|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INTERCÂMBIO ARQUITETÔNICO
Protecionismo divide arquitetos brasileiros
da Reportagem Local
Falta de investimentos no setor,
inflação, inadequação técnica, reserva de mercado, desinteresse,
pânico mesmo. Segundo alguns
dos principais arquitetos do país,
são várias as possíveis explicações
para a ausência de intercâmbio
entre o Brasil e arquitetos internacionais de prestígio, quebrada
agora pelo português Álvaro Siza.
Ninguém fala explicitamente
em protecionismo, mas a hipótese é aventada por Lúcio Gomes
Machado, curador da recente 4ª
Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.
"Há uma certa resistência em se
ter um intercâmbio internacional.
Existe um certo pânico com a chegada dos grandes escritórios de
arquitetura pois ainda não estamos conseguindo resolver a
equação entre a importação de
projetos internacionais e sua adequação às características e capacidades arquitetônicas nacionais",
levantou Gomes Machado.
O arquiteto Carlos Bratke, presidente da Fundação Bienal, por
sua vez, critica a reserva de mercado que existe dentro do próprio
país. "Não acredito que haja protecionismo. Fora os grandes bancos, shoppings e corporações, que
podem pagar os honorários, os
arquitetos estrangeiros não têm
grandes interesses em produzir
aqui. A reserva de mercado no
Brasil é que é impressionante.
Mesmo que eu tente produzir em
outra cidade, eu preciso estabelecer uma parceria com um arquiteto local para agilizar os trabalhos pois muitas vezes a implantação do projeto tem que ficar com
o arquiteto local, algo que é muito
provinciano", disse Bratke.
O arquiteto Carlos Teixeira
também não acredita em protecionismo, mas levanta que, até o
momento, a contribuição estrangeira tem se limitado à arquitetura corporativa, área em que o país
não teria necessidade. "De alguns
anos pra cá, cresceu o número de
prédio projetados por escritórios
estrangeiros, principalmente em
São Paulo, que, teoricamente, teriam que estar associados a algum
escritório brasileiro para adaptar
o projeto aos condicionantes legais locais. Infelizmente, essa entrada tem acontecido exclusivamente na área da arquitetura corporativa, do mercado imobiliário,
áreas onde não é necessária a contribuição de estrangeiros", disse
Teixeira.
Gianfranco Vanucchi, vice-presidente da Asbea (Associação
Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) acredita que a inflação
tem sido nas últimas décadas a
grande vilã para a falta de intercâmbio entre o Brasil e os arquitetos estrangeiros. "Não existe xenofobia. O grande protecionista
da arquitetura brasileira nos últimos 20 anos foi a inflação, que
proibiu qualquer intercâmbio.
Existiram dificuldades estabelecidas por questões políticas e econômicas", disse. Segundo Vanucchi, a concorrência entre escritórios brasileiros e estrangeiros deve ser em igualdade de condições,
com os estrangeiros seguindo as
mesmas regras que os brasileiros,
que precisam ter registro no Crea,
pagar impostos etc.
O arquiteto Paulo Mendes da
Rocha também culpa a falta de investimentos e de abertura política
pela ausência de intercâmbio entre o Brasil e os outros países.
"Acho que o Brasil não tem criado
investimentos interessantes para
o mercado exterior. Apenas as
grandes empresas e corporações
têm realizado grandes investimentos. A isso, contribuiu o fato
de termos passado por momentos históricos pouco propícios ao
intercâmbio nas últimas décadas", disse.
Mas Mendes da Rocha não se
ressente disso, já que acredita que
o Brasil ainda é um grande celeiro
produtivo. "Como invenção arquitetônica, nós somos a América. Nós nos libertamos dos cânones arquitetônicos europeus. O
nosso tempo ainda é o de falar e
não o de escutar. Temos ainda um
grande discurso arquitetônico a
ser feito", disse.
O intercâmbio internacional
tem sido a tônica da construção e
da renovação arquitetônica em
vários países desenvolvidos.
Apesar de contar com arquitetos renomados internacionalmente, países como Japão, Espanha e Alemanha têm insistido no
intercâmbio como fonte de renovação arquitetônica e de dividendos turísticos. O Japão, por exemplo, se abriu. Apesar de pátria de
gênios, como Tadao Ando e Arata
Isozaki, entre outros, o país tem
comissionado obras a Jean Nouvel, Renzo Piano e outros.
"No Japão, a importação de
projetos arquitetônicos faz parte
de um projeto cultural de abertura para o mundo. Nós ainda estamos engatinhando nesse sentido,
mas um dia o Brasil terá que entrar nessa globalização cultural",
disse Carlos Bratke.
(CF)
Texto Anterior: Pintor possui site exclusivo Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|