São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 2002

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MODA

Chalayan e Viktor & Rolf são históricos; Herchcovitch agrada estrangeiros

Tecnologia, emoção e natureza se unem em Paris

France Presse
Modelo desfila look do outono-inverno da Givenchy, no sábado


ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL A PARIS

Um banho de criatividade e cultura fashion, sempre, em Paris. A temporada outono-inverno 2002/2003 a consagra mais uma vez como a capital da moda.
A estação que termina amanhã sua fase essencial (a editora da "Vogue America", Anna Wintour, avisou que só ficaria até terça, e todos se viraram para concentrar o calendário; alguns dos que desfilariam depois até cancelaram, como o brasileiro Icarius).
Entre as imagens que já nascem antológicas, nesta temporada, está a da apresentação da coleção "Ambimorphous", de Chalayan, na noite da sexta. Depois de rasgar suas roupas no último verão, algo visto como analogia à guerra e à destruição instaladas no 11 de setembro, o cipriota critica aqui a sociedade pós-industrial.
Começa com uma modelo asiática com roupa 100% étnica (da Turquia), parada por 15 minutos. Gritos, risos, nervosismo e desconforto na platéia reforçam um clima de choque de culturas. Chalayan volta a tratar assim, da condição feminina -ele fez história, nos 90, ao expor na passarela a situação das muçulmanas.
Seguem-se quatro modelos, com looks que, aos poucos, se transformam, cada um mais e mais ocidentalizado, até terminar num tubinho preto (à moda geométrica de Chalayan, claro).
No desfile, com música ao vivo com piano e cordas, peças criativas conseguem manter seu approach comercial, no melhor equilíbrio até hoje obtido pelo estilista -que chegou a quebrar financeiramente, há coisa de dois anos. Em muito preto e marrom, tem glamour rústico, esportivo, anos 80, franzidos e drapeados.
Um vestido de malha se cobre com uma trama de teia de aranha, em preto; outra peça vem com fios entrelaçados, bagunçados, que se misturam, como um robô ou andróide com defeito, aos paetês dourados do étnico do início; pouco depois volta a modelo asiática, para delírio do público.
É como se Chalayan explicasse a febre do folk no mundo (da moda), espécie de busca da pureza numa sociedade tecnologicamente desenvolvida, mas defeituosa.
Também tratando de tecnologia e futurismo, guerra e paz, o desfile da dupla Viktor & Rolf foi outro momento histórico. Com telões e monitores à volta da passarela, as modelos usavam roupas com o azul típico do croma-key, técnica muito usada para recortar imagens na TV e no cinema.
Multidimensional, o resultado cria a verdadeira roupa do futuro, em que se viam desde elementos da natureza (como pássaros, baleias, nuvens e o mar) até carros, incêndios, prédios e a desconcertante visão das torres do World Trade Center. Um espetáculo midiático e fashion, já que a dupla continua a desenhar silhuetas com volumes e materiais.
Mestre das formas, Yohji Yamamoto fornece algumas pistas nesta estação: em tempos de crise, nada melhor do que o clássico. Assim, o criador revisita suas peças características e brilha na alfaiataria de grandes proporções típica de seu 80, aliado ao bem-sucedido esportivo (de 2001).
O brasileiro Alexandre Herchcovitch agradou com seu inverno decorativo, em seu melhor desfile parisiense (casting, locação, data, horário). "Alexandre está em uma boa situação no mercado internacional. Todos já o conhecem", diz o editor da "Vogue Homme", Richard Buckley, que elogiou a silhueta e a alfaiataria com as saias de crinolina. Terry Jones, diretor da "i-D", também gostou, preferindo os looks em verde.



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