudeste da
Inglaterra. Encontrei-me com
Elaine Wickham [produtora],
contei que queria realizar um filme de baixo orçamento e perguntei se ela gostava do Dogma -em
geral isso supõe que o filme dificilmente será vendido. Para minha surpresa ela contou que é fã
do Dogma e mencionou todos os
filmes baseados em seus princípios, que eu mesma não conhecia.
Foi então que percebemos não
haver "oficialmente" filme inglês
do Dogma, apesar de muitos terem se chamado de Dogma, por
conta dos seus distribuidores. Então, nós nos encontramos com
Vibeka Windelov, a produtora de
Lars [Von Trier]. Ela foi formidável e inspiradora e nos contou que
pensavam em encerrar o Dogma
no aniversário de dez anos, em
março passado - e nós terminamos as filmagens no dia 5 daquele
mês. Mas o sistema ainda funciona e pode-se simplesmente fazer
um download do certificado pelo
site do Dogma na internet.
Folha - De acordo com o "voto de
castidade" número 8, filmes de gênero não são aceitos. Isso foi discutido com o escritório do Dogma?
Dunn - Acredito que a questão
do gênero esteja baseado no narrativo, e "Curva" dá mais ênfase a
um personagem do que a uma situação. Claro que quero vender o
filme, apesar de não ver nele nenhum apelo "comercial", mas somos gente de negócio e cineastas.
Como acredito que não se trata de
um filme de gênero, "Curva" tem
sido citado como Dogma na imprensa e em catálogos, o que não
me incomoda pois é mesmo um
Dogma. Ele não é um filme de gênero justamente porque foi pensado para ser realizado dentro das
regras do Dogma.
Folha - Há uma tradição de filmes
de arte ingleses com temática homossexual, como as produções de
Derek Jarman e Stephen Frears.
Eles foram influência para você?
Dunn - Não sou fã desses diretores e nem necessariamente sou influenciada por filmes ou diretores
gays. Apenas adoro filmes e vi
tantos que tenho múltiplas influências de bons diretores, roteiristas e histórias. Nesse momento
eu e Elaine estamos muito ligadas
em Todd Solondz ["Histórias
Proibidas"]. Ele se arrisca tanto
na narrativa quanto nos personagens. Gosto ainda de filmes não-lineares, como "21 Gramas", mas
a inspiração para "Curva" veio do
alemão "Corra, Lola, Corra".
Folha - Em geral, filmes do Dogma não têm final feliz. Você ficou
em dúvida sobre como terminar
"Curva"?
Dunn - Finais tristes não são regra do Dogma. Três pessoas da indústria do cinema disseram que
"Curva" é como um Ken Loach
com final feliz. Adoro finais felizes
e queria que a mulher ficasse com
a mulher. Mesmo assim, não dou
a elas mais que três meses naquela
relação!!!!!!
Folha - Você quer continuar utilizando as regras do Dogma?
Dunn - De jeito nenhum. Adorei
a experiência, mas constatei que
gosto de uma boa trilha sonora
[proibida pelas regras do Dogma]. Tive que pensar muito sobre
as regras com música e fiquei pensando sempre que "Os Pássaros"
não tem trilha e mantém o apelo.
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