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ARTES CÊNICAS
Para tentar evitar demissões, músicos paralisaram 17 dos 18 musicais em cartaz no circuito nova-iorquino
Greve apaga Broadway pela primeira vez em 28 anos
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O show não podia parar, mas
parou. Pela primeira vez em 28
anos, quase todos os musicais da
Broadway, em Nova York, foram
suspensos por uma greve.
Quem cruzou os braços foram
os músicos das peças, que tentam
evitar uma onda de demissões.
Do outro lado, os produtores querem reduzir o número mínimo de
músicos por exibição, que é fixado segundo o tamanho e a história de cada teatro.
Deflagrada na última sexta-feira, a paralisação apagou durante
todo o final de semana 17 dos 18
musicais em exibição na Broadway e despertou a ira dos espectadores que se surpreenderam com
as portas fechadas -muita gente
reclamou que produtores e músicos deveriam ter anunciado a greve com mais antecedência.
Mas, até para os dois lados em
litígio, a disputa trabalhista tem
sido uma sucessão de surpresas.
Primeiro, os produtores esperavam continuar com os shows
mesmo sem os músicos. Planejavam substituí-los por equipamentos de música eletrônica. A
idéia naufragou no momento em
que os atores respeitaram os piquetes dos músicos diante dos
teatros, inviabilizando as peças.
Depois, a morosidade das negociações fez com que os produtores
suspendessem já na tarde de sexta
toda a programação do final de
semana, para evitar que mais espectadores acabassem retidos no
frio na porta dos teatros.
Não ajuda muito a diminuir o
prejuízo para a imagem e para os
cofres da Broadway. Apenas no final de semana, calcula-se que evaporaram US$ 5 milhões em ingressos. Além disso, com a paralisação de uma indústria que atraiu
em 2002 11 milhões de espectadores -equivalente à população da
cidade de São Paulo-, não são só
os teatros que têm contas a fazer.
Estima-se que a movimentação
da Broadway injete US$ 4,5 bilhões na economia de Nova York,
dinheiro essencial numa época
em que as finanças da cidade patinam. "É nociva para a nossa economia", disse o prefeito Michael
Bloomberg sobre a greve.
No final de semana, produtores
e músicos se engajavam -pela
imprensa, não na mesa de negociação- numa discussão com ao
menos duas vertentes diversas.
Uma é sindical: os produtores
dizem que os músicos são a única
associação trabalhista dos EUA
que têm um número mínimo de
empregados garantido por lugar.
O argumento é rebatido do outro
lado, que diz ser esta uma tendência e usa como exemplos casos de
enfermeiros e professores que
acordaram mínimos de empregos
em hospitais e escolas.
Outra discussão é de fundo artístico: os produtores falam que
mantêm empregados músicos
demais, desnecessários. Já os artistas afirmam que haveria prejuízo na qualidade das peças.
Os músicos já perderam quedas-de-braço semelhantes no
passado. Quando o cinema deixou de ser mudo, os donos das salas acabaram com a presença das
bandas nas apresentações. Depois, a música ao vivo perdeu espaço nas rádios e casas noturnas.
No circuito da Broadway, hoje,
um teatro grande emprega entre
24 e 26 músicos, e os produtores
querem baixar o número para 15.
Num ano que começava bem
para as finanças dos teatros de
Nova York, o final de semana acabou sem que houvesse nem sequer uma previsão de negociação.
"As apresentações estão suspensas até um novo anúncio", dizia
na noite de domingo um lacônico
comunicado afixado na porta do
teatro onde era exibido o musical
"Chicago", hype do momento
após o filme homônimo, adaptação da peça da Broadway, ter obtido 13 indicações para o Oscar.
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