São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Lenny e Osklen salvam Claro Rio Summer do naufrágio

As duas grifes se apresentaram num desfile conjunto, numa tenda nas areias de Ipanema, no último dia do novo evento de moda, que reuniu 16 marcas

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

Colocar as grifes Osklen e Lenny -duas das melhores do país- numa só passarela é um golpe teatral bombástico. E foi assim que terminou o Claro Rio Summer, no sábado: com um grand finale encenado em parceria pelas marcas cariocas.
Além disso, o espetáculo teve um cenário espantoso: uma tenda nas areias de Ipanema.
A idéia de fazer o desfile conjunto partiu das próprias grifes. As novas coleções não são tão fortes como as exibidas em junho, mas ainda assim impressionaram -pela firmeza da concepção, como na Lenny, e pelos achados poéticos, como o chapéu panamá da Osklen.
Há, porém, um sentido oculto nesta dupla apresentação.
Como Lenny desfila no Fashion Rio, e Osklen, na São Paulo Fashion Week, reunir as grifes no mesmo desfile resulta numa tentativa simbólica de juntar as duas semanas rivais do prêt-à-porter brasileiro -ou de negá-las dialeticamente, propondo uma nova síntese.
O Rio Summer se meteu neste vespeiro que são as fashion weeks no Brasil com a empáfia de um novo rico, mas também com chances de subverter toda a geopolítica fashion do país.
O publicitário Nizan Guanaes, pai do evento, arrecadou mais de R$ 7 milhões em patrocínios -o que permitiu muitos luxos, como trazer o estilista Valentino e uma boa penca de convidados, instalá-los em hotéis caros e fazer um show privado de Caetano Veloso.
Do ponto de vista estratégico, o Rio Summer quer se posicionar como uma semana anual de "alto verão", que venderá a moda praia e o "lifestyle" brasileiro ao mercado externo.
Mas pesam questões sobre este posicionamento, como o fato de que, nesta época do ano, boa parte dos compradores internacionais já encerrou suas contas para o verão e ainda não iniciou as do alto verão.
Outro enigma: das 16 grifes que se apresentaram, só a metade faz especificamente moda praia -o que, em tese, significa que na outra metade deste evento cabe todo tipo de design de moda, como ocorreu. Que fator impediria que ele fosse absorvendo tudo que lhe interessasse no futuro, sob o rótulo de "lifestyle brasileiro"?
A principal dúvida, porém, é saber se o evento, que nasceu com grande apetite midiático e um desejo voraz de reformular a cosmética das fashion weeks brasileiras, vai se conformar em ser apenas tópico secundário na agenda nacional da moda -uma festa de negócios com champanhe francês- ou se vai também exibir a parte mais criativa da moda do país.
Bem organizado (para uma edição inicial), o evento, no entanto, só pôde oferecer desta vez marcas imaturas, coleções precárias ou grifes que fizeram simples desdobramentos de suas exibições anteriores (exceções: Salinas, e algo de Raya de Goeye, Iódice, Rosa Chá e Jo de Mer). Lenny e Osklen salvaram tudo do naufrágio fashion.
Para ter um futuro relevante, o Rio Summer precisa lançar o desafio comercial e criativo do alto verão não só para grifes amigas da organização, mas também para os principais designers brasileiros. Destes, havia muito poucos no evento.


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