São Paulo, sábado, 11 de março de 2000


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Álvaro Siza vem projetar nova casa de Iberê Camargo


Arquiteto português chega em abril para mostrar projeto para a fundação do pintor gaúcho


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O arquiteto português Álvaro Siza está prestes a retomar no Brasil uma iniciativa que tem rendido muitos marcos arquitetônicos no mundo, mas poucos no Brasil.
Siza chega ao país no início de abril para assinar o contrato para a realização do projeto da futura sede da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre (RS).
Em 1936, a colaboração entre o arquitetos franco-suíço Le Corbusier e os brasileiros Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leão e Hernandi Vasconcelos resultou no Palácio Gustavo Capanema, ex-sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio, um marco da arquitetura moderna do país.
Siza, que também mantém seus dois olhos voltados para o modernismo brasileiro, vem visitar o terreno da fundação, assinar o contrato e apresentar seu pré-projeto da obra à comunidade. Na ocasião, entrará em contato com a obra de Iberê e com o comitê consultivo da obra, criado para analisar e adequar o projeto às necessidades e especificidades da fundação.
Entre os membros desse comitê estão o engenheiro agrônomo e ecologista José Antônio Lutzenberger, responsável pelo paisagismo do terreno, que terá um conceito ligado à ecologia e ao meio ambiente; o arquiteto Pedro Simch, responsável pelo projeto-executivo da obra; e o arquiteto Roberto Teitelroit, que cuidará da adequação da construção a questões ambientais e de auto-sustentabilidade do edifício.
"O projeto final deverá responder a questões ambientais, como o tratamento de esgotos e a captação e uso da energia despendida em climatização e iluminação. O prédio deverá ser ecologicamente correto. A fundação não só ensinará artes plásticas, mas deverá se tornar uma referência nacional em questões arquitetônicas e ambientais", disse o empresário Justo Werlang, tesoureiro da Fundação Iberê Camargo. O presidente do conselho é o empresário Jorge Gerdau Johannpeter.
O terreno da fundação fica na zona sul de Porto Alegre, em um terreno de 8.200 metros quadrados à margem do rio Guaíba, em uma antiga saibreira (terreno de onde se extrai o saibro, tipo de rocha em decomposição).
"O terreno possui um declive muito acentuado e uma parte plana. O prédio deverá ocupar essa parte plana, mas não ultrapassará a altura do terreno, para que ele pareça emoldurado pelo terreno. Terá entre 5.300 m2 e 6.000 m2", disse Werlang. O detalhamento do projeto deve demorar de nove a 12 meses. A obra deverá estar pronta dois anos depois desse período, no início de 2003.
"O projeto faz parte de um processo urbanístico desenvolvido pela cidade às margens do rio Guaíba. Ele vai resgatar a relação da cidade com o rio", disse o arquiteto José Luiz Canal, responsável pela coordenação dos trabalhos de implantação do projeto.
A escolha de Álvaro Siza partiu do conselho da fundação e não passou por nenhum tipo de concurso. "A Fundação Iberê Camargo procurou se lançar em um projeto que não comportasse erros, que eles já tivessem sido detectados e resolvidos em museus anteriores. Por isso optou-se por um arquiteto que tivesse experiência, um currículo nesse tipo de projeto", justificou Werlang.
Outros arquitetos chegaram a figurar nas listas prévias do conselho, como o japonês Arata Isozaki (Guggenheim SoHo, em NY), Rafael Moneo (anexo do Museu do Prado, em Madri), Richard Meier (Getty Museum, em Los Angeles) e Álvaro Siza. "Todos eles poderiam fazer excelentes projetos, mas Siza levou vantagem pois saiu na frente e elaborou um primeiro estudo a partir de um programa básico de necessidades da Fundação, que nos motivou muito. Moneo não tinha agenda disponível para um novo projeto. Outros aplicavam custos muito altos para o projeto, o que inviabilizaria o museu", disse.
Nenhum arquiteto brasileiro foi cogitado pela fundação. "O Brasil não tem tradição na construção de museus. Nos últimos anos, o país construiu apenas o MuBE e o MAC de Niterói. Corríamos o risco de que fossem cometidos equívocos", disse Justo Werlang
Já o projeto curatorial será desenvolvido por uma equipe fundamentalmente brasileira, que contará com consultores como Emanoel Araújo, Paulo Herkenhoff, Lorenzo Mammi e Angélica de Moraes.
O processo de implantação da fundação começou em 1995, um ano depois da morte de Iberê (1914-1994), quando começaram a ser levantados e discutidos seus objetivos, como a manutenção do acervo do artista e as perspectivas sociais da instituição.
"Queremos que a construção seja ainda muito discutida. É preciso que a fundação interaja com a comunidade e proponha modelos para a sua sustentabilidade. Só assim ele vai alcançar uma justificativa de existência e permanência no tempo", disse Werlang.


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