São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 2011 |
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CRÍTICA JORNALISMO John Reed fez relato primoroso da vida cotidiana durante a Revolução Russa
LUÍS EBLAK EDITOR DA FOLHA RIBEIRÃO Dizem nas redações que repórter, além de ser bom, tem que ter sorte. E John Reed (1887-1920) tinha. Ele estava na Europa cobrindo a Primeira Guerra Mundial quando estourou a Revolução Russa (1917). Correu para lá, cobriu os fatos e escreveu um livro, "Dez Dias que Abalaram o Mundo", que se tornou um clássico do jornalismo e tem um dos títulos mais felizes da história da literatura. Relançada agora pela Penguin-Companhia com nova tradução, a obra do norte-americano Reed concentra seu relato nos acontecimentos de pouco mais de uma semana de novembro de 1917. Apesar de jornalístico, o texto flerta com a imaginação do autor, como alerta o historiador A.J.P. Taylor (1906-90) na introdução da própria obra: "Boa parte do livro" é ficção. Mas a riqueza de "Dez Dias que Abalaram o Mundo" está na narrativa que ele faz sobretudo da vida cotidiana de Petrogrado em plena Revolução Russa. Um exemplo está na descrição sobre a arquitetura do Instituto Smolny -colégio interno de filhas da nobreza no antigo regime transformado naquela época em QG revolucionário. Nesses momentos, Reed parece até se incomodar com o fato de as pessoas aparentemente não ligarem para a revolução. Escreve ele: "Poetas compunham versos -mas não sobre a Revolução [...] Jovens senhoras vinham do interior para a capital para estudar francês e canto". Reed não praticava o "jornalismo objetivo" que começava a se impor na imprensa americana -"não fui eu um homem neutro", disse. Reed não escondia suas preferências. Apesar de sua formação elitista -diplomou-se em direito pela Universidade de Harvard-, o autor simpatizava com os movimentos sociais antes mesmo da Revolução Russa. Em 1914, cobriu a revolta liderada por Pancho Villa (1878-1923), que originou o livro "México Insurgente". Morreu cedo, aos 33 anos incompletos, de tifo, e em Moscou, onde foi velado como herói na Praça Vermelha. Resta saber se a obra de Reed, relançada agora, em plena era do individualismo e do consumismo, terá o mesmo sucesso. Afinal, seus relatos sobre um movimento que pregava o coletivismo e o socialismo parecem hoje incompatíveis com a fixação pelos iPads e outros últimos lançamentos tecnológicos. DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO AUTOR John Reed EDITORA Penguin-Companhia das Letras TRADUÇÃO Bernardo Ajzenberg QUANTO R$ 28 (504 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Crítica/Música erudita: Maior violoncelista do Brasil tem história contada em livro Índice | Comunicar Erros |
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