São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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BIA ABRAMO

Gilberto Braga volta com novela vibrante


A "Paraíso Tropical" que estamos vendo dura até quando? Até o fatídico capítulo 70?

É nessas primeiras semanas que uma novela tem algum tipo de autoria, quando ainda não sofre a pressão do público e dos misteriosos desígnios superiores que a vão tornando reiterativa, arrastada, pontilhada por truques para subir audiência.
Autoria aqui tem um significado modesto: tem a ver com as concepções de seus autores, sim, mas também com os outros profissionais, sobretudo diretores e atores, que também contribuem para o empreendimento.
A "Paraíso Tropical" que estamos vendo por enquanto -e veremos mais quanto? Duas, três semanas? Até o fatídico capítulo 70?- ainda é essa novela em que cada detalhe obedece a um plano geral, a forma dos personagens se anuncia em diálogos e gestos bem cuidados e, importante, as expectativas do público ainda não são capazes de mudar os rumos da trama. E, claro, sendo uma novela com o dedo de Gilberto Braga, isso significa uma narrativa vibrante e bem amarrada, com algumas pitadas de ousadia criativa bem ao seu estilo.
Se há um certo exagero em compará-lo a Balzac, não haverá em afirmar que ele é o noveleiro que melhor explora as possibilidades autorais do formato, ao mesmo tempo em que tenta esticar seus limites.
Assim, "Paraíso Tropical" começa com uma peraltagem metalinguística -a personagem mais tradicional, a anacrônica cafetina "do bem" das novelas "nordestinas", não por caso batizada como a mítica "mulher de verdade", Amélia, é morta logo nos primeiros capítulos. Sinal de que a "velha" novela, aquela que fez a história da Globo, esgotou suas temáticas por decurso de prazo, não tem mais lugar.
O mundo do trabalho, representado pela rede de hotéis de Antenor, é um mundo instável, à beira de ruir, no qual convivem a mais fria racionalidade empresarial com as relações pessoais autoritárias, irracionais e permeada por relações de favor.
O bairro da vez é a cosmopolita, decadente, diversa e, sim, ainda estonteantemente bela Copacabana, espécie de território fronteiriço entre informalidade e franca marginalidade. E, ainda por cima, numa inversão bem-vinda nos tempos modernos, é a mocinha determinada que salva um mocinho fragilizado.
Claro que também há a convenção, mas a diferença de Braga para a maioria de seus pares é que ele ainda supõe que o espectador gosta de acompanhar o desenrolar da trama e, mais, que isso merece do texto, dos diálogos, dos atores e da direção uma narrativa mais encadeada e coesa, Ou seja, ainda prefere uma história bem contada à simples exposição a cenas de impacto.
É, portanto, aproveitar a novela ainda nesse estágio -e torcer para que o afrouxamento que ralentou o passo de "Celebridade" e transformou a heroína da história, a personagem Maria Clara, numa chata irredimível não se instale desta vez.

biaabramo.tv@uol.com.br


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