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Crítica
Com Leone, o mundo roda ao contrário
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Onde já se viu: um autor italiano que vai aos EUA rodar um
faroeste! Com efeito, o mundo
roda ao contrário, em "Era
uma Vez no Oeste" (Telecine
Cult, 22h). Sergio Leone já havia inventado o "western spaghetti", uma suprema heresia
em que italianos reconstituíam
o Velho Oeste, em geral na Espanha ou com atores de segunda linha ou então em final de
carreira.
Mais do que isso: já não se
trata de imitar o velho e bom
faroeste americano. Tomemos
a primeira seqüência de "Era
uma Vez": três pistoleiros esperam, na estação, pela chegada de um trem. Ninguém fala.
Até que o trem chega, trazendo
"a vítima". Ok, a cena não é em
si original. Mas o tempo que
Leone lhe imprime, sim. Cada
movimento, cada aspecto da
paisagem parece ter um peso.
Tudo o que vem a seguir parece corroborar essa impressão. O faroeste é um gênero
épico, sem dúvida, mas o épico
de Leone é diferente: tem um
quê romano, um ar de Maciste,
uma grandeza do passado.
Neste filme sentimos menos
aquela sensação que outros faroestes de Leone proporcionam, de estarmos diante de um
território de sonho. Ou seja: o
Oeste já não é uma experiência
direta (de americanos às voltas
com o mito da América), mas
com cinéfilos que vivenciam
aquela mitologia intensamente. Leone desta vez pôs os pés
na América, como um invasor
disposto não à bárbara pilhagem, mas à saudável troca.
Obra-prima.
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