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Vencedor do Booker Prize minimiza peso do prêmio
Autor indiano Aravind Adiga diz que em seu país "ninguém liga para essas coisas'
Humor sombrio de "O Tigre
Branco" não disfarça discurso
político por trás do primeiro
romance do escritor, que
nega ter feito "tratado social"
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ainda que sombrio, o humor
de "O Tigre Branco", romance
de estréia do indiano Aravind
Adiga, que venceu o Booker
Prize 2008, não disfarça a crítica social por trás da trama. Trata-se de reflexo direto do discurso politizado de seu autor,
que diz à Folha que seu prêmio
não tem "tanta importância".
"Veja bem, vivo na Índia, onde ninguém liga para coisas como prêmios; 60% da pessoas
em Mumbai vivem nas ruas,
tentando sobreviver. Há coisas
mais importantes. E isso é bom
para mim, significa que estou
próximo da realidade."
Nascido de uma família abastada, em 1974, em Madras, Adiga estudou nas universidades
Columbia e Oxford e é formado
em literatura. Trabalhou para
publicações como "Financial
Times", "Independent" e "Sunday Times" e diz ter tirado de
suas andanças em vilarejos indianos a voz de seu protagonista, Balram, anti-herói em que
espelha a sociedade indiana
diante do milagre econômico.
"Ele é um tipo de pessoa que
você conhece se viaja pela Índia. Aqui, a maioria das pessoas
vive em cidades pequenas, apenas uma pequena parte da população está nas cidades grandes. Pessoas como eu, que vivem nessas cidades grandes,
não têm noção de como é a vida
nessas cidadezinhas. Como jornalista, tive a chance de viajar e
ver de perto como eram as condições das pessoas pobres, da
classe operária. Ou dos desempregados que ficam vagando
por bares, estações de trem etc.
Balram é assim. Uma pessoa
que não é representada na ficção na Índia, seja na literatura,
no cinema etc. Eu queria captar essa voz, e Balram foi construído a partir de muitas pessoas com quem falei."
A realidade indiana que Adiga comenta não é de todo estranha ao Brasil. O autor lembra
que alguns países da Ásia, como a Índia, tiveram um rápido
crescimento econômico nos últimos dez anos, mas não para
toda a sociedade. De modo que
as divisões de classe aumentaram profundamente. "E isso é
uma questão urgente, porque
essa divisão criou tensões, até
mesmo religiosas. Nesse sentido, "O Tigre Branco" trata de
uma questão urgente para muitos desses países."
Best-seller na Índia
Segundo Adiga, "O Tigre
Branco" foi best-seller na Índia, onde vendeu mais de 20
mil cópias, está entrando na segunda edição e deve chegar a
cem mil exemplares em um
ano. Apesar de seu retrato da
Índia não ser dos mais elogiosos, o autor conta que, no país,
ao menos na imprensa, a resposta da maioria foi positiva:
cerca de 70% contra 30% de
reações negativas.
"Sempre foi minha intenção
ser controverso, eu não queria
agradar a todos. As pessoas não
estão acostumadas a ver os pobres descritos nos livros, embora eles sejam 60% do país. O tipo de pessoa que criticou era
quem eu queria incomodar."
Apesar do discurso político,
fundamentado em dados que
sabe de cor, Adiga ressalta que
seu romance não é um trabalho
jornalístico ou tratado social.
"É fundamentalmente a história de um homem que vem de
um vilarejo para uma cidade
grande, acha que vai ficar rico,
mas acaba vendo que será um
serviçal", diz Adiga, adiantando
a virada de seu personagem.
"Na Índia, se você é pobre e
rouba, toda sua família cai em
desgraça. É até ameaçada. Quis
contar a história de um homem
que está disposto a sacrificar
sua família e fugir. Um indivíduo que quer ficar rico, não importam as conseqüências."
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