BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Rindo do dia-a-dia profissional, em que as figuras exóticas de um escritório preenchem um ambiente sempre prestes a pegar fogo, a série inglesa "The Office" não é apenas mais uma comédia de situações.
O que mais chama a atenção é a maneira realista e amarga com que retrata o cotidiano. A série brinca com temas como demissão por justa causa, corte de funcionários e discussões entre chefes e empregados.
"Não acho que somos cruéis e nem estamos tentando dizer que as pessoas que trabalham em escritórios são perdedoras", diz Stephen Merchant, que ao lado do protagonista Ricky Gervais, escreve e dirige "The Office" -exibida no Brasil na TV paga, pelo Eurochannel.
A história se passa num sufocante escritório de uma empresa distribuidora de materiais de escritório. E lá estão os tipos que, pela enorme cretinice, acabam sendo universais e reconhecíveis para qualquer público. Tem a secretária gostosona que todos cobiçam, o assistente puxa-saco do gerente, o desocupado que passa o dia enviando e-mails pornográficos e passeando pelo escritório, enfim, é uma comédia que provoca engasgos na garganta.

"Lista"
"Os personagens não são baseados em pessoas específicas. Fizemos uma lista com todos com quem um dia já trabalhamos e percebemos que nós dois tínhamos trabalhado com os mesmos perfis de pessoas."
Muito do humor amargo deve-se a Gervais, também protagonista de "The Office". Ele é David Brent, um chefe supostamente bonachão (e gordinho), que faz um esforço danado para ser amigo de seus subalternos. Prega a filosofia do "antes de ser um chefe, quero ser seu amigo" ao fazer brincadeiras que embaraçam a todos. Por trás da face amiga, Brent revela-se um chefe medíocre, incapaz de lidar com inevitáveis demissões solicitadas pela matriz e sempre pronto para não assumir seus erros -a culpa desses fica para seus funcionários.
Sua atuação é tão convincente que a dúvida que fica atrás da orelha é: trata-se de um ótimo ator ou trata-se de um sujeito realmente cretino? "A vida real frequentemente é cruel, e o que nos fascina são seus momentos difíceis."