São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

Com Leone, o mundo roda ao contrário

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Onde já se viu: um autor italiano que vai aos EUA rodar um faroeste! Com efeito, o mundo roda ao contrário, em "Era uma Vez no Oeste" (Telecine Cult, 22h). Sergio Leone já havia inventado o "western spaghetti", uma suprema heresia em que italianos reconstituíam o Velho Oeste, em geral na Espanha ou com atores de segunda linha ou então em final de carreira.
Mais do que isso: já não se trata de imitar o velho e bom faroeste americano. Tomemos a primeira seqüência de "Era uma Vez": três pistoleiros esperam, na estação, pela chegada de um trem. Ninguém fala. Até que o trem chega, trazendo "a vítima". Ok, a cena não é em si original. Mas o tempo que Leone lhe imprime, sim. Cada movimento, cada aspecto da paisagem parece ter um peso.
Tudo o que vem a seguir parece corroborar essa impressão. O faroeste é um gênero épico, sem dúvida, mas o épico de Leone é diferente: tem um quê romano, um ar de Maciste, uma grandeza do passado.
Neste filme sentimos menos aquela sensação que outros faroestes de Leone proporcionam, de estarmos diante de um território de sonho. Ou seja: o Oeste já não é uma experiência direta (de americanos às voltas com o mito da América), mas com cinéfilos que vivenciam aquela mitologia intensamente. Leone desta vez pôs os pés na América, como um invasor disposto não à bárbara pilhagem, mas à saudável troca. Obra-prima.


Texto Anterior: Bia Abramo: Gilberto Braga volta com novela vibrante
Próximo Texto: Novelas da semana
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.