|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMIDA
Conheça os utensílios para finalização de pratos usados em um restaurante na França e saiba onde encontrá-los por aqui
Paris em casa
RITA LOBO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE PARIS
Um dos motivos pelos quais
adoro viajar é que boa parte da
culpa por comer e beber à vontade desaparece, ou melhor, os juros pagos em gordura localizada
valem a pena. Em Paris, então,
pular uma única refeição, mesmo
que seja o chamado lanchinho da
tarde, parece pecado. Penso em
voz alta, "estou em Paris, a manteiga é melhor, o pão é melhor...".
Ou então: "Ah... este queijo não
vai ter em São Paulo". O segredo
para não titubear e ter uma crise
de reeducação alimentar é, além
de não subir na balança, levar na
mala o guarda-roupa de ir e o de
voltar (até dois números maior).
Fui jantar no Meurice, considerado por muitos o melhor restaurante de Paris na atualidade. A
minha dificuldade em escolher
apenas um prato principal devia
ser patente. O garçom sugeriu o
"menu dégustation". Vieiras, langostines, foie gras, galinha-d'angola. Sete pratos depois, tive a
sensação que não conseguiria comer mais nada. Chegou a primeira sobremesa. Quem poderia resistir à uma "feuillantine" de moranguinhos do bosque? Bom, por
sorte, eu não. Então, veio a segunda sobremesa. Resultado: nove
pratos indescritíveis e uma caminhada de 30 minutos até o hotel
para voltar a raciocinar.
Dias depois, volto ao Meurice, e,
desta vez, não é para jantar. São
oito da noite, e estou na cozinha
do restaurante, com uma caneta e
o meu inseparável caderno. Quero descobrir se é possível adaptar
à cozinha doméstica algo da alta
gastronomia de Yannick Alléno,
chef que conquistou a segunda estrela do prestigiado guia "Michelin" para o Le Meurice.
O "sous-chef" grita o pedido.
Como numa competição, os cozinheiros se dividem em equipes e
correm contra o relógio para preparar os pratos que precisam ficar
prontos ao mesmo tempo. Um
cozinheiro abre uma gaveta-geladeira e retira uma posta de peixe;
a outra, única mulher da cozinha,
assa os aspargos branqueados envoltos em bacon. Costeletas de
cordeiro são temperadas com um
bocado de pimenta, um foie gras
vai para a frigideira. Os pratos vão
ficando prontos. Uma saladinha
de verdes é arrumada dentro de
um aro modelador de cerca de 12
cm, que, aliás, faz metade do trabalho da apresentação das receitas. Em 30 segundos, o cozinheiro
desossa uma coxinha de pombo
que é colocada sobre a salada. O
aro é retirado, e o chef dá o toque
final de cada prato, que é levado
ao suntuoso salão.
Nada aqui é simples. Nem o preparo nem os ingredientes. Embora o resultado seja justamente
uma enganosa simplicidade.
"Meu objetivo é aumentar ao máximo o gosto natural de cada ingrediente rigorosamente escolhido", explica o chef Alléno, responsável, também, por toda a
operação de alimentos e bebidas
do Hôtel Meurice.
É difícil acompanhar a preparação dos pratos. É impossível prestar atenção ao passo a passo de
seis cozinheiros e saber, como
num quebra-cabeças, qual ingrediente irá encaixar no prato com o
outro. O chef finaliza mais uma
montagem, tampa o prato com o
cloche, para que a refeição não esfrie ao subir pelo porta-carga. Resolvo acompanhar o prato. Subo a
escada correndo, mas o prato é
mais rápido do que eu. Yannick ri
e diz que para ele cozinhar é competitivo, esportivo. Posso entender. Ele verifica como estão sendo
finalizadas as vieiras com "espuma do mar"; na verdade, água salgada e um pouco de manteiga
derretida passadas por aquela
mesma maquininha de fazer espuma para o leite do café, sabe?
O movimento na cozinha começa a diminuir. Tenho uma lista
de utensílios da cozinha de Yannicka Alléno que podem ser úteis
na apresentação de pratos de
qualquer cozinha doméstica. É
hora de me despedir.
Rita Lobo é autora do livro "Cozinha de
Estar", da editora Códex, e diretora do site www.panelinha.com.br
Texto Anterior: Imagem e semelhança: Artista plástico expõe "luladepelúcia" no Rio Próximo Texto: Comida: Piccolo é achado de bom gosto em Perdizes Índice
|