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TEATRO
Marta Suplicy sanciona lei que institui o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo
Arte contra a Barbárie ganha recursos
VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em dezembro de 2000, cerca de
300 artistas da classe teatral paulistana entoaram "Ô, Abre Alas",
de Chiquinha Gonzaga, no plenário da Câmara. Anteontem, as
alas foram oficialmente abertas
com a publicação, no Diário Oficial do Município, da lei que institui o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de
São Paulo.
"Foi uma vitória", diz o diretor
Luiz Carlos Moreira, 52 (grupo
Engenho), integrante do núcleo
responsável pela redação do projeto de lei concebido a partir dos
encontros do movimento Arte
contra a Barbárie.
Apresentado pelo vereador Vicente Cândido (PT), o programa
foi aprovado por todas as comissões e defendido em plenário por
integrantes de outros partidos
(PSDB, PDT, PC do B, PPB, PFL
etc). A última votação ocorreu na
antevéspera de Natal. Terça passada, a prefeita Marta Suplicy
(PT) sancionou a Lei 3.279, cujo
objetivo é "apoiar a manutenção e
criação de projetos de trabalho
continuado de pesquisa e produção teatral visando o desenvolvimento do teatro e o melhor acesso
da população ao mesmo".
O Programa Municipal de Fomento ao Teatro terá, no mínimo,
R$ 6 milhões. No bolo de R$ 118,9
milhões do orçamento de 2002
para a Secretaria Municipal de
Cultura, uma emenda já garante
R$ 2,5 milhões para o programa
(verba a ser administrada pelo
Departamento de Teatro).
Segundo Cândido, a prefeitura
se compromete a repassar os outros R$ 4,5 milhões ao longo do
ano, para cumprir o teto mínimo
estipulado pela nova lei. Uma comissão selecionará até 30 projetos
por ano, não necessariamente espetáculos. O prazo para inscrições
será divulgado nos próximos dias.
"A lei é auto-regulamentada e
não perde a perspectiva da cidadania", diz o diretor do Departamento de Teatro, Celso Frateschi,
49, que pretende estendê-la a outras áreas a partir de 2003.
"É um programa que surgiu de
baixo para cima, a classe conseguiu se articular e sensibilizar o
Legislativo e o Executivo. Isso
abre flanco para outras mobilizações", afirma o diretor Antônio
Araújo, 35 (Teatro da Vertigem).
"Temia que a prefeita criasse algum tipo de problema, depois da
bola fora que deu em relação ao
Oficina [apoio ao projeto do
shopping de Silvio Santos no
quarteirão do teatro, no Bexiga".
Felizmente, agora foi uma bola
dentro", diz Araújo.
"Foi um passo importante. A vitória é evidente quando os artistas
se unem em torno de um objetivo", afirma o encenador José Celso Martinez Corrêa, 64 (Oficina
Uzyna Uzona).
"Espero que a prefeita aproveite
esse momento para rever sua posição sobre a idéia do teatro-estádio, da arte ao vivo, da cidade viva
que precisa se elevar além do enquadramento do espetáculo de
produto, de consumo, de diversão "shoppingcenterizada", para ir
de encontro ao teatro da pessoa, à
máxima proliferação popular do
teatro", diz Zé Celso.
Iniciativa de companhias como
Folias D'arte, União e Olho Vivo,
Oficina Uzyna Uzona, Tapa, Parlapatões, Pia Fraus, Cia. do Latão,
Teatro da Vertigem, Cia. São Jorge Variedades, o Arte contra a
Barbárie surgiu em abril de 99 como fórum itinerante, percorrendo sedes dos grupos para discutir
políticas públicas e privadas de
apoio à produção cultural.
As primeiras reuniões, lembra o
palhaço Hugo Possolo (Parlapatões), "eram verdadeiras aulas sobre ética" dadas pelo encenador e
cenógrafo Gianni Ratto, da geração de imigrantes italianos que
chegou nos anos 40 e 50.
O movimento superou divergências estéticas e ideológicas,
vinculou-se a outras áreas (cinema, dança) e atraiu para seus debates intelectuais como o geógrafo Milton Santos, o filósofo Paulo
Arantes e a psicanalista Maria Rita Kehl. Logo inspirou artistas do
Rio, Belo Horizonte, Salvador e
Florianópolis.
Cinema
O projeto de lei que cria o Cecin
(Centro de Cinema de SP), destinado ao fomento da produção e
distribuição de filmes, tem garantidos R$ 2,5 milhões na previsão
orçamentária deste ano. Segundo
o cineasta André Sturm, o documento deve ser votado quando a
Câmara retomar as atividades.
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