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Sob o signo materno
Marisa Monte lança dois CDs,
um pop e outro de samba, marcados por suavidade que ela atribui ao fato de ter se tornado mãe
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LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Explicar o todo pela parte é uma
tentação perigosa, mas difícil de
resistir. A primeira estrofe de
"Quatro Paredes" tem muito do
clima dos dois CDs que Marisa
Monte está lançando, os primeiros em quase quatro anos -desde "Os Tribalistas":
"Eu só não te convido pra dançar/ Porque eu quero encontrar
com você em particular/ Há tempos tento encontrar um bom momento/ Alguma ocasião propícia/
Pra que eu possa pegar sua mão,
olhar nos olhos teus/ Seria bom,
quatro paredes, eu, você e Deus."
A música de Marisa, Arnaldo
Antunes e Cézar Mendes está em
"Universo ao Meu Redor", que
seria o "disco de samba", com 14
faixas. O outro, com 13, chama-se
"Infinito Particular", e poderia ser
o "disco pop". Eles são vendidos
separadamente.
Mas ambos têm em comum
uma eloqüente suavidade, uma
distância das baladas dançantes e
da figura de popstar que Marisa
construiu em 16 anos de carreira.
A parte com dimensão de todo
que ajuda a explicar a mudança
tem nome e idade: Mano Wladimir, três anos.
Leveza
"Estou mais madura, tranqüila.
Os discos refletem esse tempo que
a maternidade me deu. A maternidade é transformadora, muda
tudo. E as mudanças são para melhor. Revendo os meus DVDs, a
minha atitude com 20, 23 anos,
vejo uma evolução", diz Marisa,
38. Mãe dedicada e delicada, a
menina não dança mais -ou não
dança agora. Daí o significado de
"Eu só não te convido pra dançar
etc.". Mas acredita que esteja mais
menina do que nunca.
"São os discos mais leves e femininos que eu já fiz. Não tem mesmo a preocupação de ser dançante. São discos de menina, com
canções delicadas, suaves", acalma ela.
O vestido florido usado na entrevista e o sorriso constante no
rosto emolduram o discurso da
delicadeza. Ainda mais quando
ela, diva às avessas, sugere ao fotógrafo fazer a foto na rua, e não
em uma sala à prova de assédio.
Ou quando, para responder a
uma pergunta sobre o instrumento japonês koto, usado em "Pelo
Tempo que Durar" (Adriana Calcanhotto/Marisa), desenha para o
repórter o berço-cama que o marido, Pedro Bernardes, criou para
o filho. Das cordas musicais que
cercam o móvel surgiu a sonoridade da faixa.
Mas é uma leveza sustentada
por um profissionalismo difícil de
se igualar na música brasileira:
privacidade resguardada, entrevistas só em épocas de lançamentos e aversão a discos que façam
coletâneas de suas canções.
Na hora de pensar em arranjadores para "Infinito Particular",
ela buscou logo nomes de primeira linha internacional: Philip
Glass, Eumir Deodato e João Donato. "Chamar um cara que nunca ouviu falar de mim já me dá
uma preguiça enorme", diz ela, altiva com jeito simples.
A mãe e a profissional estão unidas na origem do projeto duplo.
Ao passar um ano e meio em casa,
amamentando e criando o filho,
Marisa digitalizou seu acervo de
cem fitas cassete, recheadas de encontros raros (com Tim Maia, Renato Russo, Cássia Eller...), canções já concluídas e idéias que andavam perdidas. Estas estimularam faixas e o conceito de "Infinito Particular".
"É um disco de autora como
nunca fiz. Todas as músicas são
minhas, com parceiros", ressalta.
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