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BIA ABRAMO
Gilberto Braga volta com novela vibrante
A "Paraíso Tropical"
que estamos vendo
dura até quando? Até
o fatídico capítulo 70?
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É nessas primeiras semanas que
uma novela tem algum tipo de
autoria, quando ainda não sofre a pressão do público e dos misteriosos desígnios superiores que a vão tornando reiterativa, arrastada, pontilhada por truques para subir audiência.
Autoria aqui tem um significado modesto: tem a ver com as concepções de
seus autores, sim, mas também com os
outros profissionais, sobretudo diretores e atores, que também contribuem para o empreendimento.
A "Paraíso Tropical" que estamos
vendo por enquanto -e veremos mais
quanto? Duas, três semanas? Até o fatídico capítulo 70?- ainda é essa novela em que cada detalhe obedece a um plano geral, a forma dos personagens
se anuncia em diálogos e gestos bem
cuidados e, importante, as expectativas do público ainda não são capazes
de mudar os rumos da trama. E, claro,
sendo uma novela com o dedo de Gilberto Braga, isso significa uma narrativa vibrante e bem amarrada, com algumas pitadas de ousadia criativa bem ao
seu estilo.
Se há um certo exagero em compará-lo a Balzac, não haverá em afirmar
que ele é o noveleiro que melhor explora as possibilidades autorais do formato, ao mesmo tempo em que tenta esticar seus limites.
Assim, "Paraíso Tropical" começa
com uma peraltagem metalinguística
-a personagem mais tradicional, a
anacrônica cafetina "do bem" das novelas "nordestinas", não por caso batizada como a mítica "mulher de verdade", Amélia, é morta logo nos primeiros capítulos. Sinal de que a "velha"
novela, aquela que fez a história da
Globo, esgotou suas temáticas por decurso de prazo, não tem mais lugar.
O mundo do trabalho, representado
pela rede de hotéis de Antenor, é um
mundo instável, à beira de ruir, no qual
convivem a mais fria racionalidade
empresarial com as relações pessoais
autoritárias, irracionais e permeada
por relações de favor.
O bairro da vez é a cosmopolita, decadente, diversa e, sim, ainda estonteantemente bela Copacabana, espécie de território fronteiriço entre informalidade e franca marginalidade.
E, ainda por cima, numa inversão
bem-vinda nos tempos modernos, é a
mocinha determinada que salva um
mocinho fragilizado.
Claro que também há a convenção,
mas a diferença de Braga para a maioria de seus pares é que ele ainda supõe
que o espectador gosta de acompanhar
o desenrolar da trama e, mais, que isso
merece do texto, dos diálogos, dos atores e da direção uma narrativa mais
encadeada e coesa, Ou seja, ainda prefere uma história bem contada à simples exposição a cenas de impacto.
É, portanto, aproveitar a novela ainda nesse estágio -e torcer para que o
afrouxamento que ralentou o passo de
"Celebridade" e transformou a heroína da história, a personagem Maria
Clara, numa chata irredimível não se
instale desta vez.
biaabramo.tv@uol.com.br
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