São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 2002

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Atriz descobriu ofício com Mnouchkine

DO ENVIADO ESPECIAL

A carioca Juliana Carneiro da Cunha, 53, atribui ao contato com o Théâtre du Soleil a descoberta do teatro como ofício. Até 13 anos atrás, quando fez os primeiros estágios de máscara de Bali com Ariane Mnouchkine, Cunha era mais afeita à dança, dona de currículo invejável.
Estudou com Maria Duschenes em São Paulo, com Pina Bausch e Maurice Béjart, na Europa; dançou na companhia de Maguy Marin, na França. "Como bailarina, eu sempre fiz, digamos, personagens, apesar de se tratar de coreografias. Dancei como Mariana Alcoforado, Santa Teresa D'Ávila e Fedra", lembra.
A primeira vez que interpretou um texto em português foi em meados dos anos 80, na peça "Mão na Luva", de Oduvaldo Vianna Filho, sob direção de Aderbal Freire-Filho.
Em 89, quando entrou no Soleil, encantou-se com o processo de criação. No início de cada montagem, é realizada uma leitura da peça em mesa. "No dia seguinte, na sala de ensaio, os atores entram com o texto na mão, ainda não decorado, e partem paras as proposições sem saber qual personagem irão fazer, se é que irão fazer. Também já estão disponíveis maquilagem, figurinos, luz e outros elementos cênicos", diz Cunha. Até hoje é assim.
"Foi aí que realmente descobri o que é o trabalho do texto. O Théâtre du Soleil permite um processo de criação no qual o ator realmente é transportado, transformado pelo texto, pela máscara", afirma.
Também a atraiu a perspectiva da solidariedade, do trabalho comunitário (no Soleil, atores, técnicos, enfim, todos compartilham serviços de limpeza, manutenção, administração e até de cozinha).
"Com a Ariane, os atores são sempre chamados para questões humanitárias, políticas, sociais", diz Cunha. "A gente não é nada além de humano." O Théâtre du Soleil conta hoje com dez brasileiros, três deles alçados à aventura do trabalho de ator.
Juliana Carneiro da Cunha reafirma que o sucesso de "Lavoura Arcaica" (2000), longa-metragem do diretor Luiz Fernando de Carvalho, no qual interpreta uma mãe libanesa, decorre do trabalho que a equipe realizou por dois meses em uma fazenda. (VS)


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