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São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2003

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ARTES CÊNICAS

Para tentar evitar demissões, músicos paralisaram 17 dos 18 musicais em cartaz no circuito nova-iorquino

Greve apaga Broadway pela primeira vez em 28 anos

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O show não podia parar, mas parou. Pela primeira vez em 28 anos, quase todos os musicais da Broadway, em Nova York, foram suspensos por uma greve.
Quem cruzou os braços foram os músicos das peças, que tentam evitar uma onda de demissões. Do outro lado, os produtores querem reduzir o número mínimo de músicos por exibição, que é fixado segundo o tamanho e a história de cada teatro.
Deflagrada na última sexta-feira, a paralisação apagou durante todo o final de semana 17 dos 18 musicais em exibição na Broadway e despertou a ira dos espectadores que se surpreenderam com as portas fechadas -muita gente reclamou que produtores e músicos deveriam ter anunciado a greve com mais antecedência.
Mas, até para os dois lados em litígio, a disputa trabalhista tem sido uma sucessão de surpresas.
Primeiro, os produtores esperavam continuar com os shows mesmo sem os músicos. Planejavam substituí-los por equipamentos de música eletrônica. A idéia naufragou no momento em que os atores respeitaram os piquetes dos músicos diante dos teatros, inviabilizando as peças.
Depois, a morosidade das negociações fez com que os produtores suspendessem já na tarde de sexta toda a programação do final de semana, para evitar que mais espectadores acabassem retidos no frio na porta dos teatros.
Não ajuda muito a diminuir o prejuízo para a imagem e para os cofres da Broadway. Apenas no final de semana, calcula-se que evaporaram US$ 5 milhões em ingressos. Além disso, com a paralisação de uma indústria que atraiu em 2002 11 milhões de espectadores -equivalente à população da cidade de São Paulo-, não são só os teatros que têm contas a fazer.
Estima-se que a movimentação da Broadway injete US$ 4,5 bilhões na economia de Nova York, dinheiro essencial numa época em que as finanças da cidade patinam. "É nociva para a nossa economia", disse o prefeito Michael Bloomberg sobre a greve.
No final de semana, produtores e músicos se engajavam -pela imprensa, não na mesa de negociação- numa discussão com ao menos duas vertentes diversas.
Uma é sindical: os produtores dizem que os músicos são a única associação trabalhista dos EUA que têm um número mínimo de empregados garantido por lugar. O argumento é rebatido do outro lado, que diz ser esta uma tendência e usa como exemplos casos de enfermeiros e professores que acordaram mínimos de empregos em hospitais e escolas.
Outra discussão é de fundo artístico: os produtores falam que mantêm empregados músicos demais, desnecessários. Já os artistas afirmam que haveria prejuízo na qualidade das peças.
Os músicos já perderam quedas-de-braço semelhantes no passado. Quando o cinema deixou de ser mudo, os donos das salas acabaram com a presença das bandas nas apresentações. Depois, a música ao vivo perdeu espaço nas rádios e casas noturnas.
No circuito da Broadway, hoje, um teatro grande emprega entre 24 e 26 músicos, e os produtores querem baixar o número para 15.
Num ano que começava bem para as finanças dos teatros de Nova York, o final de semana acabou sem que houvesse nem sequer uma previsão de negociação. "As apresentações estão suspensas até um novo anúncio", dizia na noite de domingo um lacônico comunicado afixado na porta do teatro onde era exibido o musical "Chicago", hype do momento após o filme homônimo, adaptação da peça da Broadway, ter obtido 13 indicações para o Oscar.


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