São Paulo, sábado, 11 de março de 2006

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Sob o signo materno


Marisa Monte lança dois CDs, um pop e outro de samba, marcados por suavidade que ela atribui ao fato de ter se tornado mãe

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Explicar o todo pela parte é uma tentação perigosa, mas difícil de resistir. A primeira estrofe de "Quatro Paredes" tem muito do clima dos dois CDs que Marisa Monte está lançando, os primeiros em quase quatro anos -desde "Os Tribalistas":
"Eu só não te convido pra dançar/ Porque eu quero encontrar com você em particular/ Há tempos tento encontrar um bom momento/ Alguma ocasião propícia/ Pra que eu possa pegar sua mão, olhar nos olhos teus/ Seria bom, quatro paredes, eu, você e Deus."
A música de Marisa, Arnaldo Antunes e Cézar Mendes está em "Universo ao Meu Redor", que seria o "disco de samba", com 14 faixas. O outro, com 13, chama-se "Infinito Particular", e poderia ser o "disco pop". Eles são vendidos separadamente.
Mas ambos têm em comum uma eloqüente suavidade, uma distância das baladas dançantes e da figura de popstar que Marisa construiu em 16 anos de carreira. A parte com dimensão de todo que ajuda a explicar a mudança tem nome e idade: Mano Wladimir, três anos.

Leveza
"Estou mais madura, tranqüila. Os discos refletem esse tempo que a maternidade me deu. A maternidade é transformadora, muda tudo. E as mudanças são para melhor. Revendo os meus DVDs, a minha atitude com 20, 23 anos, vejo uma evolução", diz Marisa, 38. Mãe dedicada e delicada, a menina não dança mais -ou não dança agora. Daí o significado de "Eu só não te convido pra dançar etc.". Mas acredita que esteja mais menina do que nunca.
"São os discos mais leves e femininos que eu já fiz. Não tem mesmo a preocupação de ser dançante. São discos de menina, com canções delicadas, suaves", acalma ela.
O vestido florido usado na entrevista e o sorriso constante no rosto emolduram o discurso da delicadeza. Ainda mais quando ela, diva às avessas, sugere ao fotógrafo fazer a foto na rua, e não em uma sala à prova de assédio.
Ou quando, para responder a uma pergunta sobre o instrumento japonês koto, usado em "Pelo Tempo que Durar" (Adriana Calcanhotto/Marisa), desenha para o repórter o berço-cama que o marido, Pedro Bernardes, criou para o filho. Das cordas musicais que cercam o móvel surgiu a sonoridade da faixa.
Mas é uma leveza sustentada por um profissionalismo difícil de se igualar na música brasileira: privacidade resguardada, entrevistas só em épocas de lançamentos e aversão a discos que façam coletâneas de suas canções.
Na hora de pensar em arranjadores para "Infinito Particular", ela buscou logo nomes de primeira linha internacional: Philip Glass, Eumir Deodato e João Donato. "Chamar um cara que nunca ouviu falar de mim já me dá uma preguiça enorme", diz ela, altiva com jeito simples.
A mãe e a profissional estão unidas na origem do projeto duplo. Ao passar um ano e meio em casa, amamentando e criando o filho, Marisa digitalizou seu acervo de cem fitas cassete, recheadas de encontros raros (com Tim Maia, Renato Russo, Cássia Eller...), canções já concluídas e idéias que andavam perdidas. Estas estimularam faixas e o conceito de "Infinito Particular".
"É um disco de autora como nunca fiz. Todas as músicas são minhas, com parceiros", ressalta.


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