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CRÍTICA/MARTA GRAHAM DANCE COMPANY
Grupo exibe marcos internacionais da dança moderna
INÊS BOGÉA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
A noite começa com quatro
solos e termina com o grupo
todo na cena. São peças que vão
de 1916 a 1981, revelando muito da
dança de uma das principais figuras da modernidade: Martha Graham (1894-1991). Depois de passar por tormentosas questões de
direitos autorais, a Martha Graham Dance Company volta à ativa esbanjando qualidade, como se
viu na estréia, sexta passada no
Rio de Janeiro.
Os solos são bem distintos, tanto em termos de movimento
quanto de proposta. "Serenata
Morisca" (1916) é uma criação de
um dos precursores da dança moderna, professor de Graham, Ted
Shawn (1891-1972). De saia rodada e com guisos no pés, Jennifer
DePalo-Rivera domina o palco
com todo um gestual de sedução.
Seu solo serve de contraponto a
um dos grande momentos da
dança de todos os tempos: "Lamentation" (1930). Aqui o corpo
está contido por um tubo de jerséi
e desliza dentro dele criando formas no espaço. Comprimido e expandido pelo tecido, o corpo encontra e escapa de si. A beleza
plástica e a densidade dramática,
intensificando a música do modernista húngaro Kodaly, ganham forma agressiva e resistem
à formalização.
"Satyric Festival Song" (1932) é
uma peça divertida, dançada por
Miki Orihara. O movimento do
longo cabelo, o detalhe dos gestos
e o corpo que não pára de pular
trazem boa dose de humor para a
cena. Já "Deep Song" (1937) é um
"grito de agonia" em resposta à
Guerra Civil Espanhola.
Em todas as peças, o cenário é
praticamente só luz e corpos. E os
figurinos, criações da própria
Graham, são preponderantes. Em
"Diversion of Angels" (1948), a
bailarina de vermelho pinta o palco povoado de bege, amarelo e
branco. São "infinitos aspectos do
amor", acalentados pela música
do americano Norman Dello Joio.
Se os solistas foram todos impecáveis, não se pode dizer o mesmo
do conjunto; na última peça, por
exemplo, não se poderia deixar de
notar pequenos desequilíbrios e
desencontros, que não comprometem o espetáculo, mas incomodam um pouco.
A última peça da noite de sexta,
no Rio, foi "Acts of Light" (1981),
que faz referência a trabalhos anteriores, como "Lamentation".
Aqui o jérsei é branco e o corpo da
solista está mais solto no espaço.
Na última cena, com os corpos
todos em malha dourada, vê-se
quase uma aula da técnica Graham, em que contração, torção,
relaxamento e suspensão são o
fundamento de tudo. O resultado
são figuras de um mundo dado
como expressão e fenômeno, onde a sensação tem prioridade.
Nesse mundo -o nosso mundo- a dança de Graham continua inventando mitologias, que nos explicam e justificam.
A crítica Inês Bogéa viajou a convite da
produtora Antares
Marta Graham Dance Company
Quando: hoje, às 20h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nš, tel. 223-8698)
Quanto: de R$ 10 a R$ 140
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